27 de junho, de 2020 | 14:00

Segunda etapa, e lá vamos nós!

Marli Gonçalves*

E salve-se quem puder. Semana que vem. Acredite. Chegou o segundo semestre de 2020 e, se está aí do outro lado, por favor, sorria. Você está vivo, e isso não é pouco visto o que passamos nesses últimos seis meses. E a força que precisaremos para vencer os próximos.

Todo ano nessa época gosto de brincar de fazer o réveillon do segundo semestre, na passagem de junho para julho. Este ano, então, vamos fazer assim: nessa hora, à meia noite, uma prece forte pelos milhares de mortos e um agradecimento verdadeiro pelos que estão bem, pelos que se curaram. E por nós, que estamos contando a tal triste história.

Passou rápido. Perdemos muito da dimensão do tempo, esse sempre misterioso contar das horas. Aprendemos. Tivemos e temos medo. Coragem. Ir até ali já é um desafio. Como já vivi muito mais de meio século, dá para dizer: quanta coisa mudou, quantas coisas que jamais imaginaríamos estão acontecendo, aqui, especialmente, e no mundo todo. Quem algum dia pensou em viver uma época assim? Que não poderíamos nos tocar, abraçar, beijar, amar. Que afogaríamos e embebedaríamos nossos corpos (e coisas) no álcool? Em gel. Que temeríamos também o andar da política. Que tantas mentiras novamente nos atordoassem.

E há ainda esse vaivém que a todos nos deixa a cada dia mais confusos. Uma hora pode isso; na outra não pode mais. Autoridades batendo cabeça, cientistas fritando os miolos, as equipes de Saúde tentando controlar o que mais já está claro que é incontrolável, pelo menos por enquanto.

E o combate? Como lidar com os negacionistas, com a ignorância, com a ignomínia, essa palavra que diz tudo?
Como lidar com as pessoas nas ruas que nos pedem ajuda, olhos fundos, muitas esfregando a barriga no lamento para demonstrar que estão com fome, o desespero máximo que poderá se juntar ao frio que anuncia sua chegada pelas bandas de cá?

Não sei dizer realmente se estamos melhores ou piores do que outros países, que todos têm problemas a resolver, mas uma coisa é certa: nesses meses, mais do que em muitos outros locais, aqui estamos guerreando contra vários inimigos, muito além da pandemia, do vírus, das incertezas. Gafanhotos políticos que corroem a democracia, os princípios básicos da liberdade, tentam por abaixo os pilares básicos que construímos tão esforçadamente, picotam a cultura nacional, tentam impor e limitar costumes, e ainda aparecem gatunando onde podem, inclusive nos remédios e equipamentos de salvar vidas, ou na absurda remarcação de preços, na cobrança impiedosa de impostos que não vemos serem aplicados. Na pressão para que quem precisa sucumba ao rebaixamento geral imposto, muitas vezes para apenas quem tem, ter mais, acumularem mais e mais. Levantam poeiras e fumaças para que muitos não consigam avistar qualquer porta de saída. Suas declarações nos ofendem, por acreditar talvez que já estejamos mortos e sem reação. Eles nos cansam, atrapalham nossa concentração para prosseguir.

Depois, correm, doam alguma coisinha aqui e ali, pedem desculpas, clamam pelos céus, se dizem perseguidos e, como agora, buscam parecer até que querem entendimento. Se fosse uma relação pessoal devíamos denunciá-los como espancadores domésticos, do tipo que todo dia bate e depois promete que isso nunca mais vai acontecer. E é só esperar que sempre vem mais. Melhor se separar antes.

Nesse segundo semestre, enfim, será quando saberemos se realmente aprendemos algo, se a solidariedade cantada em verso e prosa será mantida, e se esses dois Brasis – contrapostos - tão claramente delineados numa descrição perfeita feita pelo jurista José Paulo Cavalcanti em artigo - poderão se encontrar, nem que seja um pouco mais lá na frente para a reconstrução desse chão. Vamos a ele, que ainda tem muito 2020 por aí.

*Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano - Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto. À venda nas livrarias e on-line, pela Editora e pela Amazon.
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Comentários

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Tião Aranha

27 de junho, 2020 | 20:59

“"Aos derrotados as batatas". Uma minoria que não detém força no comando do Poder, como acontece no Brasil, hoje só cultiva o ódio. Democracia é seguir a maioria de 58 milhões de votos garantidos nas urnas. E o que é pior: esquerdistas sem oposição, logo, sem nenhum planejamento, sem mobilização, sem motivação, e num curto espaço de tempo, só pensa em resolver sua problemática da vivência do presente-, querer a todo custo vencer a próxima eleição, que, na maioria das vezes se omitindo da experiência de vida que tem peso maior. (A luta mais vã é a luta de palavras). Tiveram no poder e a miséria continua. Um deputado com 28 anos de experiência parlamentar, tem muita experiência que nunca deve ser subestimada. Pois é: é com os idosos que está a verdadeira Sabedoria de vida. O resto...”

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