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19 de setembro, de 2020 | 10:00

Doação de Órgãos em tempos de pandemia

Carlos Calazans *

“Vivemos em um país que tem o maior sistema público de transporte de órgãos do mundo”

Muita gente já deve ter ouvido, mas não custa lembrar: doar um órgão é um gesto de grande solidariedade com quem precisa dele para continuar vivendo, e, a doação só acontece com a aprovação da família do paciente. A conscientização é um dos passos importantes para o crescimento das doações. Precisamos falar cada vez mais deste assunto.

Nesse momento de pandemia da covid-19, com um número grande de perdas humanas e materiais, temos observado a redução do número de doações, devido a vários fatores, assolando a esperança daquelas que aguardam na fila por um transplante. Atualmente, são mais de 40 mil pacientes no país nesta condição, lutando contra o tempo para receber um órgão. Os números de doações que vinham em ascendência nos últimos anos, caíram drasticamente após o início da quarentena. Em 2019, o país chegou a registrar um índice de doação de 18,1 pessoas por milhão de população. No primeiro trimestre deste ano, o valor foi histórico saltando para 18,4 por milhão.

No entanto, com a pandemia, a situação saiu do controle. Sabemos que são vários os motivos que impactaram, como a suspensão em março, dos transplantes por doador vivo, visando proteger o receptor do risco de contaminação pelo coronavírus, a redução dos casos de morte cerebral proporcional à diminuição dos acidentes de trânsito na quarentena, assim como o temor da população em se deslocar aos hospitais, entre vários outros aspectos. Essa redução do número de doações, preocupou a comunidade médica. Segundo dados da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), desde o início da pandemia houve uma queda de 61% na realização de transplantes no país.

Neste contexto quando vimos a solidariedade se destacar, das pessoas se unirem para confeccionar máscaras, doar alimentos, ajudar ao próximo, devemos destacar e lembrar a todos que a doação de órgãos é também um enorme gesto de amor e solidariedade com o próximo.

Em um breve histórico, podemos dizer que nós, do Hospital Márcio Cunha fomos vitoriosos. A nossa unidade, referência em transplantes na região, também passou por uma retração nos procedimentos, mas, diferentemente de várias instituições, respaldados por uma infraestrutura de ponta e uma equipe altamente qualificada, conseguimos manter a realização de transplantes de doador falecido e tivemos em um curto período de tempo a realização de seis procedimentos de sucesso em plena pandemia, e um fato que muito nos emocionou, sendo que dois transplantes foram coincidentemente de irmãos, com histórico familiar de outros irmãos falecidos por insuficiência renal. Tivemos a oportunidade de contribuir com essas famílias na esperança de um futuro melhor e na possibilidade de um recomeço.

Vivemos em um país que tem o maior sistema público de transporte de órgãos do mundo, e cerca de 96% dos procedimentos são custeados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Temos profissionais especializados e qualificados em vários centros hospitalares pelo país. O que nos resta é desmistificar o tema, estimular a doação e conversar mais com as famílias que, muitas vezes, em um momento de dor profunda precisam tomar uma difícil decisão, caso o doador não tenha registrado o desejo em vida.

Neste mês de setembro, quando é celebrado o Dia Nacional da Doação de Órgãos, é um momento oportuno para conscientização das pessoas sobre a importância da doação e reforçar que um único doador pode salvar inúmeras vidas e para desmistificar esse assunto, que não costuma ser muito discutido entre as famílias. É preciso falar sobre a doação de órgãos, conhecer e humanizar os processos. O respeito e a memória àqueles que doam serão sempre eternizados pelos que recebem a oportunidade de uma nova vida.

* Médico nefrologista e coordenador do Serviço de Transplantes do Hospital Márcio Cunha
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Comentários

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Marçal João Guilherme

21 de setembro, 2020 | 09:02

“Parabéns à equipe do Hospital Márcio Cunha, pela competência e dedicação. E haveria que ter uma homenagem ao dr. Carlos Alberto Calazans por sua total entrega aos princípios de Asclépio. Ética, competência, espirito humanitário e estudo constante fazem dele um inigualável médico.”

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