21 de agosto, de 2020 | 14:46

Profissionais de saúde enfrentam duas batalhas: o combate à pandemia e à desinformação

Karina Oliani * Bruna Silveira **

Karina Oliani na linha de frente do hospital de campanha do AnhembiKarina Oliani na linha de frente do hospital de campanha do Anhembi
“Médicos e enfermeiros se preocupam com infodemia de notícias falsas nas mídias sociais e fazem um apelo: Pensem antes de compartilhar notícias sem identificar a veracidade delas”

“Informações falsas inundam as mídias sociais e fazem com que familiares e pacientes opinem nos processos de tratamento como se fossem os próprios especialistas”

Profissionais de saúde que atuam na linha de frente no combate ao coronavírus destacam que, neste momento, o mundo enfrenta não só a pandemia da covid-19, mas também uma batalha contra a desinformação viral e global nas mídias sociais que ameaça vidas em todo o mundo. As informações propagadas em redes sociais, sem embasamento científico, tornaram sua rotina mais dura: além de arcarem com a carga física, psíquica e emocional, seu trabalho vem sendo ameaçado e atrapalhado por familiares ou pacientes que consomem, acreditam e compartilham conteúdos equivocados. Dados de uma pesquisa realizada pelas empresas MindMiners e Avaaz, mostram que 70% dos brasileiros buscam informações sobre o novo coronavírus uma ou mais vezes por dia e, apenas 40% consideram redes sociais pouco confiáveis.

Alguns dos impactos causados pela infodemia de notícias falsas no dia a dia dos profissionais de saúde envolvem questionamentos sobre potenciais terapias, boatos como os que escovar os dentes com bicarbonato ou tomar desinfetante combatem o coronavírus, conflitos com pacientes que gostariam de ter recebido a medicação na qual acreditam porque leram na Internet, desconfiança entre médico e famílias que cobram procedimentos divulgados nas mídias sociais como bem-sucedidos e até ameaças de familiares de obrigar o médico a prestar contas, caso algo aconteça com o paciente.

A desinformação é um desserviço da sociedade. Nós, da área da saúde, estamos lidando com circunstâncias extremas na linha de frente de hospitais de campanha como se tivéssemos em meio a uma guerra, cuidando de inúmeros doentes em situações delicadas. Essa alta gama de informações não verificadas que vem inundando as mídias sociais, faz com que familiares e pacientes opinem nos processos de tratamento como se fossem os próprios especialistas, muitas vezes exigindo uma prescrição ou um procedimento específico que não são indicados e nem benéficos em determinadas situações. Não trabalhamos com achismos e isso atrapalha o nosso dia a dia porque gastamos uma energia e um tempo que não temos com esse conflito com familiares. Estamos cumprindo o nosso juramento de fazer o bem aos seres humanos com responsabilidade e evidências científicas e também o nosso papel de orientar os pacientes com o nosso conhecimento e especialidade.

A desinformação me preocupa porque já são mais de 100 mil mortes notificadas no Brasil. Sinto tristeza porque vejo tudo isso como uma completa desconexão com a própria vida e com a vida de outras pessoas e porque percebo que o consumo de notícias está se tornando maior e mais importante do que o cuidado com o coletivo. Me desespero ao pensar que, sem as medidas de isolamento e de controle, ficamos cada vez mais longe de sair dessa situação. Faço aqui um apelo: pensem antes de compartilhar notícias sem identificar a veracidade delas.

Diante dessa desinformação e com o propósito de ajudar a salvar vidas nesta pandemia que assola o mundo, a Organização das Nações Unidas lançou o projeto Verificado, iniciativa com o objetivo de inundar os canais de comunicação com informações verificadas, com mensagens relacionadas à ciência, solidariedade e soluções. O Verificado traz uma galeria com conteúdos verdadeiros, confiáveis, urgentes e claros, baseados em fatos e destacando histórias com o melhor da humanidade. As informações compartilhadas são transmitidas pelas Nações Unidas, pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e por agências da ONU.

O material foi traduzido para os idiomas locais as informações que recebidas da Organização Mundial da Saúde, com a proposta de fazer a diferença na vida das pessoas. A internet é uma influência poderosa, assim como a televisão. Quando existem fontes de informação fortemente conflitantes, em que uma pessoa deve acreditar e como alguém pode chegar a uma conclusão firme?

Acreditamos ser reconfortante para o mundo que as Nações Unidas permaneçam uma fonte de informações independente e confiável por meio da campanha Verificado, do Departamento de Comunicações Globais. O mundo depende dos médicos, cientistas e pesquisadores para entender a dor de todos, ter explicações honestas sobre o problema e encontrar soluções e medidas preventivas viáveis.

Prestem atenção ao conteúdo que recebem e replicam de seus celulares, na forma de áudios, textos ou notícias aparentemente jornalísticas. Mantenham a calma diante do bombardeio de informações e sejam cautelosos, compartilhando apenas conteúdos verificados por fontes confiáveis de informação. E, acima de tudo, promovam essa conscientização.

* Médica socorrista na linha de frente no hospital de campanha do Anhembi, em São Paulo. Fundadora da Associação Brasileira de Medicina de Áreas Remotas e Esportes de Aventura, e Presidente do Instituto Dharma

** Médica e terapeuta de medicina tradicional chinesa e coordenadora do projeto Agentes Populares de Saúde da UneAfro Brasil
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