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12 de março, de 2020 | 16:10

Caminhos dos transportes globais passam pelos canaviais do Brasil

João Guilherme Sabino Ometto *

O setor de transportes produz anualmente oito bilhões de quilos de substâncias causadoras do aquecimento global, volume 70 vezes mais alto do que há 30 anos. E é responsável por 25% das emissões mundiais de gases de efeito estufa. Tais dados, divulgados pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), mostram que é preciso encontrar alternativas menos poluentes e mais sustentáveis para a locomoção de pessoas e cargas.

Uma das respostas a esse desafio são os veículos elétricos. Mas a solução não é tão eficaz quanto parece. Explico: 60% da eletricidade produzida no mundo em 2018 vieram de combustíveis fósseis e 18% dos nucleares, segundo a Agência Internacional de Energia (AIE). Na prática, isso significa que 80% dos carros elétricos consomem indiretamente petróleo ou urânio das usinas termonucleares. É muita tecnologia e poucos resultados concretos.

Diante dessas informações, surpreendentes para muitos, os veículos flex brasileiros, uma tecnologia genuinamente nacional, quando abastecidos integralmente com etanol, já são mais sustentáveis e muito menos nocivos à atmosfera do que os movidos à eletricidade gerada por energia fóssil ou nuclear. Afinal, os biocombustíveis são renováveis e muito menos poluentes do que os advindos do petróleo e do urânio enriquecido.

Notícia ainda melhor, porém, é o desenvolvimento de veículos elétricos movidos por meio de células que transformam combustível em eletricidade. O processo dá-se por reação química geradora de água e nada poluente. E o etanol é o combustível renovável usado por essa tecnologia, apresentada em um protótipo durante o lançamento da Política Nacional de Biocombustíveis (RenovaBio) em Brasília, em 2017.

Este programa, em vigor desde 26 de dezembro de 2019, deverá gerar investimentos, apenas no segmento de etanol, de R$ 9 bilhões por ano na renovação de canaviais e mais R$ 4 bilhões no aumento da produção de cana-de-açúcar, segundo estimativas do Governo Federal. E mais: os produtores de álcool já se movimentam para buscar as certificações para emissão dos créditos de descarbonização na Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), conforme prevê o RenovaBio. Vale lembrar que os chamados Cbios poderão ser negociados nas bolsas de valores. Cada um deles equivale a uma tonelada de carbono a menos lançada na atmosfera.

Nesse cenário, é bom saber que, na safra 2018/2019, o Brasil quebrou o recorde de produção de etanol, com 33,14 bilhões de litros, 21,7% ou 5,9 bilhões a mais do que no período anterior, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). E temos potencial para ampliar esses volumes, considerando a disponibilidade imensa de terras agricultáveis.

O futuro sustentável dos transportes, cada vez mais próximo e inevitável, passa pelo Brasil e seus canaviais. As soluções ambientais e econômicas que ofertamos ao planeta refletem-se no bem-estar da humanidade, como evidenciam estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS): atingir as metas de redução da poluição do ar estabelecidas pelo Acordo de Paris pode salvar um milhão de vidas por ano até 2050. Isto não tem preço!

* Engenheiro (Escola de Engenharia de São Carlos - EESC/USP), vice-presidente do Conselho de Administração da Usina São Martinho e membro da Academia Nacional de Agricultura (ANA).
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