06 de maio, de 2020 | 18:00
Por que a pandemia vai piorar?
William Passos *
O grande problema é que a interiorização territorial se unirá a aceleração da transmissão, ao relaxamento do confinamento”Na coluna passada, expliquei que o coronavírus, geograficamente, se dissemina a partir da exposição, suscetibilidade e vulnerabilidade dos diferentes lugares. Também afirmei que a pandemia, no Brasil, pode ser dividida em duas fases: a da transmissão externa, que começa atingindo as principais áreas metropolitanas, e a da transmissão interna ou comunitária, que vai espalhando a contaminação pelo restante do território, acompanhando a circulação e a interação das pessoas. Nesta fase, que já começamos a vivenciar, até mesmo as áreas mais isoladas, justamente aquelas com menor preparo para o enfretamento da doença, serão atingidas.
No caso brasileiro, o grande problema é que a interiorização territorial se unirá a aceleração da transmissão, ao relaxamento do confinamento, a presença de um sistema de saúde precário e a impressionante incapacidade administrativa do governo federal, o que tornará o Brasil, oficialmente, o epicentro internacional da pandemia nos próximos dias, superando os Estados Unidos. À agência de notícias francesa Agence France-Presse, uma das mais respeitadas do planeta, o chefe do Laboratório de Informação em Saúde da USP, Domingos Alves, afirmou o que o Brasil já é a principal fonte de contaminação no mundo”.
A esse respeito, a última nota técnica (28/4/2020) do MonitoraCovid-19, sistema que integra os dados da Fiocruz e do IBGE, já admite que 98% dos 324 municípios brasileiros com mais de 100 mil habitantes já apresenta casos da doença, enquanto 79% dos municípios com população entre 50 mil e 100 mil habitantes, 44% dos municípios com população entre 20 mil e 50 mil pessoas, 22% daqueles com população entre 10 mil e 20 mil moradores e 9% dos municípios com população até 10 mil residentes também já entraram para o mapa da Covid-19.
No nosso caso, a grande preocupação desse espalhamento pelo território é que a maioria dos municípios do interior brasileiro não tem leitos de UTI e em algumas das grandes cidades já não há mais vaga. O exemplo mais gritante é o estado do Amazonas, justamente o de maior área territorial, onde apenas a capital, Manaus, oferece leitos de terapia intensiva. Com isso, o alerta de que o país se aproxima de uma situação catastrófica já foi acionado e a possibilidade de repetição de um cenário apocalíptico como o da Itália já começa a ser cogitado por especialistas e pela inteligência do Exército.
Mas como desgraça pouca não é bobagem”, o país ainda enfrenta um caótico problema de monitoramento, decorrente de um dos mais baixos índices de testagem do planeta, que nos impede, até mesmo, de arriscar um número, ainda que errado, sobre o tamanho real da nossa tragédia: somente são testados uma pequena proporção dos infectados (mesmo daqueles que procuram atendimento médico) e daqueles que vêm a óbito com sintomas suspeitos.
Não à toa, o alastramento da pandemia no Brasil coincide com uma sobrecarga nos serviços funerários, mas também com a explosão das estatísticas de mortes por causas indeterminadas. E para piorar o quadro de subnotificação, aqueles números do Ministério da Saúde, anunciados todos os dias no Twitter, não incluem os testes realizados em hospitais e clínicas particulares, mas somente aqueles na rede pública de saúde. Com isso, à exceção do percentual de ocupação de leitos de UTI, divulgados por algumas secretarias estaduais de saúde, e do número diário de enterros nos cemitérios, os números oficiais, pelo elevado grau de subnotificação, não significam muita coisa nem nos informam a dimensão do impacto da pandemia no Brasil.
* Geógrafo, doutorando pelo IPPUR/UFRJ e colaborador do Jornal Diário do Aço. Email: [email protected]
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Vitoria
28 de maio, 2020 | 12:48Se todo mundo fizesse sua parte isso já teria acabado”
Alex Barcelos
25 de maio, 2020 | 16:53Infelizmente, diante de um quadro de confusão de informações. Em que o senso comum trazidos por autoridades as vezes domina e até desinforma. É muito triste que muitos morrerão pela falta de informações e pela deturpação destas. A educação se faz cada vez mais necessária num país como o nosso. Se não será melhor JAIR SE ACOSTUMANDO!”
Kaio Teodoro
18 de maio, 2020 | 17:01Odeio ficar na quarentena”
Tião Aranha
07 de maio, 2020 | 19:38O pessoal tá misturando doença com política. Ninguém sabe quem está com a verdade. Gripe muito forte, antigamente a minha avó curava com chá de são caetano e chá de macaé. O caboclo às vezes ficava acamado uns quinze a vinte dias, não podia capinar nem tirar leite. Pra não perder a colheita dividia tudo com os trabalhadores, os meieiros. O cidadão quase morria; mas levantava. Hoje, como tudo mudou, até os nomes das doenças podem ter mudado, e o nosso presidente ainda deve ser daquele tempo...”
Marcos Oliveira
06 de maio, 2020 | 22:30Uma parte da fatura das contaminações e mortes podem ser colocadas na conta do governo federal, na figura do representante máximo, se considerar como o maior incentivador do sai pra rua. O tempo inteiro menosprezou, minimizou a pandemia. Não procurou fazer campanha alguma para o isolamento. Ficou na contramao do Ministério da Saúde e OMS o tempo integral.
Foi contaminado com o coronavirus (até que demonstre o contrário com apresentação dos exames). Manteve contato com a multidão o tempo todo, queria liberar aglomerações de escolas e aglomerações de templos diversos. Um irresponsável e contra a ciência. Mas seguindo Olavo de Carvalho, que sequer acredita que o vírus existe, não podia esperar outra coisa. E o pior, que com sua campanha contra isolamento e incentivo ao povo a ir pra rua, com toda a certeza deve ter aumentado em muito as contaminações e suas consequências. Se não fosse governadores e prefeitos as coisas estariam piores.
Vivemos tempos tenebrosos, muito maiores que a pandemia: Sofismas, Fake News, falta de empatia e compaixão e inversão de valores.”