DIÁRIO DO AÇO SERVIÇOS 728X90

18 de abril, de 2020 | 14:00

Causos pro tempo passar

José Edélcio Drumond Alves *

Lá na Hematita, onde o Judas não perdeu as botas, aconteceu o fato bastante inusitado, que eu vou pedir licença para contar: Havia um velho alfaiate que se chamava Zé Neguin. Ele não era nem preto e nem branco, era meio acinzentado. Ele era considerado o mais famoso alfaiate daquelas plagas. Num terno de brim caqui, ele era batuta mesmo. Tinha uma filharada de fazer dó e a maioria feia de dar pena, mas dentre eles, havia uma boneca, que servia até para ser miss.

Num belo domingo, chegou de avião um time de futebol para enfrentar o time do Sô Loró, e nessa delegação veio um craque que era famoso e estudava para ser dentista.

Em campo, naquela tarde, o jovem não conseguiu jogar nada, o que facilitou bastante para o time do Sô Loró ganhar a partida. O jogador ficou encantado com a filha bonita do Zé Neguin, e na volta foi um custo para ele pegar o avião de retorno.

A cara da moça não saiu da sua cabeça e quando tomava umas e outras a saudade aumentava. Com muito custo conseguiu o nome dela e andaram trocando umas cartas de amor. Engataram um namoro por correspondência e o estafeta demorava para entregar a dele e mais tempo para ele receber a dela.

Andou indo lá de carro de aluguel, mas mal se davam as mãos no momento da chegada e da despedida. No almoço, o Zé Neguin sentava no meio dos dois e, na hora do namoro, todos os filhos sentavam-se na sala, com o pai na cadeira central, de onde não tirava os olhos dos jovens namorados.

Logo que se formou, o jovem tratou de mudar-se para Hematita e montar o seu gabinete. Foi logo ficando noivo e marcaram o casamento, fato que aconteceu em poucos meses, pois a profissão ia de vento em popa. Ele mandou fazer uma placa indicativa do seu gabinete com o símbolo da odontologia e os dizeres: EUNÁPIO SARAPIÃO – CIRURGIÃO DENTISTA.

Todo mundo ficou encantado com a placa, pois quando dava a noite acendia uma luz dentro dela e mais bonita a placa ficava. Zé Neguin, orgulhoso do genro, e admirado com a placa, cuidou de mandar fazer uma igualzinha e colocou a logo do dentista e o seguinte letreiro: ZÉ NEGUIN - CIRURGIÃO ALFAIATE.

Ele virou uma vítima de tanta “chacota” que no dia da maior festa, em pleno meio dia, a rua cheia de gente ele pegou a sua garrucha 44 e deu dois tiros na placa, quebrando parte dela. Recarregou e deu mais tantos tiros que nem o fio da lâmpada sobrou. Enquanto atirava ele desabafava e gritava em alto e bom som o f. da p.

* Advogado e empresário
Encontrou um erro, ou quer sugerir uma notícia? Fale com o editor: [email protected]

Comentários

Aviso - Os comentários não representam a opinião do Portal Diário do Aço e são de responsabilidade de seus autores. Não serão aprovados comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes. O Diário do Aço modera todas as mensagens e resguarda o direito de reprovar textos ofensivos que não respeitem os critérios estabelecidos.

Tião Aranha

18 de abril, 2020 | 17:36

“Interpretei o causo do protagonista Zé Neguin como exemplo da sensibilidade humana; afinal, cada um almeja melhorar de vida. Outro exemplo de Sensibilidade Humana, torna-se imprescindível neste momento, é o gesto do colunista em comunicar-se bem - como tb significa mais do que vocação no uso correto das palavras: um gesto de caridade, até. Isso foi momentaneamente o que se destacou. É o nó da questão. Da tríade teológica católica [Fé, caridade e esperança] a mais importante e promissora é, sem dúvida nenhuma, a Esperança.
Ninguém consegue viver neste mundo louco sem almejar melhores dias nem que seja 'às custas dos outros'; pois está em conformidade com as afirmativas que ouvi certa vez da boca do grande escritor de crônicas
brasileiras, João Ubaldo Ribeiro, [quando lhe perguntei se ainda valia à pena acreditar
no futuro deste país].”

Envie seu Comentário