04 de maio, de 2020 | 16:00
Mau exemplo
Fernando Rocha
Desde o dia 26 de fevereiro passado, quando o primeiro caso do Covid-19 foi confirmado no Brasil, o jogo de futebol mudou de foco, sobretudo para uma minoria dos dirigentes responsáveis, que de fato se preocupam com a vida, em primeiro lugar.No momento em que a pandemia dá sinais de que a curva de contágio irá se acentuar, podendo levar o sistema de saúde do país todo ou quase todo ao colapso, o Rio Grande do Sul dá o mau exemplo com a volta dos clubes às atividades após a Federação Gaúcha forçar a barra de forma inimaginável, com Grêmio e Internacional amparados por uma autorização irresponsável do prefeito de Porto Alegre, Nelson Marchezan Júnior (PSDB).
Foi estabelecido um protocolo de medidas de segurança para limitar o contato físico, além da compra de testes que serão aplicados nos atletas e demais envolvidos. Isso teria sido muito mais relevante e útil se os testes fossem doados para os profissionais da saúde, muitos dos quais expõem as suas vidas diariamente nos hospitais para salvar milhares de vidas sem contar com os necessários equipamentos de proteção.
Fim da mamata
Quando se trata de reivindicar a manutenção de benesses, isenções fiscais, perdão de dívidas junto ao governo, estes mesmos dirigentes são os que primeiro ressaltam a importância do seu papel social e do lazer que o futebol proporciona.
No entanto, quando são chamados a dar demonstrações práticas disso, fingem-se de égua, isentando-se de qualquer responsabilidade e expondo sua pior face, a da indiferença com o que acontece fora de sua bolha, onde se isolam do restante da sociedade.
Por maior que seja a saudade da bola rolando ao vivo, é preciso que se compreenda este cenário complexo e inédito, que precisa não só de um plano de ação, mas também de visão coletiva e comunitária, além de bom senso, para que se possa decretar a volta do futebol.
O vale tudo para o show continuar é inadmissível e não pode existir. O futebol brasileiro pós-pandemia Covid-19 vai precisar entender que o desde sempre” - ou a mamata - acabou, ou vai deixar de existir.
Esse negócio de que o mais esperto sempre vence, onde crimes de racismo são relativizados e privilégios absurdos junto aos governos em todas as esferas são aceitos sem contestação, tudo isso precisa acabar de agora em diante.
Ninguém se preparou para esta crise, muito menos o futebol, cujos clubes resistem em se tornar empresas exatamente para não ter que abrir mão das benesses históricas que recebem do poder público, por serem tratados como se fossem instituições sem fins lucrativos.
FIM DE PAPO
Atlético e Cruzeiro já reduziram em 25% os salários de seus jogadores, comissões técnicas e funcionários que ganham salários mais altos. Nossos dois grandes” ainda não falaram em demissões dos colaboradores mais humildes. Por outro lado, o América, além de seguir o exemplo dos dois rivais, ainda cortou quase na raiz os míseros salários pagos ao seu time de futebol feminino, onde cada jogadora recebe em média R$1 mil por mês e agora vão passar a ganhar R$300, o que não dá nem para comprar uma cesta básica de alimentos.
Mas infelizmente há exemplos piores, como o do Flamengo, clube mais popular do país, que faturou quase R$ 1 bilhão ano passado e que, em meio à pandemia, demitiu sem dó nem piedade centenas de funcionários humildes. O Corinthians, o segundo clube de maior torcida no país, dispensou dezenas de jovens e fechou a sua principal categoria de base.
Maus exemplos assim, praticados por alguns dos nossos principais clubes, acabam se refletindo em toda a cadeia do futebol, validando outras ações nefastas de dirigentes, escancarando a insensibilidade e incompetência de gestores, expondo uma face cruel que, infelizmente, é o que predomina no futebol brasileiro.
Há uma parcela considerável não só no futebol, mas em toda a sociedade - e entre os políticos nem se fala -, que joga a favor do coronavírus, sem dar a mínima importância a este inimigo invisível que já matou centenas de milhares de pessoas não só aqui no nosso país, mas no mundo inteiro, agindo na contramão de tudo que é recomendado pela ciência e autoridades da saúde. Que, no final de tudo, a conta dos caixões baixados às sepulturas seja cobrada deles. (Fecha o pano!)
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Tião Aranha
04 de maio, 2020 | 17:59A crítica construtiva do colunista à respeito da política dos cartolas, dos detentores do mercado da bola, me fez lembrar do Salmo 32, linha 9, conhecido como poema de Davi; que é mais ou menos assim: "Não sejais como o cavalo, nem como a mula, que não têm entendimento, cuja boca precisa de cabresto e freio para que não se cheguem a ti". Teologicamente falando, que o Homem quando age de maneira irracional está agindo como se fosse um animal. Em outras palavras, quando o homem encobre seu próprio pecado, passa experimentar como peso o sofrimento da culpa e até o próprio Deus. As companhias aéreas estão programando redução de 2/3 de sua clientela, afim de manterem segurança dos passageiros nos vôos. Imagina se for aplicada a mesma regra nos estádios pra manterem a segurança dos torcedores pra não pegarem o coronavírus? - Certamente, muitos clubes irão à falência...A começar dos grandes.”