19 de agosto, de 2020 | 14:45
Outra crise?
Luiz Affonso Romano *
Questão é ética também, já que se alguém ganha, outro perde”Estamos vivendo mais uma crise na economia, a decorrente da acelerada automação, acompanhada agora da sanitária e, no Brasil, também da política todos concordam.
Vai durar muito? Só divergimos quanto ao prazo. Também se discutem as responsabilidades. Foram inconsequentes? Parece que sim. Desligaram-se os controles? Tudo indica. E assim por diante, um monte de acusações e caça aos culpados e até de alguns bodes expiatórios. Por que não lembramos do Millôr? Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados”.
Ora, porque não concordarmos todos que a crise foi e é, afinal e antes de tudo, além de falta de planejamento, um fenômeno de amoralidade e ausência de ética de esquecermos que nosso direito e necessidade terminam onde começa os dos outros- fingindo não saber-, que se alguém ganha, alguém em consequência perde e quando se ganha exageradamente, o mesmo ocorre, de sinal trocado. A todo débito corresponde um crédito, já assegurava há muito o matemático e frade franciscano Luca Pacioli.
Mesmo com a foto esmaecida, confusa, vamos parar de chorar e apresentar uma proposta. Funcionaria assim: o Governo concederia estímulos creditícios e fiscais, benefícios cambiais e exclusividade em fornecimento aos governos. Em troca, as empresas se comprometeriam em não despedir seus efetivos por um prazo específico, principalmente, nos setores mais críticos e para os níveis hierárquicos menos elevados, até três ou quatro salários mínimos, por exemplo-, e preparar os que seriam para uma 2ª carreira.
Quixotesco? Por incrível, isso até já funcionou. No Brasil, há 55 anos, Roberto Campos, ministro Extraordinário do Planejamento e Coordenação Econômica, e Octávio Gouveia de Bulhões, da Fazenda, propuseram pacto para conter a explosiva inflação. As empresas se comprometiam manter seus preços estáveis por 10 meses em troca daqueles estímulos e preferências. A adesão ao pacto foi liderada pela indústria automobilística, que, pela sua importância à época na cadeia produtiva, trouxe a reboque os fornecedores (aço, pneus, borracha, plásticos, têxtil ) e estes foram puxando a adesão à Conep/Sunab dos petroquímicos, alimentícios Para ficar num exemplo de passado recente.
Entre as inegáveis vantagens de tais medidas é que elas seriam divididas, ônus da acomodação” que as crises vêm imperiosamente exigindo -, com o setor Privado, da iniciativa estatal de salvação pública para a racionalidade mais cuidadosa e efetiva dos gestores empresariais, do atacado de medidas populistas e bombásticas para o varejo das iniciativas estratégicas e objetivas.
Ficam o comentário e a sugestão. Para grandes e desconhecidos males, homéricos remédios. Enfim, continuamos a chorar o leite derramado ou construímos novas oportunidades, realimentando e engajando todos corajosamente mais e melhor nosso plantel leiteiro?
* Consultor, membro do conselho consultivo da Associação Brasileira de Consultores e diretor do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças
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