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29 de novembro, de 2020 | 22:02

Fabricianense de escola pública consegue se formar no ITA e celebra conquista

Arquivo pessoal
Jaqueline Tortora Dias relatou seus desafios durante trajetória acadêmica Jaqueline Tortora Dias relatou seus desafios durante trajetória acadêmica
(Tiago Araújo - Repórter do Diário do Aço)

Sonhar e nunca desistir. Essa sempre foi a filosofia da fabricianense Jaqueline Tortora Dias, de 25 anos, ao longo de sua trajetória nos estudos. Formada em escola pública, em Coronel Fabriciano, Jaqueline conseguiu concluir recentemente o curso de Engenharia Civil do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), que é considerado um dos melhores no país e reconhecido pelo seu grau de dificuldade elevado. A assinatura do diploma dela ocorreu no dia 20 deste mês e agora Jaqueline aguarda sua formatura. Atualmente, a fabricianense mora na capital paulista e trabalha em um banco.

Em entrevista ao Diário do Aço, Jaqueline Tortora relatou sua emoção após conseguir formar no ITA, localizado no município de São José dos Campos, em São Paulo. Ela também apontou os desafios enfrentados durante seu período de estudos, que foram muitos.

Alívio

Conforme Jaqueline, ela concluiu o ensino médio da Escola Estadual Dr. Joaquim Gomes da Silveira Neto, localizada no bairro Caladinho de Cima, em Coronel Fabriciano, que foi fundamental em sua jornada. “Acho que a sensação de todo mundo ao se formar é de alívio e realização. Eu nasci e cresci no bairro Caladinho de Cima e não me lembro de conviver com ninguém que tivesse concluído um curso superior, exceto pelos meus professores da escola pública que eu frequentava. Mas sempre tive muita facilidade nos estudos, e mais que isso, eu adorava o ambiente escolar, porque na minha cabeça a escola sempre foi um refúgio do trabalho duro que enfrentava em casa”, afirmou.

Choque de realidade

Na entrevista, a fabricianense relata que sua batalha para entrar em uma universidade pública começou quando chegou ao ensino médio e percebeu que não iria ser aprovada apenas com o conhecimento que tinha até então. “Infelizmente, há uma diferença gigantesca entre o conteúdo de uma escola particular e de uma pública, não por culpa dos professores, mas por causa de toda a dinâmica de ensino e estrutura”, afirmou.

Cursinho

Ciente que seria necessário estudar muito mais, para ter chance de ser aprovada em uma universidade pública, Jaqueline decidiu procurar um cursinho de pré-vestibular. “Fiz a prova de seleção de um cursinho de Ipatinga e consegui muito pouco desconto e, com isso, não tinha a menor condição de pagar um ano de cursinho. Então, peguei todas as minhas economias e paguei dois meses de estudos, já sabendo que teria que sair, mas por sorte tive bom desempenho e os donos do cursinho me deram a oportunidade de ser monitora de matemática em troca da mensalidade”, contou.

Desafios

Apesar de conseguir um cursinho para estudar, a fabricianense explica que seus desafios estavam só começando. “Foi uma época bem complicada, porque eu estudava na escola Dr. Joaquim Gomes na parte da manhã, era monitora à tarde e assistia às aulas do cursinho à noite. Muitas vezes não tinha dinheiro para passagem de ônibus. E durante o meu terceiro ano do ensino médio, perdi minha mãe por causa de um câncer. Teve muitos dias que ia para escola, sentava na última cadeira e chorava a aula inteira. Eu sentia muita raiva de não ter condições financeiras de ajudar minha mãe e o pensamento de que faltava tudo em casa era muito forte na minha cabeça”, lembra.

Promessa

Após a perda, Jaqueline Tortora decidiu que iria fazer qualquer coisa para ter melhores condições financeiras, sendo que já havia prometido para sua mãe que iria passar nas melhores faculdades do Brasil. “Durante o ano de cursinho em Ipatinga, comecei a me interessar muito pelos vestibulares militares por dois motivos: moradia e comida gratuita durante toda a graduação, o que já resolvia bem a minha vida. Além disso, recebe-se um salário para estudar durante o primeiro ano de faculdade. Dessa forma, me formei no ensino médio, em 2012, encerrei o cursinho que já fazia e fui em busca de outro voltado para os vestibulares militares”, contou.

Bolsa integral

Com 17 anos, a fabricianense foi sozinha para o Rio de Janeiro fazer a prova de bolsa de um cursinho que é um dos que mais aprovam no ITA, e que tem as aulas ministradas em São José dos Campos (SP). “Consegui 90% de desconto na mensalidade, mas depois me deram a bolsa integral. Com isso, me mudei para São José dos Campos e comecei morando de favor em uma pensão. Depois tive uma amiga que me deixou morar no apartamento dela praticamente de graça, e depois morei na casa do meu namorado. Estudava mais de 60 horas por semana, fora a carga horária de aulas. A minha vida era o estudo. Além disso, tinha semana que passava com um único pacote de biscoito recheado e um pacote de macarrão instantâneo. Eu chorava de fome. Lembro de ligar para o meu pai e pedir R$ 50, mas muitas vezes ele não tinha. Foi uma época muito difícil, mas muita gente me ajudou”, relatou.

Aprovação e estudos

Jaqueline lembra de uma vez em que um advogado do seu pai, que o ajudava em seu processo de aposentadoria (que até hoje não conseguiu), falou para ela que nunca iria passar no ITA. “Ele me disse que lá era lugar de gênio, mas mesmo assim, consegui ser aprovada no ITA e em outras faculdades de destaque. Das 160 vagas para o Brasil, com mais de 20 mil candidatos, uma das vagas foi a minha. Na minha turma do ITA, menos de 5% dos alunos eram de escola pública, como eu. E após ser aprovada, tive problemas com a administração por ser uma das poucas alunas que precisou trabalhar. Além disso, meu pai descobriu um câncer quando eu estava no meio da minha graduação. Tive que parar de estudar por um tempo para ajudá-lo em casa, e depois retornei com os estudos e consegui me formar”, afirmou.

Assinatura do diploma

No dia 20 deste mês, Jaqueline Tortora assinou seu diploma de conclusão do curso de Engenharia Civil e se sentiu realizada. “Eu tremia, suava, ria e chorava muito. Foi um esforço descomunal. Em vários momentos tomei remédio para depressão e perdi boa parte do meu cabelo devido ao estresse intenso. Estudava muitas horas e enfrentei jornadas de trabalho intensas durante esse período acadêmico. No ITA não se pode ir mal em prova, porque é expulso. Tive muitos amigos que foram desligados do instituto. Portanto, não tenho palavras para descrever como foi sofrido esse diploma”, salientou.

Futuro

Agora que está formada, Jaqueline conta que pretende ir para Nova Iorque, nos Estados Unidos, pois o banco americano em que trabalha, na capital paulista, oferece treinamento para todos os seus analistas de primeiro ano nos EUA. “No momento, acho que o único plano que tenho em mente é continuar me esforçando para dar para a minha família a vida que eu não tive. Pagar um plano de saúde que nunca tivemos. Tentar sempre ser uma pessoa melhor. Aprender muito e ajudar sempre que possível. Portanto, não adianta ficar se lamentando, tudo que você coloca o seu esforço, vai gerar resultados. A vida é uma batalha. Tem que continuar lutando sempre”, concluiu.
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Comentários

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Pantaleão

29 de dezembro, 2020 | 12:49

“Parabéns, Jaqueline e Família. Exemplo nota mil. Vocês conseguiram uma vitória que poucos conseguirão. Sou professor do EM no município que você morou. Nossa educação está em decadência nos fundamentais I e II.Não pode-se mais exigir dos alunos, o mínimo do básico. O início de tudo. Então, vocês são herois. Sucessos minha jovem. Vocês merecem.”

Virginia Ferro

05 de dezembro, 2020 | 08:54

“Uau!!! Parabéns !!! Você é um exemplo de persistência, de determinação. Foi uma trajetória sofrida, mas hoje você pode se orgulhar por sua conquista, e desejo que seja feliz e realize seus sonhos profissionais e pessoais.
Eu também sou engenheira, formada na UFPe em 1977, quando mudei para São José dos Campos.”

Fernando Martins Franco

04 de dezembro, 2020 | 21:57

“Parabéns, Jaqueline! Sou Engº Aeronáutico da T69 e me sustento desde os 10 anos de idade. Concorri e ganhei bolsa de estudos integral da FGV para curso de 8 anos no seu Colégio Nova Friburgo (RJ).
Depois fiz cursinho em São Carlos-SP, quando me sustentava com os prêmios por classificação.
Entrei no ITA em 1965 onde tampouco pagava. Em 1967 passei a trabalhar no projeto e construção do Bandeirante e, assim, podia pagar pelas despesas pessoais.
Me identifiquei com sua história, embora não tenha tido infortúnios familiares. Seu mérito é bem maior que o meu! Muito sucesso!”

Paulo Edmur Pollini

04 de dezembro, 2020 | 15:07

“Parabéns!!! Tenho exata noção de que foi sua luta, pois minha história é extremamente semelhante à sua.
Sua família e o Brasil certamente muiito se beneficiarão com o seu trabalho.
Paulo Edmur Pollini
Eletrônica - Turma 63.”

Venâncio - Itabirano - Ita 78

04 de dezembro, 2020 | 14:24

“*C.D.A.*
"No meio do caminho tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
Tinha uma pedra
No meio do caminho tinha uma pedra" ....
Grande guerreira.
Parabéns à Jackeline. Conseguiu remover a pedra (*ITA* é *pedra* em Tupi Guarani) que estava no meio de seu caminho.”

Antonio Tyla

04 de dezembro, 2020 | 11:58

“Parabéns Jaqueline.
Desejo que a sua vida seja pontilhada de sucessos.
Você demonstrou ter garra para isto.
Abraços de Engenheiro ITEANO que compartilha o seu orgulho.”

Gilmar Alves Siqueira

02 de dezembro, 2020 | 09:26

“Parabéns Jackeline sua história é maravilhosa.
Quando fui fazer o teste para o centro de formação da Usiminas me falaram que também não conseguiria pois era muita gente pra poucas vagas,isto aumenta muito a vontade de passar,e passei.”

Daniel

01 de dezembro, 2020 | 19:42

“Parabens Jaqueline Dias pela historia de successos e vitorias”

Anônimo

30 de novembro, 2020 | 12:44

“Que história de vida linda, te parabenizo pela seu esforço, perseverança e dedicação!!!”

Marcos Guimarães

29 de novembro, 2020 | 21:28

“Parabéns!
Não é facil superar as pedras no caminho e conseguir ser alguém no Brasil.
Sou safra desta Escola e consegui me formar Técnico em Manutenção de Aeronaves após aprovação em Banca da ANAC.
A Escola Dr.Joaquim Gomes é discriminada por muita gente, mas está repleta de bons alunos, meninos e meninas que sonham com um futuro sólido.
Nossas Autoridades deveriam olhar com maior atenção para a Escola Pública, existem milhares de talentos escondidos ali, mas são mal aproveitados e acabam sendo marginalizados.
"Um homem com um objetivo tem um barco na cabeça e uma bússola no coração, por isto não há tempestade que o afunde ou lhe tire do rumo certo." ( Thomas Merthon)”

Fabia Ceila

29 de novembro, 2020 | 19:49

“Parabéns Jaqueline,pelo esforço e determinação! muito sucesso em sua trajetória, você é uma guerreira,nos enche de Orgulho, será inspiração para outros jovens!!
Sonharve nunca desistir!!!!
Deus abençoe e ilumine os seus passos!!”

Gildázio Garcia Vitor

29 de novembro, 2020 | 16:07

“Parabéns garota! Espero que esta seja a primeira de muitas conquistas; e que as próximas sejam menos sofridas.”

Maria

29 de novembro, 2020 | 15:51

“Parabéns!!! Não existe obstáculos para quem tem fé , força e determinação. Este e apena o início de grandes vitórias. Seja feliz!!”

Ricaom

29 de novembro, 2020 | 15:18

“Parabéns Jaqueline! Você é uma grande guerreira e inspiração para muitos jovens estudantes. Que Deus te abençoe em sua caminhada e desejo muito sucesso em seus projetos. New York te espera vá em frente.”

Luiz

29 de novembro, 2020 | 12:10

“Parabéns Jaqueline!!!
Continue firme nessa difícil batalha de estudar, trabalhar e outros afazeres mais... em breve colherá os frutos dessa árdua batalha... Deus esteja contigo e abençoe sua carreira. Fico muito feliz ao ver pessoas como você que não tiveram a mesma oportunidade que outros tiveram e chegar onde esta, isso sim é de muito orgulho e alegria, e prova que com esforço e dedicação tudo é possível... Felicidades!!!”

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