30 de abril, de 2020 | 09:00

Caminhos para a construção de Ipatinga

Entre os vários caminhos que levaram à ocupação do território de Ipatinga, o mais antigo é o dos bandeirantes

Alex Ferreira
Documentos apontam que bairro Taúbas pode ter sido o primeiro povoamento de IpatingaDocumentos apontam que bairro Taúbas pode ter sido o primeiro povoamento de Ipatinga

"Construirão casas e nelas habitarão". Essa passagem de Isaías, 65, foi cumprida pelos desbravadores que, desde o século XVII, percorreram as terras que viriam a sediar uma das regiões mais prósperas da segunda metade do século XX. Cem anos antes, a Mata Atlântica ainda cobria a maior parte das terras que se estendiam nas margens direita e esquerda dos rios Doce e Piracicaba, quando desembarcaram no grande vale formado pelo delta dos dois rios os primeiros colonos. Ipatinga, que completou ontem 56 anos de emancipação política-administrativa teve variadas frentes de ocupação das terras, que mais tarde sediariam uma das grandes cidades do interior mineiro.

A coletânea Ipatinga Cidade Jardim, de autoria de José Augusto de Moraes, resgata os caminhos que levaram à construção da cidade. “Podemos considerar que para a construção da atual cidade de Ipatinga foram utilizados os seguintes caminhos: o Caminho dos Bandeirantes, do Taúbas, de Água Limpa, de Pedra Mole, da Fazenda Barra Grande/Bethânia, e do Córrego de Nossa Senhora”, destaca. Documentos da época indicam detalhes desses caminhos.

A vila Ipatinga

A área onde o município foi criado chegou a pertencer a quatro municípios: Itabira, Ferros, Antônio Dias e Coronel Fabriciano.

A origem do nome Ipatinga é marcada pela controvérsia. Há mais de uma versão e atualmente a mais consagrada é a origem indígena.

A primeira versão para o nome “Ipatinga” é de Pedro Nolasco (engenheiro que projetou a primeira estação ferroviária do lugarejo): um arranjo formado por uma aglutinação de palavras, aproveitando os radicais Ipa (de Ipanema) e Tinga (de Caratinga). Uma segunda versão vem do professor Saul Martins, dando o significado de “Pouso de Água Limpa” (I + Pa + Tinga).

No entanto, José Augusto de Moraes (autor da coletânea Ipatinga – Cidade Jardim) encontrou outras duas versões. Ipatinga aparece como “Ilha Branca” no Mini-Dicionário Tupy-Guarany - Português, de Frederico Mário Contelli, com a colaboração de Lupércio Fulco. E no site www.paty.posto7.com.br/palavrastupiguarani - que informa as cidades brasileiras cujos nomes têm origem no tupi-guarani; o site traz o nome com formação: Y PA (BA): Lagoa + Tinga: Branca, ou seja, “Lagoa Branca”.

O Caminho dos bandeirantes

Entre os vários caminhos que levaram à ocupação do território de Ipatinga, o mais antigo é o dos bandeirantes. Atrás das possíveis riquezas minerais da região do Vale do Rio Doce, primeiro os desbravadores depararam por aqui com a forte resistência dos índios “Botocudos” e uma grande facilidade em contrair doenças silvestres. Em 1682, tem-se notícia da montagem do primeiro acampamento que foi o do Bandeirante Borba Gato no encontro dos rios Piracicaba e Doce. Esse local, que até pouco tempo tinha acesso precário por causa da mata ciliar, hoje pode ser visitado após a restauração da Estação Pedra Mole.

Caminho do Taúbas

O bairro Taúbas foi a primeira comunidade por essas terras. Anteriormente conhecido como “Córrego do Sossego”, o Taúbas tem o início de sua comunidade registrado em 1893, quando João Sabino Tôrres, um fazendeiro da localidade de Barro Branco, arrematou em leilão, na cidade de Ferros, uma grande área de mata fechada que pertencia ao Governo Federal.

Inicialmente, Sabino enviou seus sete filhos: Amaro, Francisco, Paula, Quitéria, Jovino, Anselmo e Maria Sabino para cuidarem da propriedade arrematada. Cada filho recebeu quinze alqueires.

Quando João Sabino veio pela primeira vez ao local, deu o nome de Taúbas à propriedade porque existia ali uma grande quantidade daquela espécie vegetal.

Reprodução
Fazenda Esperança, no Barra Alegre, outro marco da ocupação urbana em IpatingaFazenda Esperança, no Barra Alegre, outro marco da ocupação urbana em Ipatinga
Caminho de Água Limpa

Água Limpa (atual Barra Alegre) originou-se de 50 alqueires de terra que o arcebispo de Mariana doou à Igreja de Nossa Senhora da Imaculada Conceição, para que fossem cedidas por meio de posse.

No ano de 1920, havia no local umas vinte casas, uma escola e uma igreja. O único acesso era por uma trilha que vinha de Mesquita e passava no povoado, em direção a Santo Antônio (São Geraldo) e Melo Viana. Para chegar ao centro de Ipatinga era necessário ultrapassar 16 porteiras e o acesso era feito a pé ou no lombo de burros.
Em 1964, Barra Alegre foi incorporado ao município de Ipatinga, na qualidade de distrito, que é composto pelos bairros Cidade Nobre, Vila Celeste, Esperança, Vila Formosa, Limoeiro, Chácaras Madalena, parte do Bom Jardim, Canaã e a zona rural de Ipatinga, sendo Barra Alegre sede do distrito.

A família de José Anatólio Barbosa era a mais influente e, por isso, coordenava toda a movimentação do lugar. José Anatólio Barbosa, casado com Lucinda Fernandes Madeira, era proprietário da “Fazenda Esperança”, da qual fazia parte a maioria das terras da localidade.

O nome do distrito é composto de: Barra, em referência ao pequeno riacho que passa na porta da Fazenda Esperança e tem sua foz no ribeirão Ipanema e Alegre, uma referência às festividades que eram realizadas na localidade, com a participação de toda a comunidade vizinha ao distrito.

Caminho de Pedra Mole

Essa foi a primeira estação de trem na margem do rio Piracicaba, afluente do rio Doce, situada no Km 475,000, com altitude de 235.800 metros. O território pertencia à época ao município de Coronel Fabriciano e foi inaugurada no dia 1º de agosto de 1922. No fim da década de 1930 foi desativada por causa das dificuldades em se avançar com a ferrovia no terreno movediço das proximidades da foz do Piracicaba.

Surge nessa época uma das versões da origem do nome da cidade. O engenheiro Pedro Nolasco deixou anotado à época que Ipatinga seria resultado da função de parte dos nomes de municípios vizinhos: “Ipa” de Ipanema e “Tinga” de Caratinga.

Reprodução
Fazenda Bethânia era sede da propriedade que se estendida até a divisa com Mesquita (hoje Santana do Paraíso)Fazenda Bethânia era sede da propriedade que se estendida até a divisa com Mesquita (hoje Santana do Paraíso)
Caminho de Barra Grande/Bethânia

No ano de 1927, Pedro Soares de Oliveira, morador de Santana do Paraíso, que trabalhara como apontador responsável pela turma que colocava dormentes na Estrada de Ferro Vitória a Minas, na década de 1920, tropeiro, carvoeiro e fazendeiro, adquiriu, em Ipatinga, as terras da Fazenda Barra Grande.

A fazenda "Barra Grande" iniciava-se no atual bairro Vagalume, divisa com Santana do Paraíso e terminava no bairro Jardim Panorama nos limites da estrada que ligava Ipatinga ao município de Figueira do Rio Doce, hoje Governador Valadares. Fazia fronteira também, de um lado com a fazenda "Prato Raso”, de Jair Gonçalves, e do outro lado com a fazenda "Esperança", de José Anatólio Barbosa.

Em 1950, Pedro Soares vendeu a Fazenda Barra Grande para Selim José de Salles, que mudou o nome do local para Fazenda Bethânia.

Caminho do Córrego de Nossa Senhora

Córrego de Nossa Senhora, atual bairro Horto, era uma área utilizada pela Belgo-Mineira para plantação e reflorestamento de eucalipto. Foi por esse caminho que, no fim da década de 1950, chegou a Usiminas, na localidade denominada Ipatinga.

Foram construídas, no local, as primeiras casas para a diretoria, o primeiro escritório central, almoxarifado e outras instalações que possibilitaram os primeiros trabalhos para a construção da Usina de Intendente Câmara.

O riacho que leva o nome de Córrego de Nossa Senhora foi represado, em 1959, para formar o lago existente no clube da Associação Esportiva e Recreativa Usipa.
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