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16 de maio, de 2020 | 12:00

Causos p’o tempo passar - III

José Edélcio Drumond *

A vida dele no quartel não foi nada fácil, e todo serviço duro era jogado para ele e poucos outros. Ele estava sempre preocupado com a sua malona, pois dentro dela estavam guardados alguns mil reis que trouxera como bom prevenido que era. Aqui falamos de nosso personagem egresso da longínqua Hematita, em Antônio Dias, para ingressar nas fileiras do Exército Brasileiro.

Suas folgas eram tiradas dentro do próprio quartel, ele se recolhia ao alojamento e ficava vendo as horas passar e lembrando da eguinha e da sua terrinha onde cantava o sabiá.

Prestou bons serviços, foi reconhecido pela promoção que lhe foi conferida como cabo, e tempo depois dispensado dos serviços. Triste, voltou para sua terra onde continuou com o seu patriotismo.

Prestava continência para o padre, o juiz de paz, os soldados e para todos aqueles que julgava ser “otoridade”, sobrou continência até para a antiga professora Binidita.

Como a continência demonstrou para ele pouco patriotismo, adotou o costume para a vida enquanto ele aguentou e viveu. Do quartel ele trouxe seu jogo de farda, quepe e até o coturno. A cada feriado ou dia santo ele colocava a farda e toda indumentária.

Ele munia ainda da velha espingarda deixada pelo seu avô e principalmente da espada reluzente, que era a joia da família, pois seu bisavô trouxe da guerra do Paraguai.

A rua de onde ele morava deve ter uns cinco quilômetros, o asfalto era cor de rosa e nas laterais corriam regos de água cristalina e pura. Ele se postava numa das entradas da rua, e dava em alto e bom som para ele próprio: “TROPA SENTIDO!”. Esperava um pouco e novamente dava a ordem: “PELOTÃO, APRONTAR ARMA!”, parava um pouco e respirava fundo e novamente gritava: “ORDINÁRIO MARCHA!”. E saía marchando sozinho pela rua afora orgulhoso com a etiqueta costurada no lado direito do bolso da camisa verde oliva, onde estava escrito em letras pretas: “CBO. ANTONIO GRÉGORIO”

Ele marchava rua abaixo e marchava rua acima num tipo de marcha só. Ele, não olhava para os lados, não respondia os cumprimentos e não dava bola para ninguém e muito menos para os que ironizavam o seu patriotismo, mas havia uma turma que o aplaudia.

Na sua morte a família ficou triste, pois o Exército não mandou nenhum representante, mas ela fez questão de enterrá-lo com a velha farda verde oliva do Exército Brasileiro.

No rol dos seus bens deixados o de maior valor foi a reluzente espada de guerra, bem este que causou uma grande briga familiar, e para resolver a questão decidiram levá-la a leilão. No dia marcado só apareceu um arrematante, o seu filho que era açougueiro e a levou para casa pelo valor mínimo de um mil réis.

O arrematante quando morreu, deixou escrito que essa joia rara ele deixava para o seu filho Crebinho, e este anda doido para achar um interessado para tê-la gratuitamente e quando a oferece a alguém ele tem a seguinte resposta: enfia ela naquele lugar.

* Advogado e empresário
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