13 de abril, de 2020 | 14:30
O confinamento
Daniel Medeiros *
No dia 6 de julho de 1942, Anne Frank e sua família esconderam-se dos nazistas nos fundos de uma fábrica em Amsterdã. Ficaram escondidos até serem delatados e descobertos, em 4 de agosto de 1944. Anne tinha 15 anos quando foi presa e deportada para um campo de concentração, onde morreu.Muita gente conhece Anne Frank por causa do diário que ela deixou, relatando o cotidiano do refúgio e a convivência com sua irmã, pais e membros de duas outras famílias que dividiam as agruras do confinamento e o temor constante de serem descobertas. Anne descreve sobre esses longos dias, meses, anos, e também reflete, imagina, sonha. É o retrato de uma jovem inteligente em uma situação absurda. Marcada por várias dúvidas, angústias, momentos de raiva e incompreensão, mas, principalmente, pela certeza de que tudo continuaria: a escola, as amizades, o futuro, uma profissão. O confinamento era apenas um momento ruim na vida da jovem e de sua família. Mas infelizmente, não foi assim. Apenas o pai dela, Otto, sobreviveu aos campos. E foi ele o responsável pela publicação dos diários da filha, em 1947.
Muitas histórias como a de Anne e sua família ocorreram na Europa durante o horror fascista. Mas também, e certamente, em muitos outros regimes autoritários que escolheram etnias, religiões ou ideologias como inimigos e os perseguiram. Lembro-me, por exemplo, de um documentário de 2014, chamado A Imagem que falta”. Nele, o diretor, Rithy Phan busca relatar suas memórias e, por meio delas, testemunhar sobre o que aconteceu com o seu país, o Camboja. Ele tinha 13 anos quando Pol Pot chegou ao poder, iniciando um período de terror que deixou poucas imagens, mas muitos traumas. Rithy Phan se vale de bonecos de massinha para reencarnar suas memórias, permitindo ao público ver através, imaginar, e não apenas chocar-se com a realidade terrível vivida pelo povo cambojano.
Um artifício que o escritor Jorge Semprun, outro sobrevivente dos campos nazistas, traduziu da seguinte maneira: "Há histórias que não são apenas difíceis de contar. São difíceis de acreditar que puderam ser vividas". Nesse caso, a arte assume um papel fundamental, ao permitir um acesso mais profundo da memória e um sentimento que capta mais amplamente o que de fato foi vivido, por mais inacreditável que seja.
A obra de Anne Frank tornou-se um fenômeno mundial e ganhou as telas dos cinemas. Um curioso sucesso que só se explica pela nossa capacidade de vivermos a dor dos outros, esse sentimento que Rousseau identificava nos homens desde o estado de natureza: a compaixão.
Em todas as situações nas quais nossa liberdade é obstada, há sofrimento e, ao mesmo tempo, solidariedade. Dois fenômenos siameses, tão próprios de nós, embora quase sempre a dor seja também causada por pessoas como nós. E é aí que vem a perplexidade: por que há tantas pessoas que estabelecem como visão utópica um lugar despovoado da diferença? Essa atração pelo que parece o mesmo, pelo que já se conhece, pelo que não traz surpresas, está entranhado em nosso espírito humano tanto quanto a comiseração, a empatia, o reconhecimento da diferença. E a História vai registrando esse balanço de dor e esperança, de violência extrema e anulação do outro e atitudes heroicas, despreendidas, captadas pela arte de um diário, pela lente e imaginação de um sobrevivente.
Creio que não mudaremos como espécie, mas podemos aprender como indivíduos e ensinar os outros. Pois cada esconderijo, cada fuga, cada pavor diante de outro ser humano que quer nos ver mortos porque somos diferentes, agimos diferente ou pensamos diferente, é uma vitória da caverna e dos que projetam sombras em seu fundo.
* Doutor em Educação Histórica e professor no Curso Positivo.
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Tião Aranha
13 de abril, 2020 | 20:42A questão toda não é modificar o curso da História, basta somente ter paciência e aguardar os resultados, que só a Deus pertence.
Nunca seremos livres enquanto os votos dos pobres coitados forem comprados com antecipação de bolsas; enquanto for pago um salário de fome para educar miseráveis que são corrompidos através da compra antecipada de seus votos.
Enquanto existir pessoas ditas "cultas" que acreditam e defendem corruptos.
Enquanto não existir saúde, trabalho e educação para todos sem ônus da opressão de quem tá no poder.
Aleijado é quem necessita de esmola ou ajuda, o povo precisa são das oportunidades de vida igualitária para todos.”