21 de outubro, de 2020 | 15:27

Morre brasileiro que participava de testes da vacina de Oxford

Agência afirma que o médico João Pedro R. Feitosa, de 28 anos, recebeu placebo e não a vacina real em teste

Um brasileiro que participava dos testes na fase 3 da vacina da universidade britânica de Oxford, em parceria com a farmacêutica anglo-sueca AstraZeneca contra o coronavírus, morreu por complicações relacionadas à doença, segundo comunicado enviado à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

O voluntário era um médico de 28 anos, segundo a imprensa do Rio de Janeiro, que estava “na linha de frente ao combate à pandemia”.

A dose do teste teria sido recebida no fim de julho, mas o médico contraiu a doença em setembro e faleceu no dia 15 deste mês. A Anvisa foi avisada sobre a morte dele na segunda-feira (19).

Entretanto, de acordo com a agência Bloomberg, o médico João Pedro R. Feitosa, de 28 anos, não recebeu doses da vacina.

João Pedro, recém-formado na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) fazia parte dos voluntários que recebeu placebo, ou seja, não era a vacina real, mas um produto sem efeito. Aplicação de placebo faz parte do contexto da pesquisa.

A AstraZeneca afirmou que não pode comentar casos individuais devido à confidencialidade e às regras do estudo.

"Obedecemos estritamente à confidencialidade médica e às regulamentações relativas a estudo clínicos e, em linha com esses princípios, podemos confirmar que todos os processos de revisão exigidos foram seguidos", diz a nota.

Em comunicado enviado à imprensa, o Instituto D’or de Pesquisa e Ensino do Rio de Janeiro afirmou que “seguindo normas internacionais de pesquisa clínica e respeitando os critérios de confidencialidade dos dados médicos, não podemos confirmar publicamente a participação de nenhum voluntário no estudo clínico com a vacina de Oxford”.

Os estudos não devem ser pausados e o Comitê Internacional de Avaliação de Segurança sugeriu que eles fossem continuados. “Gostaríamos de informar que, após a inclusão de mais de 20 mil participantes nos testes ao redor do mundo, todas as condições médicas registradas foram cuidadosamente avaliadas pelo comitê independente de segurança, pelas equipes de investigadores e autoridades regulatórias locais e internacionais. A análise rigorosa dos dados colhidos até o momento não trouxe qualquer dúvida com relação à segurança do estudo, recomendando-se sua continuidade”, diz o laboratório.

O motivo para isso é que os testes de Oxford e da AstraZeneca são feitos de forma duplo-cega, quando nem os médicos nem os pacientes sabem qual foi a versão dada. Essa é uma das formas mais confiáveis de testagem.

Portanto, ele pode ter recebido uma dose de placebo da vacina, o que significa que em momento algum foi protegido. A morte também pode indicar que apenas uma dose da vacina não seja tão eficaz — outros voluntários já tomaram uma segunda dose da proteção, mas não foi o caso do que contraiu a covid-19.

No Brasil, até o momento, já foram vacinados aproximadamente 8.000 voluntários. Também em comunicado, a Anvisa confirmou que “os dados sobre voluntários de pesquisas clínicas devem ser mantidos em sigilo, em conformidade com princípios de confidencialidade, dignidade humana e proteção dos participantes”.

“É importante ressaltar que, com base nos compromissos de confidencialidade ética previstos no protocolo, as agências reguladoras envolvidas recebem dados parciais referentes à investigação realizada por esse comitê, que sugeriu pelo prosseguimento do estudo. Assim, o processo permanece em avaliação”, explica a agência.

Quais as outras vacinas em fase de pesquisa ?



Sinovac Biotech : a vacina chinesa que começou os testes em fase 3 no Brasil na última segunda-feira, 20, pretende fabricar até 100 milhões de doses anuais. Por aqui, 9.000 profissionais da área da saúde receberão a vacina.

Sinopharm (Wuhan e Pequim) : a vacina com base em vírus inativado, que se mostrou capaz de produzir resposta imune ao vírus, começou as fases 3 de testes neste mês nos Emirados Árabes Unidos. Cerca de 15.000 voluntários participaram do período de testes e a empresa chinesa acredita que a opção estará disponível para o público já no final do ano.

Oxford e AstraZeneca : os resultados preliminares das fases 1 e 2 da vacina com mais de 1.000 pessoas mostraram que ela foi capaz de induzir uma resposta imune à doença. As fases 2 (que ainda está ocorrendo no Reino Unido) e 3 de testes (acontecendo no Reino Unido, Brasil e África do Sul) devem garantir a eficácia completa dela. A opção é tida como a mais promissora pela OMS.

Moderna : a empresa estadunidense iniciou a última fase de testes de sua vacina baseada no RNA mensageiro no dia 27 de julho. O teste vai incluir 30.000 pessoas nos Estados Unidos e o governo investiu pesado: cerca de 1 bilhão de dólares para apoiar a pesquisa. A expectativa da empresa é produzir 500 milhões de doses por ano.

Pfizer e BioNTech : a vacina agora também está na fase 3 de testes e também usa o RNA mensageiro, que tem como objetivo produzir as proteínas antivirais no corpo do indivíduo. A expectativa é testar a vacina em aproximadamente 30.000 voluntários com idades entre 18 e 85 anos no mundo. Desse total, 1.000 serão testados no Brasil. Se tudo der certo, a expectativa é que a eficácia da vacina seja comprovada até o outubro. A empresa espera produzir até 100 milhões de doses até o fim do ano. Outras 1,3 bilhão de doses podem ser fabricadas no ano que vem.

Instituto Gamaleya : em 11 de agosto a Rússia registrou a primeira vacina do mundo contra a covid-19. A vacina russa é baseada no adenovírus humano fundido com a espícula de proteína em formato de coroa que dá nome ao coronavírus e é por meio dessa espícula de proteína que o vírus se prende às células humanas e injeta seu material genético para se replicar até causar a apoptose, a morte celular, e, então, partir para a próxima vítima. Na segunda-feira, 31, o país anunciou que o primeiro lote de sua vacina, a “Sputnik V”, estará disponível já neste mês.

CanSino : a vacina chinesa usa um vírus inofensivo do resfriado conhecido como adenovírus de tipo 5 (Ad5) para transportar material genético do coronavírus para o corpo e, segundo a companhia, conseguiu induzir uma resposta imune nos indivíduos que foram testados. No começo de agosto, a China concedeu a primeira patente da vacina.

Janssen Pharmaceutical Companies : a vacina, em parceria com o gigante Johnson & Johnson conseguiu induzir imunidade robusta em testes pré-clínicos. A tecnologia usada para a produção dela é a mesma utilizada no desenvolvimento da vacina do Ebola, que inclui o uso do vírus inativado da gripe comum, incapaz de ser replicado.

Novavax : empresa farmacêutica estadunidense nunca produziu uma vacina em mais de três décadas de existência, mas decidiu tentar. A vacina da Novax tem como base as proteínas do próprio vírus.
Encontrou um erro, ou quer sugerir uma notícia? Fale com o editor: [email protected]

Comentários

Aviso - Os comentários não representam a opinião do Portal Diário do Aço e são de responsabilidade de seus autores. Não serão aprovados comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes. O Diário do Aço modera todas as mensagens e resguarda o direito de reprovar textos ofensivos que não respeitem os critérios estabelecidos.

Envie seu Comentário