14 de outubro, de 2020 | 14:34

Por que os professores são tão importantes?

William Passos *

“Para além de homenagens, os professores merecem salários compatíveis à formação, plano de carreira e autonomia pedagógica”

Infelizmente, 2020 só permite um abraço virtual nos mestres. Neste ano, difícil para quase todos, os professores, em muitos casos, triplicaram a carga horária (inclusive com corte salarial) e se converteram repentinamente em comunicadores educacionais por meio de mídias. Isso sem falar naqueles que mergulharam na dura realidade do desemprego e da privação total de renda, a quem deixo minha mais profunda solidariedade. Também não podemos esquecer daqueles levados e daqueles que sofreram com familiares levados pelo holocausto da covid. A pandemia deixará marcas profissionais e familiares profundas na vida dos nossos professores e de toda a sociedade.

Para José Matias Alves, professor da Faculdade de Educação e Psicologia da Universidade Católica Portuguesa, os professores são “sal da terra” e “luz da humanidade”: sem professores, nenhuma outra profissão existiria, a herança científica, tecnológica e artística tenderia a desaparecer e a vida social e cultural mergulharia no caos.

Philippe Meirieu, professor da Universidade Lumière-Lyon 2 e formulador da “pedagogia diferenciada”, que parte da percepção de que as pessoas aprendem com ritmos e formas diferenciadas, diz que os professores são o espelho do futuro de uma sociedade.

Pierre Bourdieu, um dos mais espetaculares sociólogos do século XX, que dedicou parte de sua obra à reflexão sobre a educação, dizia que “ensinar não é uma atividade como as outras” porque poucas profissões exigem “tantas virtudes, generosidade, dedicação e, acima de tudo, entusiasmo”, o que faz com que o “ofício de educar a juventude” seja, na avaliação do antigo professor do Collège de France, “o primeiro de todos os ofícios”.

No entanto, diante da profunda desvalorização dos professores, no Brasil e em muitos lugares do mundo, o 15 de outubro não pode ser tratado apenas como uma data de celebração, nem a figura do professor deve ser romantizada como a daquele que se doa, como sacerdote ou sacerdotisa, em prol da humanidade: para além de homenagens, os professores merecem salários compatíveis à formação, plano de carreira (o que, apesar de lei, é cumprido em pouquíssimas redes de ensino do país e quase não existe nas escolas particulares), autonomia pedagógica para ensinar, valorização de seus saberes e de sua formação complementar e, especialmente, tempo para preparar aulas com qualidade e para aprimorarem-se profissionalmente.

É muito comum, ao procurarem uma escola para matricular os filhos ou crianças e jovens sob sua tutela ou guarda, os pais ou responsáveis preocuparem-se mais com a fama ou a estrutura da escola do que com a qualidade dos professores que nela trabalham. É importante lembrar que nem sempre a escola mais famosa ou melhor estruturada é aquela com os melhores professores. Todos os três professores brasileiros entre os 50 finalistas do Global Teacher Prize 2020, considerado o prêmio “Nobel da Educação”, são professores de escolas públicas. Dos 10 vencedores do Prêmio Educador Nota 10, o maior e mais importante da educação básica brasileira, criado pela Fundação Victor Civita, nove são professores de escola pública.

Não estou afirmando com isso que, necessariamente, os melhores professores estão nas escolas públicas, mas defendendo a necessidade de uma maior atenção e valorização ao extraordinário trabalho cotidiano dos nossos mestres, independentemente da rede em que atuem. Não existem professores de escola pública e professores de escola particular, o que existe são professores. Parabéns pelo 15 de outubro!

* Geógrafo, doutorando pelo IPPUR/UFRJ e colaborador do Jornal Diário do Aço. Email: [email protected]
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Comentários

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Aline de Sá Andrade Possidônio

15 de outubro, 2020 | 11:38

“Ótima reflexão caro amigo Willian!
Saudades do tempo de C.E. Desembargador A. F. Pinto.
Merecemos sim, muito mais que parabéns!”

Eleonora

15 de outubro, 2020 | 10:41

“Excelente ???..... realmente vc foi no ponto! Precisamos de muito mais que um parabéns!!!”

Tião Aranha

14 de outubro, 2020 | 18:24

“A pandemia tem levado o professor a ser 'um novo gestor da coisa pública'. Pra alçar voo, tem que rever os seus paradigmas no que tange aos seus limites de profissionalismos nos trabalhos que estão sendo feitos em necessidades mais próximas ao cidadão comum - no que tange aos recursos básicos que dispõem de uma maneira revigorada e nova - do uso diário dos recursos permitidos pela internet. É isso mesmo, refiro-me a essas novas experiência adquiridas durante esse isolamento social ora ocasionado pela pandemia global da Covid-19. Um processo geral comumente mecanicista, mas tal qual um gestor público, está sendo testado e vem sendo encontradas as perspectivas das novas maneiras de ensinar da estratégia pedagógica da 'mudança do ambiente físico escolar' de aprendizagem. São situações de deficiências por parte de pais, alunos e professores que tem dado algum resultado. Situações criadas, sobretudo, a partir de algo original em experiências, que fazem ver a comprovação que nosso país ainda está em atraso pra mais de milhões de anos luz.”

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