09 de maio, de 2020 | 12:00

Causos p'o tempo passar II

José Edélcio Drumond Alves *

Lá na Hematita, onde o Judas não perdeu a bota, aconteceu o fato bastante inusitado que eu vou pedir licença para contar: Para verificar a veracidade desses causos, in loco, é necessário que o leitor faça um planejamento da viagem e consulte os guias turísticos editados.

As vias aéreas e marítimas estão suspensas até o próximo século.

Os veículos de comunicação deverão requerer o alvará de habilitação junto a Rede Alexandrita de Comunicação Inc., para poder se comunicar com o Brasil e o mundo.

Lá havia um cidadão que já nasceu incorporado pelo espírito do Patriotismo, e quando criança gostava de uma camisa verde e a calça ou calção amarelo.

A hora do Brasil era sagrada, toda noite ele ligava o rádio Telefunken a pilha e oito válvulas e, atentamente, escutava as notícias.

Num começo de noite, liga ele o seu radião, que pesava uns oito quilos e dentre as notícias que foram ouvidas, veio aquela que bateu forte no seu peito varonil:

“Exército convoca os nascidos em 1900 para se alistarem e servir a pátria brasileira”.

A noite foi a mais longa de sua vida, quando chegou a primeira luz do dia, ele se arrumou e foi bater na porta do sô Loró, para falar com a sua fessôra Binidita, para saber o que fazer.

Ela como era dedicada e gostava de ajudar todo mundo, o atendeu e de lá já saiu com a carta que a Mestra fez direta para o Estafêta, que cuidou de enviar pelo correio para o destinatário.

O tempo passava, o patriota sofria, não conseguia e mal dava conta do cabo de enxada para a capina, até que um dia chega a sua convocação para servir a pátria amada.

Ele cuidou da sua arrumação, colocou as roupas numa mala grande de papelão, montou na eguinha e foi pegar o trem. Chegando na estação ficou sabendo que o trem era no outro dia e logo ele se ajeitou na primeira pensão.

Lá na pensão, chamado para jantar, saiu do quarto onde estava entocado e foi à mesa, se esbanjou na comida, deglutindo o que conhecia e o que nunca tinha comido.

Lá pela madrugada adentro, a barriga roncou e a coisa foi ficando preta, ele correu para a latrina que ficava fora da casa, descarregou e ficou aliviado, ainda com a calça na mão viu aquela caixa de ferro e a correntinha dourada e logo a puxou.

O barulhão da descarga o fez sair em correria e depois do galope cuidou de colocar a calça, voltou para o quarto pé por pé.

Pegou o trem onde tudo era novidade e quando chegou foi direto para o quartel, onde foi aceito e logo que entrou já foi sendo gozado pela tropa toda e já ganhou seu apelido: MALÃO, e ele aceitou sem queixar, pois, como bom mineirinho que era.

Continua no próximo capítulo...

* Empresário e advogado
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