09 de abril, de 2020 | 14:20

Pandemia, comércio e ''O encontro em Samarra''

Rodrigo Dias Martins *

No episódio ocorrido terça-feira (7), vimos que houve um acordo de dimensão metropolitana para o retorno do comércio na região do Vale do Aço, com participação do Ministério Público Estadual e os respectivos gestores municipais. Sem cometer o descuido de afirmar se isto foi objeto de debate na reunião, me permito a especular:

- 1 . As autoridades de saúde afirmam que a partir do meio de abril, ou seja, daqui uma semana, estaremos enfrentando um provável colapso no sistema de saúde, com o número de casos atingindo o ápice e, consequentemente, ocorrência proporcional de óbitos pela pandemia;

- 2 . Nota-se que há um "alento" aos prefeitos da região, haja vista que, ao contrário da população mais carente, a classe "empresária" sabe se organizar e pressionar os governos, inclusive pagando carro de som para "inflamar" a comunidade contra a classe política dos municípios;

- 3 . Com esse afago dos gestores para a classe "empresária", teremos uma movimentação significativa no comércio durante essa semana, o que motivará a manutenção dos decretos municipais expedidos na terça-feira (7/4) por um breve tempo;

- 4 . Quando a pandemia começar a encaminhar mais munícipes ao subsolo, haverá um recuo dos governos municipais e provavelmente eles invocarão a retórica de que o governo do Estado e o governo Federal "determinaram" que o comércio deveria funcionar, e que tudo foi pensando para o bem da comunidade.

Sim, eles sabem.

A questão é: o quanto eles se importam?

Pressão "política" justifica chancela à morte?

Lembro-me, oportunamente, do conto "O encontro em Samarra", escrito pelo inglês William Somerset Maugham tendo por base um antigo conto oriental, em que a Morte narra:

"Existia um mercador em Bagdá que um dia mandou o seu criado ao mercado comprar provisões, e depois de um certo tempo o criado voltou, branco e tremendo, dizendo:

— Mestre, eu estava agora no mercado quando levei um esbarrão de uma mulher na multidão e quando eu me virei eu vi que era a própria Morte que havia esbarrado em mim. Ela olhou para mim e fez um gesto ameaçador. Agora, me empreste seu cavalo que vou fugir desta cidade para evitar o meu destino. Vou para Samarra, e lá a Morte não irá me encontrar.

O mercador emprestou o seu cavalo e o criado montou, e cravando as suas esporas nos flancos do cavalo foi galopando o mais rápido possível.

Então o mercador veio ao mercado e me vendo na multidão, veio até mim e falou:

— Por que você fez um gesto ameaçador ao meu criado quando você o viu essa manhã?
Aquilo não foi um gesto ameaçador, eu disse.

— Foi apenas um momento de surpresa. Eu fiquei foi espantado em vê-lo em Bagdá, já que tenho um encontro marcado com ele essa noite, em Samarra".

Este conto é uma reflexão sobre o destino e quem o causa. Várias vezes desejei estar errado e estive, e espero que essa seja mais uma delas.

– Procurador-geral da Câmara de Timóteo, advogado especialista em direito tributário.
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Comentários

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Tião Aranha

09 de abril, 2020 | 15:49

“Só com a morte pobres e ricos conseguem se aproximar. Samarra, não, marraio!”

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