02 de fevereiro, de 2021 | 17:46

Corpo de humorista é sepultado em Ipatinga

Francismar Vasconcelos estava internado e morreu devido a complicações em decorrência da covid-19

O corpo do ator e humorista Francismar Vasconcelos foi sepultado na tarde desta terça-feira (2), no cemitério Parque Senhora da Paz, no bairro Veneza 2, em Ipatinga. Ele não resistiu às complicações da covid-19 e faleceu na segunda-feira (1). O humorista estava internado havia vários dias no Hospital Municipal de Ipatinga, sedado e intubado, recebendo tratamento dos problemas pulmonares, renais e cardíacos causados pela doença. Era solteiro, morava com a mãe e não deixou filhos, conforme relataram os amigos ao Diário do Aço.

Francismar completaria 62 anos nesta terça-feira, dia 2. Natural de Mutum, na Zona da Mata, veio para Ipatinga ainda jovem, trabalhou na Usiminas e envolveu-se com o movimento sindical. Mas o humor falou mais alto. Seu personagem de maior sucesso foi o compadre Neneco, no espetáculo Showriso, do qual ele participava desde 1990, dividindo os palcos com o também ator e humorista Ademar Pinto Coelho.

Sua morte foi sentida por pessoas ligadas à área cultural do Vale do Aço. “Não tem como mensurar a perda de Francismar, trabalhamos juntos há 55 anos, desde criança mesmo. Para o humor a mesma coisa, porque sempre esteve à frente de todos os movimentos, principalmente humorísticos. Foi assistente de direção, dentre outros cargos, ajudou e possibilitou a formação de inúmeros atores, humoristas e de vários grupos de humor. Só de Showriso foram 30 anos, um espetáculo aberto a improvisações e de grande sucesso”, avaliou o amigo e colega de palco, Ademar.

Incentivador de talentos

Produtora cultural, Marilda Lyra começou sua carreira no teatro, como atriz. Francismar foi um dos responsáveis por seu ingresso aos palcos. “Isso em 1983, fui assistir a um ensaio na Academia Olguim, e ele disse que precisaria de uma atriz para aquele papel, foi aí que comecei. Entrei para a área cultural no ano em que o grupo Boca de Cena foi fundado. Trabalhamos juntos, fizemos mais de 50 apresentações, muito antes de existir o teatro do Centro Cultural. A academia Olguim era nosso teatro”, recorda.

Legado

Para Marilda, a perda de Francismar será sentida pelo setor cultural e por seus amigos. “É uma pessoa que antes do Boca de Cena já tinha uma atuação, batalhou muito pela área cultural da cidade, uma pessoa que esteve conosco na campanha Teatro Já, para construção do teatro e que culminou no Zélia Olguin e Centro Cultural. É lamentável perder pessoas queridas, estamos vivendo dias difíceis. Perdi minha mãe, Maria Ramos Lyra, também por covid, há poucos dias. Nossa comunidade cultural é muito unida e chegamos onde estamos, com um dos melhores teatros de Minas Gerais e um movimento fortalecido graças também a ele. Francismar deixou um legado importante, tenho certeza disso”, conclui.

Teatro

A diretora do Instituto Usiminas, Penélope Portugal, também lamentou a perda do nome das artes no Vale do Aço. Ao lado do seu companheiro de palco nos últimos anos, Ademar Pinto Coelho, Francismar Vasconcelos se apresentou por inúmeras vezes no Centro Cultural Usiminas e Teatro Zélia Olguin, sempre com plateia cheia e calorosa.

“Lamentamos profundamente essa grande perda para a cultura. O ator brilhou nos nossos palcos e teve um importante papel no desenvolvimento cultural local. Além de atuar, era ele o responsável por conferir a técnica do espetáculo Showriso. Lembro que ele fazia questão de perguntar, sempre bem-humorado, se a luz que tiraria a sombra causada pelo seu chapéu estava afinada! De nossa parte, fica a gratidão por tanta alegria deixada por onde ele passou”, afirma a diretora.

Ô luta, hein!

O improviso era a marca da dupla do Showriso. Muitos dos humoristas que o Vale do Aço revelou nos últimos anos tiveram inspiração no Showriso, nos chistes e piadas engraçadas e provocantes da dupla Ademar e Francismar. Tanto nos palcos como pessoalmente era comum que Francismar repetisse sempre: "Ô luta, hein". O bordão era sua marca, onde quer que estivesse.