14 de novembro, de 2020 | 13:00

Dança dos técnicos

Fernando Rocha

Divulgação
Fernando RochaFernando Rocha
A dança das cadeiras de técnicos, que sacudiu o futebol brasileiro na última semana, trouxe à tona uma velha discussão sobre a ética nas relações entre estes profissionais e os clubes.

Entre as principais mudanças, o argentino Eduardo Coudet, sem nenhum pudor, trocou o líder do Brasileirão, o Internacional, pelo Celta de Vigo, na Espanha; Marcelo Chamusca, que havia recusado recentemente uma proposta do Cruzeiro, deixou o Cuiabá no mesmo dia do jogo com o Grêmio pela Copa do Brasil e acertou com o Fortaleza.

Mas o maior destaque foi a demissão do técnico do Flamengo, Domènec Torrent, após a goleada de 4 x 0 sofrida para o Atlético, logo substituído por Rogério Ceni, que estava empregado no Fortaleza.

No último caso, vários fatores fizeram aumentar o burburinho, críticas e as mais difusas reações, sobretudo pelo fato de Rogério Ceni ter deixado o Fortaleza ano passado para assumir o Cruzeiro, onde acabou derrubado pelos “medalhões” do time, tendo voltado com o rabo entre as pernas ao mesmo lugar de onde não deveria ter saído.

Acolhido pelo tricolor cearense, reforçou a sua condição de ídolo da torcida, ao prometer que jamais faria isso de novo, mas agora repetiu a desfeita, saindo para ganhar mais dinheiro e projeção no Flamengo, o clube de maior torcida e receitas no país.

Todos culpados
Nesse filme pastelão não há mocinho, todos são culpados, clubes, técnicos e torcedores, que pedem a cabeça dos treinadores diante da primeira turbulência por maus resultados, sem considerar o conjunto da obra que leva ao fracasso, como a falta de tempo para implantar o trabalho, em razão do calendário maluco, agora agravado pela pandemia do novo coronavírus.

O técnico de um clube grande não é um profissional qualquer. No dia a dia, sofre forte pressão de todos os lados, toma decisões que mexem com o patrimônio físico dos clubes e o aspecto emocional de milhões de pessoas, exercendo uma função fundamental e estratégica.

Por isso eles ganham salários milionários, diferentemente dos executivos das grandes empresas privadas, onde tudo acontece após a adoção de cláusulas contratuais rígidas.

Não é difícil resolver o problema da rotatividade dos treinadores, como, por exemplo, proibir que dirijam mais do que um ou dois times no ano, ou em um campeonato; e que os clubes sejam obrigados a pagar os treinadores até o fim da temporada, sob pena de perderem pontos. Mas nenhum dos atores envolvidos quer a solução do problema, pois se beneficiam dessa bagunça atual, onde a ética inexiste e ninguém tem razão.

FIM DE PAPO
• Outro assunto muito discutido foi a ameaça de punição ao técnico do Galo, Jorge Sampaoli, feita pelo tribunal da CBF, por ocupar um camarote do Mineirão, de onde teria passado instruções aos seus comandados na goleada sobre o Flamengo. A legislação não é clara sobre este assunto. Além disso, a maioria dos técnicos de todas as divisões faz a mesma coisa que Sampaoli fez e nunca houve punição.

• Em Tarumirim, minha terra natal, se alguém perguntar por José Geraldo dos Santos, que infelizmente nos deixou em 2010, ninguém saberá informar. Mas se disser o apelido dele, “Tira-Gosto”, todos com 40 anos de idade ou mais vão dizer imediatamente que ele foi o maior meio-campista amador do antigo “Estádio dos Aflitos”, vestindo o manto alvirrubro do nosso glorioso América. “Tira-Gosto” jogava de cabeça erguida, semelhante ao volante Andrade, que fez sucesso no Flamengo de Zico dos anos 1980. Sua principal característica era não errar passes e, pasmem, só jogava descalço.

• Num desses jogos festivos, contra o Esporte Clube Caratinga, o técnico “Seu Quincas” insistiu muito e “Tira-Gosto” resolveu experimentar jogar calçado com o par de chuteiras novinhas, presenteadas pelo então prefeito e grande desportista, Dr. Afrânio Bomfim. A bola rolou e “Tira-Gosto” não conseguia andar em campo, incomodado com o novo pisante. O América já perdia de 2 x 0 quando o desesperado “Seu Quincas” o chamou à beira do gramado e tirou dos seus pés as chuteiras que tanto o incomodavam. E o América virou o placar para 4 x 2, com um gol e duas assistências do nosso herói “Tira-Gosto”.

• Tudo isso para lembrar que o técnico do Galo, Jorge Sampaoli, desde que começou a carreira de treinador, em meados dos anos 1990, no interior da Argentina, ficou conhecido por sua capacidade profissional, mas também pelo jeitão agitado e explosivo à beira do gramado, sempre insatisfeito e querendo vencer. Para evitar problemas com a arbitragem, ele poderia maneirar um pouco nas reclamações, mas nunca mudar seu estilo. Caso contrário, se tornaria mais um “Tira-Gosto” de chuteiras. (Fecha o pano!)
Encontrou um erro, ou quer sugerir uma notícia? Fale com o editor: [email protected]
MAK SOLUTIONS MAK 02 - 728-90

Comentários

Aviso - Os comentários não representam a opinião do Portal Diário do Aço e são de responsabilidade de seus autores. Não serão aprovados comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes. O Diário do Aço modera todas as mensagens e resguarda o direito de reprovar textos ofensivos que não respeitem os critérios estabelecidos.

Envie seu Comentário


CONSUL COOOPERADOS 02 - 300X250

Mais Lidas