03 de março, de 2020 | 15:45

O contágio mais perigoso que o coronavírus

Leonardo Torres *

O mundo tem acordado em alerta nos últimos dias, devido à epidemia do vírus Covid-19. O alerta deve vir acompanhado sempre de informações de prevenção, procura de ajuda e tratamentos, entre outras; mas também é necessário estar atento a quem emite tal alerta, pois há um perigo ainda maior do que a epidemia do vírus: a epidemia do pânico.

Recentemente, devido ao pânico gerado pelo coronavírus, alguns mercados foram saqueados em busca de máscaras e álcool em gel. Hospitais começaram a regular as máscaras, pois alguns indivíduos chegavam ao local e acabavam furtando-as, já que estavam em falta nos mercados. Isso mostra um profundo medo da população diante da epidemia do coronavírus, a tal ponto que as pessoas entram em um estado de pânico epidêmico e, quando isso acontece, é comum esperar violências de todos os tipos.

O pânico é um estado mental que contagia não somente quem está próximo, mas também pessoas conectadas às redes sociais, canais de televisão e qualquer outra forma de comunicação tecnológica. O ser humano, por ser uma espécie que vive em grupo, tem maior facilidade em contagiar e se deixar contagiar por fortes emoções. A ciência já descobriu que, quanto maior o vínculo entre pessoas, maior é o contágio psíquico entre elas, por isso um indivíduo ri quando outro ri, chora quando o outro chora, sente fome, ânsias etc.

O estado de pânico é uma condição primitiva, ou seja, assim como em todos os animais, ele garante desde sempre a sobrevivência do indivíduo ou do grupo. No ser humano, por possuir uma consciência mais desenvolvida, o pânico não surge somente da forma instintiva "ação-reação", como um cão fugindo do carro. O pânico passa a ser um estado mental em que o indivíduo ou grupo acaba permanecendo em estado constante de pânico, se estimulado. Parte da grande mídia, com suas notícias sensacionalistas, cumpre o papel de trazer esse estado de pânico para a população ininterruptamente, que, por sua vez, acaba por contagiar outros indivíduos por meio das redes sociais, gerando um efeito epidêmico de pânico.

O contágio de pânico não acontece somente hoje, diante da epidemia do coronavírus. Basta lembrar as filas intermináveis da vacina da febre amarela, a procura por gasolina na greve dos caminhoneiros, ou, então, de casos como a novela radiofônica de Orson Welles – A Guerra dos Mundos -, cuja transmissão gerou um contágio de pânico sem igual, levando as pessoas que se contagiavam à morte súbita, suicídio, saques e outras situações.

Diante disso, o que a população pode fazer? Obter informações consistentes e reais, nos portais e canais comprometidos com a verdade, e consultar profissionais de saúde, a fim de se precaver. O pânico gerado por leigos, neste caso, serve somente para atrapalhar uma situação que já é complexa.
 
* Professor e palestrante, doutorando em Comunicação e pós-graduando em Psicologia Junguiana.
Encontrou um erro, ou quer sugerir uma notícia? Fale com o editor: [email protected]
MAK SOLUTIONS MAK 02 - 728-90

Comentários

Aviso - Os comentários não representam a opinião do Portal Diário do Aço e são de responsabilidade de seus autores. Não serão aprovados comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes. O Diário do Aço modera todas as mensagens e resguarda o direito de reprovar textos ofensivos que não respeitem os critérios estabelecidos.

Envie seu Comentário