09 de setembro, de 2020 | 15:15

Clodomiro de Oliveira e a defesa de Minas

José Fernando Aparecido de Oliveira *

Clodomiro de Oliveira foi secretário de Estado e Ministro dos governos de Arthur Bernardes, tanto a frente do Estado de Minas Gerais, como na presidência da República, na década de 1920. Visionário e engenheiro por formação, Clodomiro acreditava que os recursos naturais existentes em cada país deveriam ser o passaporte para a sua modernização, industrialização e independência financeira, como registrou no célebre livro “Concessão Itabira Iron”, em 1934. Este livro deveria ser referência e nortear as políticas de consolidação do setor minerário brasileiro desde a sua publicação.

Está lá em suas primeiras páginas, em grafia original da época: “Os problemas econômicos de um paiz têm as suas soluções em pôr em valor a utilização de suas riquezas naturaes, para, atendendo ás suas necessidades, proscrever a sua dissipação. É na transformação da matéria prima em produtos manufacturados de consumo do paiz, que a sua utilização é posta em valor, e não na sua transfusão no organismo do extrangeiro, para voltar transformada em produtos de consumo do paiz”.

Um século depois, os apontamentos de Clodomiro de Oliveira são, ainda, atualíssimos! Continuamos exportando mineiro bruto e comprando de volta peças beneficiadas em ferro e aço. É fundamental compreendermos que quando exportamos minério de ferro em estado bruto, estamos exportando sobretudo empregos, desenvolvendo a cadeia produtiva em outros países, além da arrecadação de impostos. Era isso que Clodomiro de Oliveira já apontava na primeira metade do século passado, o desenvolvimento da siderurgia brasileira para a implantação de um grande programa de industrialização e desenvolvimentos nacionais, quando alertava que “dispõe o Brasil de importantes jazidas desses minérios, necessita de desenvolvimento, e para isso precisa de vias de comunicação, mas para construil-as são indispensáveis grandes quantidades de ferro-aço. Naturalmente, o ferro poderia ser importado. Os paizes produtores ficam longe, mas importar grande quantidade de ferro seria o mesmo que atravessar um rio para ir buscar agua”.

Clodomiro imaginava que esse processo culminaria na criação do grande modal ferroviária de integração nacional e inserção comercial do Brasil na América Latina. O que era totalmente viável para a época e ainda para os dias de hoje, a instalação do modal ferroviária de integração continental, lingando os portos dos oceanos pacífico ao atlântico, escoamento da produção agrícola, tendo o Brasil com posição central no coração da América Latina.

Convicto das questões políticas que elevariam o nosso país como uma nova liderança política e econômica regional, Clodomiro enfatizava que “um paiz dispondo de poderosas concentrações de minerio de ferro e manganês e que permite a sua transfusão para o extrangeiro, sem correlativa compensação à sua siderurgia, é um paiz perdido (sic)”.

O momento histórico desperdiçado por Minas e pelo Brasil no século passado se repete hoje com a Lei Kandir, que isenta de ICMS o minério que é exportado. Neste momento em que se começa a discursão da Reforma Tributária no Congresso Nacional, é imperativo para Minas e para o Brasil que se coloque essa questão na agenda do país, para que não percamos mais uma vez o trem da História.

* Prefeito de Conceição do Mato Dentro
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