09 de fevereiro, de 2021 | 11:14

Quem escolheu o seu nome?

João Paulo Xavier *


Como você se chama? Por que esse é o seu nome? Quem escolheu esse nome para você? Personagens de novelas ou filmes, homenagens aos artistas ou às celebridades, nomes que estão badalados e muito usados naquele ano, nomes bíblicos, nomes que supostamente trazem boas energias ou carreiam significados bonitos ou espiritualizados etc., são alguns dos vários motivos que influenciam, até hoje, a escolha dos nomes das pessoas.

Não poderia deixar de citar aquele nome que sempre está conosco e que, de repente, sonhamos em chamar por ele nosso rebento. Há escolhas feitas ao acaso ou que foram frutos da criatividade dos pais. Semana passada, fiz as perguntas do início deste texto aos meus seguidores no instagram e as respostas provaram tudo isso que disse acima.

Um amigo, Renato, disse que seu nome fora escolhido devido ao significado, renascimento/renascido. A mãe de Sofia Arce era fã da atriz e cantora Sophia Loren. A bisavó paterna de Alexandra Padilha também se chamava Alexandra e era filha de poloneses que vieram para o Brasil no fim do século XIX.

Luana trouxe uma explicação bem prática, a escolha de seu nome foi feita com o intuito de combinar com o nome de sua irmã Juliana. A mãe da minha amiga Luciana Freitas conheceu o nome por causa da filha do Roberto Carlos, de quem era fã.

Para uma outra amiga, o nome Sabrina havia sido escolhido, mas na hora de registrar, o pai dela trocou por Priscila. Perguntei a Simone se seu nome havia sido escolhido devido a Simone de Beauvoir, escritora, intelectual, feminista e teórica social francesa.

A resposta foi bem brasileira: “Não. Por causa da Simone de Selva de Pedra, mesmo!” A união das famílias de Ester Antonieta foi a homenagem que resultou em seu nome. Ester era a sua avó materna e Antonieta a paterna. A mãe de um amigo se chamava Rosa e seu avô Ludugero, então juntaram “Ro” de Rosa + “gero” de Ludugero e meu amigo Rogério foi registrado.

A mãe de Júlia assistiu um filme chamado ‘Júlia’, adorou a personagem, a história e o nome lhe foi dado. Inclusive, sua mãe também respondeu ao meu post, Elzimar. Ela me contou que seu nome está enraizado no nome e na história da própria mãe, Dona Elza.

Por fim, outra amiga me contou que se chamaria Driele, no entanto, na hora de registrá-la, o seu pai se esqueceu qual havia sido o nome escolhido por sua esposa, à época, então, decidiu registrá-la como Erika, pois esse era o nome de sua ex-namorada e ele gostava muito do nome.

Ri com respeito e, por eu ter tido uma mãe bem brava, perguntei, em seguida, se ela chegou a conhecer o pai. Enfim, nossos nomes arrastam histórias atreladas a eles. Algumas são belas homenagens ou interessantes resultados da criatividade humana.

Saber os porquês da escolha do nosso nome é tão importante quanto conhecer quem realmente somos, quais são as nossas qualidades e defeitos, habilidades e limitações e, principalmente, as nossas origens. Nosso nome revela parte do que temos construído.

No meio acadêmico, quando utilizamos as pesquisas ou os materiais produzidos por alguém, citamos o sobrenome e a data. Será que é mera burocracia ou será que pelo fato de grande parte do que fazemos hoje ser fruto do acúmulo de experiências e leituras de mundo que fizemos desde o seio da nossa família até a nossa vida pública?

“Fazer um nome” é compreendido como sinônimo de ter sucesso ou alcançar algum prestígio, mas e quem não “fez um nome para si”, significa que essa pessoa não tem valor ou que suas opiniões e contribuições, mesmo que singelas, não valem nada?

Não. Nossa relevância não está, necessariamente, no reconhecimento das pessoas ou no valor que atribuem ao que dizemos ou fazemos. Nosso nome é única coisa que temos e que ninguém pode nos tirar. Ele nos apresenta, mas não nos limita e nem representa tudo que somos.

Estar com o “nome sujo” é a realidade de mais de 60 milhões de brasileiros, mas o que é um nome limpo? Um nome que não tem dívidas e, portanto, pode receber crédito, seria uma resposta simplista, pois como podemos olhar para as pessoas que se envolvem em escândalos ou que nos roubam, traem e, por isso, perdem a nossa confiança?

Poderíamos dizer que elas estão com o nome sujo mesmo quando elas não têm dívidas e não estão protestadas no SPC/Serasa? Eu me chamo João Paulo, mas essa informação não é novidade para você. Eu me chamo João Paulo porque o meu pai se chamava João, também, e na década do meu nascimento, o Papa João Paulo II fez a primeira visita ao Brasil.

Meus cachorros se chamam Alcione, Tim Maia, Seu Jorge, talvez seja porque eu goste de música. Minha gatinha se chama Maya Angelou, talvez porque eu goste de poesia. As respostas e os porquês nunca são estáticos, pois as nossas identidades são cambiantes. Estamos em constante evolução.

Melhoramos certos aspectos, amadurecemos e superamos dificuldades e nos tornamos mais complexos para umas questões ou mais práticos para outras. O que importa é que nosso nome não cessa de derreter diante dos nossos olhos. Não somos uma coisa só. Somos uma interseccionalidade de discursos que performamos e que atravessam as nossas existências à medida em que nos relacionamos e estabelecemos conexões com aqueles ao nosso redor. Não estamos finalizados e arrematados. “Nós somos um canteiro de obras em que nós mesmos trabalhamos” - quem disse isso foi alguém cujo nome nunca poderei esquecer, minha mãe.

*Doutor em Estudos Linguísticos – Pesquisador e Professor efetivo do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG) instagram: @nazareorientadora
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Comentários

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Leticia Neves

09 de fevereiro, 2021 | 21:00

“Que delícia este texto! Ri da história do pai que registrou a filha com o nome da ex. hahahahaha”

Marcella Pessoa

09 de fevereiro, 2021 | 13:09

“Bacana e muito interessante seu texto professor, parabéns!
Realmente somos um ser em construção, e, talvez algo que representou nosso nome aos nossos pais ou responsáveis faça parte da nossa identidade... ainda bem q não é regra... pq precisamos evoluir sempre!”

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