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03 de março, de 2020 | 16:30

Blocos de carnaval

Rodrigo Alves de Carvalho *

Em um baile de carnaval, os foliões que pretendem ganhar um troféu de melhor bloco precisam caprichar na originalidade das fantasias e das folias. Pensando nisso, Roberto, que era um folião frustrado por seu bloco carnavalesco nunca ter levado um troféu em todos os cinco anos de folia nos salões, decidiu inovar e formar um novo bloco.

O primeiro passo foi comprar uma dúzia de blocos (esses de construção) em uma fábrica de blocos da cidade, depois enfeitou um a um, pintou olhinhos com sobrancelhas, boquinhas sorridentes, narizes de vários formatos e, em cada um deles, colocou uma peruca de cores e formatos diferentes. E o batizou de “Bloco dos Blocos”.

Na última noite de folia, lá estavam os 12 blocos colocados numa posição estratégica do salão, todos paradinhos e sorridentes para a surpresa dos outros foliões e das pessoas que brincavam o carnaval. E que carnaval!

A folia corria solta, era gente que bebia, gente que pulava, gente que caia, gente que às vezes nem parecia que era gente. Perfume estranho no ar, fumaça estranha no ar, odores estranhos no ar.

E haviam os casais que dançavam juntos, os casais que trocavam de casais, era mulher dançando com mulher, era homem dançando com homem. Era um verdadeiro e autêntico carnaval.

Roberto observava tudo, via os outros blocos se agitando no salão e produzindo agitação enquanto o seu bloco, ou melhor, os seus blocos, continuavam paradinhos no canto do salão, às vezes algumas pessoas paravam e olhavam sem entender nada, outras vezes tropeçavam num bloco, que na visão do embriagado havia se colocado em seu caminho.

A folia durou até a madrugada da quarta-feira de cinzas, quando o chefe de cerimônias se preparou para divulgar o bloco campeão. Houve um silêncio no salão, as pessoas e, em particular, os responsáveis pelos blocos, estavam aflitos com o resultado, pois para eles seria a coroação de um ano de economias e preparativos para que em apenas alguns minutos seus esforços se transformasse em alegria ou em grande decepção.

O mestre de cerimônias aproveitou e faz uma piadinha: - E o bloco campeão é o Bloco dos Blocos, pela originalidade e também pelo seu comportamento exemplar.

Produziu-se uma revolta geral no salão, os encarregados dos outros blocos não aceitam a decisão do júri, não aceitaram ser fragorosamente derrotados por um monte de areia e cimento, e logo começou o quebra pau.

Mesas e cadeiras caiam sobre as cabeças, confetes e serpentinas caiam sobre as cabeças, os blocos do bloco vencedor quebravam sobre as cabeças. O clube quase que foi abaixo.

No fim de tudo, e para felicidade geral, apenas quatro pessoas foram internadas com traumatismo craniano, enquanto dezenas de outras pessoas foram premiadas com fraturas e arranhões.

E passaram a quaresma tentando se recuperar do trauma causado por uma dúzia de blocos usados pra fazer o bloco vencedor. Que pensando bem, até que estavam bem bonitinhos naquele trágico carnaval.

* Jornalista, escritor e poeta, ganhador de vários prêmios literários, com participação em coletâneas de poesia, contos e crônicas. Em 2018 lançou o livro “Contos Colhidos”, pela editora Clube de Autores.
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