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09 de julho, de 2020 | 15:30

Cidadão, não. Engenheiro, melhor que você!

Ronaldo Soares *

A face mais triste do brasileiro tem se apresentado nos últimos anos no acirramento das posições político-ideológicas. Mas, na pandemia de covid-19, temos nos defrontado com algo ainda pior (e olha que pior do que fica, nem o Tiririca): O pragmatismo. Não é uma banalização da morte. Longe disso. Mas, o tempo foi passando e a convivência diária com estatísticas de “casos confirmados”, “suspeitos” e “óbitos” está causando uma certa “anestesia”.

Se lá nos Estados Unidos vimos toda uma sociedade se voltar para a defesa das vidas dos afro-americanos descendentes (movimento Vidas Negras Importam) em função do assassinato de George Floyd, estrangulado por um policial branco que ajoelhou-se em seu pescoço durante uma abordagem por supostamente usar uma nota falsificada de vinte dólares em um supermercado, temos no Brasil um movimento ampliado e ao contrário: Nem vidas negras importam, nem vidas de idosos importam, nem os que têm problemas de saúde e são vulneráveis à pandemia, nem vidas de quem não é meu parente, amigo ou colega de escola (ou do trabalho) importam. Sim, se não conhecemos quem faz parte da estatística, vamos em frente.

E, por isso, queremos o normal de volta. De qualquer jeito. Queremos reabrir a economia na marra. E, enquanto não somos alcançados por uma tragédia pessoal, vamos acreditando no desumano “gripezinha”, “resfriadinho”, “e dai?”.

Nas mídias sociais, o prefeito de Itabuna, município do sul do estado da Bahia a cerca de 426 quilômetros de Salvador, Fernando Gomes (PTC), em nome da reabertura do comércio na cidade bradava: “Morra quem tiver que morrer” e foi alvo de nossa repulsa. Contudo, a verdade é que ele teve coragem de falar o que muitos pensam. O presidente da República, subliminarmente, envia o mesmo recado, desde o início da pandemia, mas a crítica pesou mais para o político nordestino.

Todavia, a semana passada terminou com um “gran finale” ao nos colocar diante do autoritarismo que se emergiu nos últimos tempos. O brasileiro, de submisso aos desmandos do abuso de autoridade dos agentes públicos, foi para o outro lado. Radicalizou e demonstrou que bastasse uma oportunidade que seria capaz de igualar a quem sempre o oprimiu ou pelo menos lhe calava. Sim, invertemos os papéis e vimos a vexaminosa cena em que a gerente de projetos da Taesa, empresa de distribuição de energia do estado do Rio de Janeiro, ao lado do marido, um engenheiro civil, visivelmente alterados quando abordados pela fiscalização da vigilância sanitária da prefeitura carioca por exaltar: “cidadão, não. Engenheiro formado – melhor que você!”, cena que foi gravada por uma equipe de reportagem e por celulares de anônimos. Podemos concluir que não queremos um país justo e igual em oportunidades. Queremos um país em que a desigualdade penda a favor de cada um.

Essa visão de mundo, cujos pilares são o egocentrismo e o sectarismo, tem sobressaído no dia-a-dia das pessoas e frustrados amigos e familiares. Já presenciei em grupos de whatsapp situações análogas a do casal mostrada em rede nacional, no Fantástico.

O tradicional “Você sabe com quem está falando” se atualizou e agora se apresenta em diversas versões, tipo “você é um nada!, um pé rapado!” ou por ameaças do tipo “vou encontrar você na rua e lhe encher de porrada”. Declarações de um submundo virtual, ao mesmo tempo intimista dos grupos de família, amigos e colegas de trabalho (ou qualquer tribo). Triste, mas até vítima disso já fui.

A questão é: para onde vamos? Por que vamos? Vale à pena ir de qualquer jeito? Acabo ouvir a notícia de mais um recuo do poder público do Rio de Janeiro. Depois dessas ameaças aos fiscais, a liberação das praias, que seria nesse fim de semana foi cancelado.

Acredite, as ameaças não param por “essa gente pagadora de impostos”. O que se ressalta, foi a primeira vez que uma nota da empresa foi explícita em dizer que a demissão da empregada, investida no papel de agressora, foi em razão do fato de “adotar inúmeras iniciativas para proteger a saúde de seus profissionais e familiares, e que a funcionária foi demitida por desrespeitar a política vigente na empresa”. A linha tênue que separa o profissional do pessoal foi ultrapassada. Tempos de Home Office.

* Consultor e colunista do Diário do Aço.
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Comentários

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Sidney Salvador de Moura

10 de julho, 2020 | 19:25

“Parabéns a empresa.... seria o que chamamos de, *código de ética*,este caso fez me lembrar, do ocorrido na copa do mundo da Rússia, vivemos infelizmente em um país que a maioria dos cenários são de pura baderna...faltam leis rígidas, governantes sérios e comprometidos em colocar ordem em todos os contextos, nós como pessoas, devemos pensar como um todo e não apenas no nosso próprio umbigo, como foi dito na bela matéria em questão não nós importamos... até que aconteça com alguém próximo....onde ao invés de ouvirmos apenas números...passarmos a ouvir ...*NOMES*.”

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