04 de julho, de 2020 | 09:00

Brasil drogado, desarranjado, desmiolado

Marli Gonçalves *

“Que água é essa que está correndo nos canos deste país?”

E o sanfoneiro ainda toca e canta desafinado. Inacreditável: é o cara responsável por vender o Brasil para o turismo, e ainda nos compara à Austrália no criativo idioma inglês que entoa. É muito, muito mais do que estar fora da ordem; é estar como se vivêssemos dia e noite um pesadelo tenebroso, uma série antiga, alucinações coletivas. Vocês estão acompanhando esses vaivéns, as declarações e decisões políticas, o comportamento irresponsável das populações em meio a uma pandemia tão séria que vem dizimando milhares sem dó?

Não temos cangurus, nem coalas, nem os dingos, nem crocodilos que saem do mar (pelo menos por enquanto). Mas os gafanhotos se aproximam. Tem ciclone-bomba. Uma Amazônia que queima, devastada. O mundo caindo e o presidente emitindo vídeos com o sanfoneiro lá atrás, a tradutora tentando descrever desatinos em libras, e puxa-sacos sorridentes de um lado; outros, aparecem ali, obrigados, apenas constrangidos. A primeira dama do principal Estado do país, Bia Doria, defende – com seus louros neurônios iguais aos de quem a entrevista, aquela tal de Val Marchiori, que “ninguém entregue comida e roupa para os sem-teto, porque as pessoas gostam de viver na rua". Gostam?

Volto a perguntar: que água é essa que está correndo nos canos deste país? Que água é essa, que droga é essa, parece espalhada, e que, de um lado amortece, de outro enlouquece? Causa esse desarranjo, esse surto de burrice coletiva? Que nos faz temer a cada dia mais pela nossa própria sanidade?

Leis que não são cumpridas, um presidente e um equipe de governo que nega, negam e renegam os fatos mais singulares, e o fazem diante de um mundo todo também perplexo. Me digam se não é um desarranjo em seu sentido mais completo: que se conseguiu desarranjar; que está ou se encontra desalinhado; desarrumado ou desorganizado. Que não funciona perfeitamente; que está enguiçado, e na forma popular, com desarranjo no intestino; diarreia.

Remédios? Uma tal cloroquina, já rejeitada por ineficiente, em absurdos estoques militares; ivermectina, remédio para gado (se bem que...), propagandeada e receitada até por, entre outros “doutores do caos”, um ex-deputado como o Roberto Jefferson, que vocês bem sabem onde deveria estar morando, quietinho. Uma listinha que corre pelas redes e alguém (alguéns) deve (devem) estar ganhando muito dinheiro com isso. A perigosa automedicação vai trazer é mais problemas de saúde, e em um futuro bem próximo.

Estamos tão desarranjados que daqui a pouco será mesmo só o velho Imosec que nos trará algum alento. Testes? Virou um comércio sem controle, de esquina, com preços nas alturas, pouco acesso real, e muito mais ainda poucas explicações. No noticiário aparecem como se todos pudéssemos fazê-los e pronto. Leiam as entrelinhas, leiam as letras pequenas.

Tudo tem um porém, um “mas, todavia, contudo”. Governadores decretam estado de emergência – que os livra de compromissos com gastos e recursos - quase no mesmo momento em que liberam as atividades e todos são irresponsáveis, inclusive a população que temos visto lotando ruas, bares, jovens sem máscaras, como se não houvesse amanhã, e de repente desse jeito não vai ter mesmo. Quem fiscaliza, quem segura esses rojões?

O presidente assina decreto e derruba a obrigatoriedade do uso de máscaras em escolas, templos e comércio. Vai ser um massacre se for espalhada essa ideia da contaminação em massa – será forçar muito mais a barra que já pesa. Bem, não temos comando na área de Saúde, a Educação está ao Deus-dará, e militares ocupam postos para os quais decididamente não estão preparados. Fora os tais ideológicos de carteirinha.

Não é só que o Poder esteja tomado; está perdido, solto por aí, batendo cabeça. O resultado está desgraçadamente nas ruas. Só pode ser a água. Ou todos esses remédios misturados fazendo efeito.

* Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo.
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Comentários

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Cidadão

06 de julho, 2020 | 14:05

“Puxa vida, como eu gostaria de ser como esses inocentes que juram que comunismo acabou, não apenas mudou de nome e táticas, mas é o mesmo de sempre. Até aqui no Brasil é difícil de acreditar que ele não está presente, já que temos partidos com a ideologia no nome e a bandeira como símbolo, fora que o que mais vemos são políticos alinhados com a ideologia, que sempre levantam suas mãozinhas fechadas quando querem "manifestar". Acho que negam o óbvio e o escancarado porque isso deve ajudá-los a dormir melhor a noite. E assim vai andando a carruagem. Uns com mais coragem de enxergar a realidade do que outros. Mas uma coisa eu digo - a proporção de cegos e vendidos já atingiu seu nível máximo e agora, a tolerância do outro lado deve diminuir na mesma proporção.”

Concordo Plenamente

05 de julho, 2020 | 19:11

“Ótimo artigo.Reflete através de seu conteúdo a essência de um país que entrou em um desgoverno,uma loucura e uma desesperança.Acho que o pior mentiroso é aquele que mente sem ter consentimento de sua própria mentira.Ate quando o Brasil vao ficar entorpecido pela pílula da ilusão acreditando ter e que há alguma esperança.Em vez de sermos hipócritas,lutar contra a corrupção de um partido que se diz ser dos trabalhadores,mas infelizmente é dos enganadores e ladrões,e colocar em riscos vidas e nossa liberdade.Ainda tenho que ouvir a palavra Comunismo,será que ainda nao sabem que o comunismo e a guerra fria estão congelados,mortos e bem enterrados.Lamentavel tanta ignorância.”

Cidadão

05 de julho, 2020 | 15:48

“A tal blogueira que só sabe reclamar da vida só esqueceu de mencionar que o vírus que começou tudo isso foi presente de quem mesmo? Ah, lá eles tem aquela ideologia da foice e martelo que ela tanto ama, então, não convém mencionar a origem do famigerado Covid. E a propósito, a cloroquina foi mais uma vez apontada como tendo efeitos positivos nos EUA. Ah, mas lá é o país do Trump, então não tem validade também.”

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