DIÁRIO DO AÇO SERVIÇOS 728X90

21 de junho, de 2020 | 08:00

A musicalização na rotina de autistas

Trabalho rítmico e terapias auxiliam no desenvolvimento dos diagnosticados com Transtorno do Espectro Autista (TEA)

Álbum pessoal
Maria Eugênia Ferraz de Oliveira faz aulas de piano e ampliou sua capacidade de concentração Maria Eugênia Ferraz de Oliveira faz aulas de piano e ampliou sua capacidade de concentração

Maria Eugênia Ferraz de Oliveira tem 8 anos e Renato Martins Siman, 4. As duas crianças de Ipatinga foram diagnosticadas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e, desde então, a rotina e de suas famílias têm sido em busca do desenvolvimento dos pequenos. Para auxiliar na comunicação, a música passou a fazer parte de suas vidas, ampliando as possibilidades de interação.

A professora de musicalização infantil, Polyana Guzzo Pérez, explica que é importante identificar se a criança tem interesse pela música. Assim, é possível entrar nesse universo, trabalhando engajamento, atenção sustentada, tempo de espera, velocidade de processamento, fala, linguagem e consciência corporal.

“Ou seja, ganhamos com a estimulação da música em todas as áreas. Algumas crianças com TEA possuem grande sensibilidade auditiva, o trabalho junto com a terapeuta é imprescindível nesse caso, para fazermos um trabalho de dessensibilização ao barulho. A aula precisa ser direcionada, os volumes reajustados e utilizamos muitos sons do corpo para ganharmos a dessensibilização e a criança evoluir no tempo dela”, avalia.

Ela destaca que toda criança é musical e tem capacidade para cantar e mover-se ritmicamente. “O movimento do corpo é uma saída natural para expressar sentimentos, está intimamente ligado à expressão humana. Quando as crianças se movem por meio de sons musicais, elas estão comunicando seus sentimentos e percepções do mundo que os cerca”, aponta.

Álbum pessoal
Renato Martins Siman tem 4 anos e tem desenvolvido com auxílio da músicaRenato Martins Siman tem 4 anos e tem desenvolvido com auxílio da música
Auxílio

A mãe de Renato Siman, Carolina Guerra Siman, conta que descobriu o autismo do filho aos 3 anos, quando percebeu que estava com atraso na fala. “Em seguida iniciamos sessões de fonoaudiologia e meses depois, numa palestra, ouvimos sobre a importância da musicalização para estimulação, isso não somente para autistas. Numa analogia, ela [palestrante] explicou que é como se os fios cerebrais estivessem desencapados e as musicalização encapasse, para fazer uma conexão. Logo em seguida, começamos com as aulas. Ele fazia fono há três meses e logo no primeiro mês percebemos o efeito, como se estivesse potencializado a terapia. Foi uma junção do trabalho da fono. Começamos a ver muitas melhoras no sentido de vocabulário e na forma de se comunicar. Hoje, um ano depois, ele está falando, cantando e inventando música. Ele adora”, celebra.

Mesmo com o isolamento social, a rotina musical em casa não foi difícil. “Nas primeiras semanas adaptamos a rotina, hoje conseguimos trabalhar, colocar música pra ele. Ele assiste e trabalha os ritmos e eu acompanho com a professora, a tia Poly. Na pandemia, por incrível que pareça, com as aulas on-line, Renato apresentou ganhos e melhoras significativas, não atrapalhou sua socialização. Continuamos, num estilo diferente e tivemos um ganho significativo, graças a Deus”, comemora a mãe.

Renata Ferraz Oliveira é mãe de Maria Eugênia. Desde os 2 anos e 6 meses, foi iniciada uma investigação e percorrido um longo caminho, passando por vários profissionais, mas somente chegou-se a um diagnóstico confiável de autismo quando Maria tinha quase 4 anos. “Graças a Deus, mesmo antes do diagnóstico, Maria já fazia intervenções e usava medicações. Por isso não tivemos prejuízo, pois o diagnóstico tardio é fator muito prejudicial ao desenvolvimento dos nossos filhos”.

Álbum pessoal
Polyana Guzzo Pérez é professora de musicalização infantilPolyana Guzzo Pérez é professora de musicalização infantil
Concentração

Maria estuda partitura, e isso aumenta sua capacidade de concentração. “Ela tem que reconhecer os símbolos, fazer analogias, comparações, e isso desenvolve algumas habilidades cognitivas do cérebro, como atenção, observação, reconhecimento e criação de modelos. Quando começou a fazer piano, conseguia ficar 10 minutos concentrada, agora, ela já permanece 30 minutos na aula e sentada ao piano, isso diz respeito ao rigor mental, capacidade de ficar mais tempo concentrado”, salienta.

Ela pondera que, com a pandemia e isolamento social, a filha não está trabalhando a música no contexto do piano, pois as aulas estão suspensas. Mas a fonoaudióloga de Maria trabalha a musicalização envolvida em suas sessões. “Ela sempre diz que a música é uma porta aberta para as demais atividades. Isso tem sido de grande importância. Nós conseguimos enxergar o bem que tem feito à nossa pequena. Rapidamente percebemos que as aulas estavam contribuindo e muito para o desenvolvimento da Maria. Um dia, a professora disse que a levaria para a aula prática no piano, como sempre, Maria deu show e a cada dia mostra evolução nessa atividade. Nunca paguei nem um real por essas aulas, são ministradas por amor e desejo de ajudar o próximo, pela professora de música e minha irmã de fé, Júnia Kobeisse. Por isso falo que são anjos de Deus, colocados em nossas vidas”, assegura.
Encontrou um erro, ou quer sugerir uma notícia? Fale com o editor: [email protected]

Comentários

Aviso - Os comentários não representam a opinião do Portal Diário do Aço e são de responsabilidade de seus autores. Não serão aprovados comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes. O Diário do Aço modera todas as mensagens e resguarda o direito de reprovar textos ofensivos que não respeitem os critérios estabelecidos.

Envie seu Comentário