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04 de julho, de 2020 | 08:45

Farmacêutica alerta para o uso racional de medicamentos

Clarissa Barçante
Ao abordar riscos da automedicação, farmacêutica lembrou que ainda não há remédio aprovado que funcione contra a CovidAo abordar riscos da automedicação, farmacêutica lembrou que ainda não há remédio aprovado que funcione contra a Covid

Nem o vizinho, nem o grupo de Whatsapp ou o influenciador de redes sociais são as referências mais adequadas para prescrever medicamentos. A afirmação é da presidente do Conselho Regional de Farmácia de Minas Gerais (CRF-MG), Júnia Célia de Medeiros. Ela foi a convidada da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) para ministrar a apresentação ao vivo “Uso racional de medicamentos: entenda os riscos da automedicação”, na sexta-feira (3). A atividade marcou a Semana de Conscientização e Combate à Automedicação. A palestra, realizada remotamente, foi uma das atividades da Semana de Conscientização e Combate à Automedicação, instituída pela Lei 21.782, de 2015. Essa semana é realizada anualmente no mês de junho.

Com grande experiência na área de urgência do Sistema Único de Saúde (SUS), a especialista em saúde pública disse que nutricionistas, veterinários e odontologistas podem prescrever apenas alguns medicamentos que tenham relação com a sua área de atuação, enquanto farmacêuticos podem receitar medicamentos isentos de prescrição (Mips).

Entretanto, a farmacêutica lembra que os médicos são os profissionais mais adequados para prescrever remédios para os cuidados com a saúde. “Infelizmente temos no Brasil uma questão histórica com a automedicação. Mas seja a pessoa influencer de Instagram ou o presidente da República, ela não está capacitada a prescrever medicamentos se não estiver nesse grupo de profissionais que eu citei e nas condições que citei. Isso pode ser considerado exercício ilegal da medicina, algo muito sério e passível de denúncia. Se você tem um problema de saúde, procure um médico ou um farmacêutico de sua confiança”, enfatizou Júnia Medeiros.

Hábito de 77% dos brasileiros

De acordo com pesquisa encomendada pelo Conselho Federal de Farmácia, em 2019, 77% da população brasileira têm o hábito de se automedicar. O Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sinitox) apontou que, em 2017, 25% do total de óbitos por intoxicações de todo tipo foram causados por medicamentos.

Júnia reforçou que profissionais de saúde são aqueles que garantem a eficácia do tratamento. “Quando você se automedica, pode ocorrer alergia medicamentosa, internação e até mesmo morte. Além disso, você onera e ocupa uma vaga no serviço de saúde pública que poderia ser destinada a alguém em maior necessidade. Precisamos usar os remédios apenas quando forem necessários".

Ela pontuou que com a crise financeira e a pandemia, a dificuldade de acesso aos medicamentos está grande, mesmo para quem tem planos de saúde. "Mas para solucionar isso, precisamos lutar pelo fortalecimento do SUS, para todos terem acesso", defendeu.

Ela ainda lembrou que é sempre possível buscar orientações e informações junto aos farmacêuticos nas farmácias.

Outros

Júnia citou medicamentos que não necessitam de prescrição e que parecem ser de consumo simples, mas, se ingeridos em excesso, podem fazer mal. “Apenas alguns comprimidos de Tylenol podem causar a hepatite química, que leva à necessidade de internação e lavagem gástrica. Muito cuidado com remédios para dor de cabeça em excesso, podem até mascarar um AVC. Uma luta nossa é que os mips passem a ser comprados apenas com prescrição do farmacêutico. O paciente precisa ter o acompanhamento do profissional”, defendeu.

Quanto aos medicamentos apontados como possíveis curas milagrosas para a Covid-19, a farmacêutica afirmou que tiveram um crescimento expressivo de vendas, mas não há nenhum tipo de comprovação científica que qualquer um deles funcione.

“Isolamento social, lavar as mãos, usar o álcool em gel e as máscaras são atitudes que comprovadamente evitam a contaminação. E é isso. Não existe nenhum medicamento aprovado contra o coronavírus ou para prevenir. Se você tem deficiência de vitaminas, tomar vitamina vai ajudar no seu sistema imunológico e isso pode ajudar na resposta à doença. Mas não é uma cura. Hidroxicloroquina foi descartada por um estudo sério feito em Londres, em todos os hospitais da cidade. E o Albert Einstein descredenciou o uso em seus pacientes. Não funciona”, explicou.

Por fim, a especialista alertou contra o uso de Anitta, Ivermectina, Dexametasona e anticoagulantes. “Os dois primeiros ainda não têm evidência nenhuma que funcionam. Dexametasona age como anti-inflamatório apenas na fase 3 da doença, nos internados com inflamação respiratória. Se tomado no início da doença, o remédio vai agir como imunossupressor, deixando o organismo mais suscetível ao vírus. Ou seja, ao invés de se curar vai é se contaminar mais. E é absurdo querer ir à farmácia e comprar um anticoagulante para tomar”, completou.
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