29 de fevereiro, de 2020 | 11:00

Por que o Carnaval é bom para todos?

William Passos*

“É possível que o Carnaval 2020 tenha gerado cerca de 100 mil novas oportunidades de trabalho temporárias”

Ainda não saíram os números oficiais, mas a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) estima que o Carnaval 2020 tenha injetado cerca de R$ 8 bilhões na economia brasileira, sendo 4,8 bilhões em bares e restaurantes, R$ 1,3 bilhão em passagens aéreas e de ônibus e na locação de automóveis e R$ 861,3 milhões nos hotéis e pousadas. Juntos, alimentação fora de casa, transporte de passageiros e hospedagem costumam responder por cerca de 90% do movimento da economia no período.

O estado do Rio de Janeiro, novamente, deve concentrar a maior fatia da movimentação financeira do Carnaval (R$ 2,68 bilhões), seguido por São Paulo (R$ 1,94 bilhão), Bahia (R$ 1,36 bilhão), Minas Gerais (R$ 809,7 milhões), Pernambuco (R$ 381,9 milhões) e Ceará (R$ 318 milhões).

Ainda de acordo com a CNC, em torno de 26 mil trabalhadores devem ter sido contratados temporariamente com carteira assinada em todo o Brasil só para suprir a demanda do período, número 3% maior do que no Carnaval de 2019. Desses 26 mil, 71% (18,2 mil) devem ter sido contratados somente no setor de alimentação. Como, de acordo com os especialistas em mercado de trabalho, cada emprego com carteira assinada numa situação como essa gera, em média, pelo menos outros dois empregos no setor informal, caso esses números se confirmem, é possível que o Carnaval 2020 tenha gerado cerca de 100 mil novas oportunidades de trabalho temporárias, o que, sem dúvida, é importantíssimo para um país que vem tentando se recuperar de uma crise aguda que já dura quase uma década.

É importante destacar, por outro lado, que esses números são estimados apenas em torno do “Carnaval de eventos carnavalescos”, desconsiderando, por exemplo, os retiros religiosos que, apesar do volume menor, também movimentam todo o país, ajudando a incrementar o aumento das vendas nas rodoviárias e nos postos de combustíveis, sem falar do movimento nos serviços de alimentação.

Esses números também não calculam a injeção financeira das viagens de visita a familiares, que, em muitos casos, não se resume a transporte e alimentação fora de casa. A visita a parentes e amigos movimenta supermercados e, em muitas cidades, também bares, restaurantes, shoppings centers e equipamentos de lazer e entretenimento que, oportunamente, aproveitam para abrir nos dias oficiais de folia.

Todo esse dinheiro gasto a mais, naturalmente, entra e circula na economia, na forma de consumo, faturamento, salário, renda informal e até mesmo tributos para as prefeituras, governos estaduais e governo federal. Dessa maneira, o Carnaval é bom para todos porque todo mundo ganha (até mesmo quem fica em casa economizando para poder usar esse dinheiro depois). Não à toa, muitas cidades do Brasil, com um calendário de pré-carnaval, iniciam os festejos muito antes dos dias que terminam na quarta-feira de cinzas. Há, ainda, aquelas com um pós-carnaval até alguns dias depois. É por isso, quase sempre, que o investimento público no Carnaval faz todo sentido.

O movimento financeiro a mais que esta época do ano gera justifica e cobre 100% do investimento realizado pelo governo. De certa forma, é como se o investimento no Carnaval fosse uma espécie, digamos, de investimento no turismo, mesmo para cidades não turísticas. Só que o turista, nesse caso, na maioria das vezes, também é o nativo nascido e criado naquele lugar!

Na próxima coluna, como prometido, continuaremos a falar sobre combate à pobreza, tocando num ponto polêmico: programas de transferência de renda como o Bolsa Família geram preguiça ou não?

* Geógrafo, doutorando pelo IPPUR/UFRJ e colaborador do Jornal Diário do Aço. Email: [email protected]
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