13 de março, de 2021 | 08:26

Professor em extinção

Walber Gonçalves de Souza *

Ser professor no Brasil não é uma missão fácil. Vários fatores poderiam ser listados para encorpar tal afirmação, desde desvalorização por boa parte da sociedade, que não vê a educação com os olhos que deveria, até os salários não condizentes com a profissão. Enfim, como já mencionado são inúmeros os fatores.

Mas nesse artigo, quero focar exclusivamente em um: a formação do professor, como ele se prepara, para no futuro, estar em uma sala de aula.

Historicamente, salvo em pouquíssimos períodos, sabemos que a profissão professor sempre foi desacreditada e desvalorizada, por isso não era preciso dar a ela o aparato formativo que verdadeiramente ela merece.

Durante décadas era comum que as faculdades que formavam professores funcionassem poucos dias por semana. Mas, com a obrigatoriedade da universalização do ensino, formar professores se tornava ainda mais necessário e isso, de fato ocorreu. Várias faculdades brotaram em diversos cantos do país. Mas a questão era: como o professor e com qual rigor científico e pedagógico ele era formado? Será que realmente estaria preparado para exercer com dignidade a escolha feita?

O tempo passou, iniciamos a terceira década do terceiro milênio, e o que vemos? Os professores continuam sendo malformados, uma legião de gente com um canudo na mão e despreparada para executar sua missão profissional.
A virtualização do ensino, e sua consequente banalização, enraizou-se na formação dos docentes. Os números não mentem ao afirmarem que a cada dia mais pessoas possuem curso superior no Brasil. Gente formada no magistério temos aos milhares, mas cadê o Professor, com “P” maiúsculo? Cadê aquele individuo detentor do conhecimento que se especializou para transmitir o que aprendeu? Esse sim, parece estar em extinção.

Vivemos um mundo acadêmico do faz de contas, volto a repetir, salvo raras exceções, muito mais pessoal, do que coletiva. A lógica impetrada pelo Ministério da Educação, que vem se arrastando há décadas, nada mais é do que um verdadeiro mundo do faz de contas educacional na formação docente. Basta analisar todos os indicadores que avaliam a educação brasileira.

Qual o resultado de tudo isso? Uma ciranda da ignorância sem fim. Pois um professor malformado, que não sabe, que não domina seu conteúdo, nunca conseguirá estimular e ensinar. Nunca terá conhecimento do seu papel social, da sua importância para a construção da cidadania e principalmente, a consciência do seu papel profissional.

Seja qual for a profissão, a medida entre o bem e/ou o mal que ela faz para as pessoas é uma linha muito tênue. E com certeza o professor bem formado e um malformado faz toda a diferença no processo educacional.

A intenção desse texto é buscar alertar para a necessidade de uma formação sólida para os docentes. Não podemos mais continuar brincando na formação dos professores. Isso é o mesmo que assinar um atestado de eterno subdesenvolvimento, para não afirmar outras coisas.

* Professor e escritor.
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Comentários

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Gildázio Garcia Vitor

13 de março, 2021 | 20:06

“O problema não se restringe apenas à graduação, começa com a origem dos candidatos à docência. A maioria dos professores viemos do meio rural e/ou das periferias, de famílias com baixo poder aquisitivo e intelectual, sem acesso a livros, jornais e revistas; oriundos de escolas públicas de qualidade duvidosa e curso superior em faculdades particulares que estão preocupadas apenas em receber as mensalidades e, para piorar o que sempre foi ruim, os cursos hoje são oferecidos na modalidade EaD. Para mim, com mais de 38 anos dedicados ao Magistério, à sala de aula e ao quadro-branco, do bendito pincel, não acredito em solução, nem a longo prazo, para esses problemas relacionados à nossa formação.”

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