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30 de setembro, de 2020 | 10:13

A saga de um anti-herói brasileiro

Triste fim de Policarpo Quaresma integra Coleção Clássicos da Literatura Unesp

Não são poucos os motivos que dão a Afonso Henriques de Lima Barreto (1881-1922) um lugar muito especial na cena literária do país. Filho de família pobre, neto de avós negras que sofreram o período da escravidão, decidiu se arriscar em um ofício usualmente restrito à elite intelectual branca, e teve uma produção prolífica, que lhe deu o reconhecimento da posteridade.

Dentre os trabalhos mais saudados destaca-se Triste fim de Policarpo Quaresma, considerada a obra que efetivamente o lançou ao rol dos grandes mestres da literatura do Brasil e que ora ganha nova edição pela Coleção Clássicos da Literatura Unesp.

Publicada pela primeira vez em 1911, como folhetim, nas páginas do Jornal do Commercio, sua compilação em formato livro aconteceu em 1915, financiada pelo próprio autor.

Divulgação
O escritor Lima Barreto e a capa de sua obra mais famosaO escritor Lima Barreto e a capa de sua obra mais famosa
Lima Barreto tornou-se um autor de rotulagem complexa, o que se deve às várias possibilidades de assimilação e análise que abre a leitores e à academia: ora visto como escritor virtuoso, de grandes recursos estéticos, ora como um autor popular, voltado à abordagem de temas da realidade que o cercava.

Mas o dato universalmente reconhecido é que soube caracterizar com agudez a sociedade brasileira do fim do século XIX, em especial a carioca, combinando crônica de costumes com crítica social, engajamento político com fina ironia.

Em Triste fim de Policarpo Quaresma temos a saga do anti-herói Policarpo Quaresma, chamado de major, embora não o fosse. Homem de grande dignidade e valores inquebrantáveis e ufanista por convicção, ele vê a superioridade brasileira em qualquer tipo de comparação com estrangeiros. E não hesita em trocar vermute importado por parati oriundo de nossos alambiques.

Não surpreende, portanto, que reivindique a ideia de fazer do tupi-guarani o idioma oficial do Brasil, sob o insólito argumento de que o português seria uma “língua emprestada”. Formulado o pedido em uma petição às autoridades competentes, Quaresma se torna alvo de escárnio generalizado.

A ficção tornada real
Daí ele vai para o campo, onde seu otimismo nacionalista passará a mirar a agricultura. A realidade, porém, trai com frequência as suas utopias mais entranhadas.

O personagem retorna então ao meio urbano, onde um cenário de instabilidade social e política o levam a se tornar, agora sim, um major de fato, e a necessidade de agir militarmente testará a sua consciência de bom samaritano.

O romance sintetiza muitas “questões terceiro-mundistas” que caracterizam a produção de Lima Barreto. A postura patriota de Quaresma parece ser tão antinatural à maioria de seus conterrâneos que lhe custará uma internação em sanatório.

Pode-se dizer que Lima Barreto – que, aliás, conheceu na pele esse tipo de instituição, internado por seus problemas com alcoolismo e depressão –, foi um visionário: passados mais de 100 anos da escrita de Triste fim, suas ideias mantêm uma terrível atualidade.

Tendo morrido na pobreza, o que não deixa de ser simbólico de sua jornada pessoal em vida e dos temas que abordou em seus escritos, Lima Barreto, ao menos, não caiu no ostracismo. Alvo de uma primeira onda de redescoberta na década de 1950, permanece desde então como referência obrigatória para gerações de leitores que não se cansam de apreciá-lo.

A coleção Clássicos da Literatura Unesp é uma porta de entrada para o cânon da literatura universal. Não são edições críticas, mas volumes que permitem o deleite dos textos que marcaram a humanidade.

A seleção de títulos é multifacetada e não sistemática, permitindo o livre passeio do leitor. Já foram publicados outros quatro títulos: A relíquia, de Eça de Queirós; Contos, de Guy de Maupassant; Histórias extraordinárias, de Edgar Allan Poe; e Quincas Borba, de Machado de Assis.

FICHA TÉCNICA:
Triste fim de Policarpo Quaresma
Lima Barreto
248 Páginas – R$ 48
Formato: 13,4 x 20,2 cm
ISBN: 978-85-393-0836-1
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