15 de abril, de 2020 | 15:00

Por que os idosos sustentam a economia?

William Passos *

O falso dilema entre saúde das pessoas e economia, levantado pela defesa ou não do distanciamento social, fez alguns leitores me perguntarem qual o impacto econômico da morte dos idosos. Ano passado, a reforma da previdência foi justificada pelo governo federal com o argumento de que o pagamento de aposentadorias e pensões prejudica o país.

As estatísticas oficiais contabilizam, na Região Metropolitana do Vale do Aço, 23% das populações de Ipatinga e Timóteo, 19% da população de Fabriciano, 20% da população de Belo Oriente e 5% da população de Paraíso vivendo do pagamento de benefícios do INSS (destaco que nessa conta não entram, por exemplo, os aposentados e pensionistas do serviço público). Exatamente por estar fora do mercado de trabalho, essa população tem a garantia de um pagamento mensal permanente para o resto da vida, servindo, muitas vezes, até mesmo de socorro para familiares em momentos de necessidade. Nos municípios mais pobres e de interior, onde as oportunidades são menores, é esta renda, combinada com a das prefeituras, que garante o fraco movimento do comércio e justifica a permanência de casas lotéricas e alguns serviços bancários, sem falar do IPTU e do ISS que essas administrações municipais conseguem arrecadar.

Uma eventual perda repentina de um elevado número de idosos, portanto, para além da tragédia afetiva na vida de muitas famílias, significaria um enorme prejuízo econômico, especialmente para os municípios de economia mais fraca e população mais idosa, que sofreriam com o fim da circulação de um dinheiro garantido. É preciso, dessa forma, sobretudo após a atual pandemia, desenvolver um olhar mais amplo sobre os impactos da população com mais de 60 anos sobre a economia do país. É importante destacar que, com as transformações da sociedade, o comportamento da população idosa também vem mudando, inclusive com um prolongamento maior dessa parcela da população no mercado de trabalho. Tanto os dados do IBGE quanto os da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho, do Ministério da Economia, mostram que o percentual da população mais velha trabalhando com carteira assinada vem crescendo nos últimos, e que esse crescimento acompanha a necessidade de reforço na renda familiar.

O aumento progressivo da idade, por outro lado, também impacta as economias da saúde e do turismo. A maior propensão a problemas de saúde faz com que essa camada da população gaste mais com farmácia, consultas médicas e exames e ainda pague os planos de saúde mais caros. A menor expectativa de vida, por sua vez, faz com que os idosos, ao viajarem, estejam menos dispostos a economizar com os serviços turísticos. Ao mesmo tempo, parte importante da demanda da baixa temporada é gerada pelos aposentados.

Infelizmente, há um olhar fortemente preconceituoso e elitista sobre a população cuja renda não vem do trabalho. Aposentados, pensionistas e beneficiários de programas como o Bolsa Família, por exemplo, são vistos por muitos como improdutivos, visão, por outro lado, completamente contrária daquela que recai sobre os pensionistas de altos servidores do judiciário e militares, banqueiros, especuladores financeiros e pessoas que vivem da renda de terras ou do aluguel de imóveis. Estes, apesar de também, digamos, não ganharem a vida com o próprio trabalho, não são vistos da mesma forma negativa que o primeiro grupo. E o que explica isso é o fato de formarem a camada mais endinheirada da população. O Olhar elitista enxerga os privilégios deste grupo como direitos, ao mesmo tempo que enxerga os direitos do primeiro grupo como regalias.

* Geógrafo, doutorando pelo IPPUR/UFRJ e colaborador do Jornal Diário do Aço. Email: [email protected]
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Comentários

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Tião Aranha

15 de abril, 2020 | 19:18

“É. A questão toda é conseguir se adaptar. Hoje, compreendo que a vida que cada indivíduo leva não tem que girar não em torno de seu próprio eixo, mas seu espírito precisa girar em torno do eixo da vida do mundo. Foi-nos imposta essa condição de discriminação ou limitação da vida dos idosos-, parece até que esse vírus fabricado no laboratório do mundo teve um objetivo: exterminar os velhos da Terra diminuindo as aposentadorias. Não é brinquedo não ficar velho. E é desta maneira que deve ser encarada a vida. Nunca se preocupar exclusivamente com as coisas materiais, mas, sempre pedir à Deus Energia Positiva para estarem sempre de pé; tomar todos os cuidados de higiene evitando as grandes aglomerações de pessoas. Enfrentar com coragem e determinação os desafios que a vida lhes oferece. (Não vai demorar muito, vão descobrir um remédio pra acabar de vez com esse maldito vírus - impedindo a sua penetração na célula do homem). Com os idosos está a sabedoria, e sobretudo, a experiência de vida.”

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