10 de junho, de 2020 | 08:30

Donos da Backer se livram de acusação de homicídios

Inquérito da Polícia Civil foi concluído e familiares de sete vitimas aguardam indenização

Uarlen Valério/O Tempo
Investigações da PCMG na cervejaria Backer duraram cinco meses Investigações da PCMG na cervejaria Backer duraram cinco meses

A Polícia Civil de Minas Gerais apresentou, na terça-feira (9), as conclusões do inquérito que investigou, por cinco meses, os casos da síndrome nefroneural causada por um contaminante na cerveja Belorizontina, no começo do ano.
Conforme o inquérito apresentado, mais de 70 pessoas foram ouvidas durante a investigação. A possibilidade de sabotagem foi descartada pela Polícia Civil.

Os donos da cervejaria Backer, os irmãos Ana Paula Lebbos, Halim Lebbos e Munir Lebbos, foram indiciados por intoxicação de produto alimentício. Segundo a Polícia Civil, havia um grande vazamento em um tanque das cervejas da Backer, principalmente a Belorizontina, um de seus rótulos mais conhecidos, mas os donos da cervejaria não poderiam responder criminalmente por esse vazamento.

"Não posso responsabilizá-los (proprietários) por algo que seja ligado à mecânica da produção. No entanto, na pós-produção eles atuam com ciência do problema. Essa falta de aviso gera consequência e essa falta do recall gera consequências", explicou o delegado Flávio Grossi.

O chefe da manutenção dos tanques foi indiciado por homicídio culposo, lesão e contaminação de produto alimentício. Segundo a Polícia Civil, ele se omitiu ou não agiu ao descontrolar a reposição de mono e dietilenoglicol, substâncias que contaminaram a linha produção.

Com o vazamento, segundo as investigações, o dietilenoglicol que deveria ficar apenas no exterior das serpentinas, no processo externo de resfriamento da produção, era lançado diretamente nos tanques que armazenavam a cerveja. Havia rachaduras nos equipamentos, segundo a PCMG. Esse fato poderia ter sido detectado com a observação minuciosa na reposição do dietilenoglicol, aponta o relatório.

Sobre a reabertura do parque fabril, pedido da Backer, o Ministério da Agricultura (Mapa) afirmou que "o pedido será atendido somente após a cervejaria cumprir as exigências feitas pelo Mapa e ser capaz de garantir a segurança da produção futura".
Divulgação Mapa
Conforme a investigação, com vazamento, o dietilenoglicol que deveria ficar apenas no exterior das serpentinas, no processo de externo de resfriamento da produção, era lançado diretamente nos tanques que armazenavam a cervejaConforme a investigação, com vazamento, o dietilenoglicol que deveria ficar apenas no exterior das serpentinas, no processo de externo de resfriamento da produção, era lançado diretamente nos tanques que armazenavam a cerveja

Entenda o caso

Os primeiros casos de contaminação surgiram no fim de 2019. Ao longo das investigações, no entanto, ficou comprovado que o vazamento ocorria desde 2018. "O que ocorreu foi acidental, mas passível de punição", afirmou o delegado Flávio Grossi, responsável pelas investigações.

De acordo com o Ministério da Agricultura (Mapa), análises indicaram a presença dos contaminantes dietilenoglicol e etilenoglicol em cervejas produzidas pela marca Backer desde janeiro de 2019, conforme relatórios de produção disponibilizados pela empresa. Dietilenoglicol é uma substância tóxica anticongelante, de uso muito comum na indústria cervejeira.

Sua ingestão pode provocar sintomas como insuficiência renal e problemas neurológicos, o que causara a síndrome nefroneural, doença até então desconhecida.

O inquérito da Polícia Civil aponta que sete pacientes vieram a óbito em decorrência da síndrome nefroneural e 22 sobreviveram após ingestão da substância.

A Justiça determinou que a empresa arcasse com todos os custos médicos das 33 vítimas vivas, o que ainda não aconteceu. Advogados das famílias das vítimas busca, na Justiça, a reparação dos danos.

Em nota, a diretoria da empresa fez um pronunciamento nessa terça-feira:

"A Backer reafirma que irá honrar com todas as suas responsabilidades junto à Justiça, às vítimas e aos consumidores. Sobre o inquérito policial, tão logo os advogados analisarem o relatório, a empresa se posicionará publicamente"
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