22 de junho, de 2020 | 11:33

Jacyntho Lins Brandão investiga o ‘nada’

Professor estreia na poesia com uma ‘contabilidade de perdas, vazios e ausências’

Professor emérito da Faculdade de Letras da UFMG, e um dos mais destacados especialistas em antiguidade grega do Brasil, Jacyntho Lins Brandão está perto de completar 70 anos e acaba de lançar o primeiro livro de poesias, Mais (um) nada, pela editora Quixote+Do, de Belo Horizonte.

Foca Lisboa/UFMG
Jacyntho Lins Brandão: morte como imagem mais recorrenteJacyntho Lins Brandão: morte como imagem mais recorrente
Nos 32 poemas do livro, navegando entre erudito e zombeteiro, desbocado e sentimental, o poeta evoca a própria biografia e saberes referentes aos campos de conhecimento em que é versado, como a filosofia, o teatro, a noção de cidade e a própria literatura, para estabelecer uma obra de forte caráter metapoético, atravessada pela noção de “nada” e suas implicações.

Para a poetisa Ana Martins Marques, que assina a orelha da obra, o livro parece ter a dicotomia “ganhar (perder)” como força-mestra, por meio da qual Jacyntho faz uma espécie de “contabilidade de perdas, vazios e ausências” para os quais a literatura, em si mesma, não parece oferecer salvação. (“Se algo é só ajuda, não é literatura”, diz o autor num verso.)

“O humor, o ceticismo, a ironia, os jogos de palavras, a disciplina e o rigor das formas são as armas com que o poeta se bate contra a falta de sentido, o vazio, o absurdo, ‘a imensidão do nada’, o luto, a perda. A métrica, e também a rima, criam alguma ordem, ausente no mundo, que é sem rima e sem razão”, Diz Ana Martins.

Com a noção de 'nada' como eixo, a obra de Jacyntho traz a morte como sua imagem mais recorrente: “A correnteza contra a qual se nada / Não deixa vencedores: só vencidos”.

Contudo, diante de “indesejadas gentes”, a experiência da vida, no tempo presente, e não da morte, no tempo inominado, é o que será cantado pelo poeta como a sina à qual todos devem se resignar, como diz no desfecho do penúltimo poema do livro:

“O que tens de saber que te anuncio / É coisa só: tua simples condição / De perecível: mais além não mires / Porque no fim partir é o que te é dado / Viver o teu instante é o teu fado”. O último poema, Soneto part’ido, é dedicado ao filho Pedro, falecido há dois anos.

Ewerton Martins Ribeiro/UFMG
A obra tem um forte e surpreendente caráter metapoéticoA obra tem um forte e surpreendente caráter metapoético
O autor
Jacyntho Lins Brandão leciona língua e literatura grega na Faculdade de Letras da UFMG desde 1977, da qual foi diretor nas gestões 1990-1994 e 2006-2010. Foi vice-reitor da Universidade na gestão 1994-1998. E membro da Academia Mineira de Letras desde 2018.

Com Mais (um) nada, ele mantém o ritmo de publicação de uma obra literária a cada década, em paralelo à sua vasta produção teórica e de tradução, da qual o lançamento mais recente é O romance de Tristão, de Béroul, que chegou às livrarias também este ano.

Em 1982, Jacyntho publicou Relicário (José Olympio), romance que reflete o caráter tradicionalista da mentalidade mineira. Em 1997, lançou O fosso de Babel (Nova Fronteira), um bem-humorado jogo com as noções de escritor, autor, narrador e personagem. Em 2007, publicou Que venha a Senhora Dona (Tessitura), uma peça de teatro.

Mais (um) nada pode ser adquirido na Livraria Quixote, na rua Fernandes Tourinho, 274, Savassi, em Belo Horizonte, ou pelo serviço de entregas que a livraria inaugurou durante a pandemia, pelo telefone (31) 98676-1007 ou em seu perfil no Instagram.

FICHA TÉCNICA:
Livro: Mais (um) nada
Editora: Quixote+Do
Autor: Jacyntho Lins Brandão
88 páginas / R$ 40
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