14 de fevereiro, de 2020 | 16:12

Música, mobilidade e o assédio no transporte público

Claudia de Moraes *


No ano passado conduzimos um estudo que mostrou a evolução da mobilidade no Brasil por meio da música. No total, foram analisadas mais de 158 mil letras de músicas, com 361 delas efetivamente retratando mobilidade. Como critério principal, o tema deveria ter um papel importante na composição para que esta fosse selecionada.

Na década de 2010, o assédio no transporte público foi retratado em algumas músicas. Dois exemplos distintos pontuam o teor das canções: enquanto o Obinrin Trio canta em "Elas por elas" que "No busão, na rua, no metrô, na quebrada quero andar sem ouvir cantada, quero parar de ser invisível e fetichizada", Farufyno mostra em "Um ônibus lotado" a visão de um homem que está paquerando a mulher, quando a vê ser assediada, e dá uma surra no agressor.

Infelizmente, o assédio às mulheres é uma prática bastante antiga. Ainda no Império Romano, o imperador Sila (138-78 a.C.) ordenou intervenção jurídica nos casos em que uma "mulher honrada" fosse ofendida publicamente. Nos últimos anos a discussão ficou mais forte, e diversas campanhas criticando essa prática foram criadas. Como exemplo, o movimento "Vamos juntas?", idealizado pela jornalista Babi Souza com o objetivo de espalhar a ideia da sororidade (união e aliança entre mulheres, baseada na empatia e companheirismo) para que elas se unissem na rua inibindo, assim, violências como assédio e estupro.


O assunto voltou a estar em evidência nos últimos dias nas redes sociais. A série "Sex Education" retratou uma cena onde a personagem Aimee é vítima de um abuso em um ônibus. Além disso, o Big Brother Brasil 20 trouxe à tona uma estratégia de jogo de alguns homens que visava conquistar mulheres comprometidas para que elas perdessem credibilidade junto ao público.

Por fim o novo single do cantor Jerry Smith, "Reladinha", também foi criticado por muitos especialmente no Twitter, por supostamente conter conotação apelativa e sexual.

Embora a assessoria do artista tenha negado veementemente as suposições das redes sociais, afirmando que a real motivação da canção é reviver a trajetória do artista, que se locomovia diariamente de ônibus, se posicionando contra qualquer tipo de assédio, é importante salientar que as críticas se devem especialmente ao nome da música, associado ao fato de utilizar um ônibus como cenário. Neste caso, o ideal é nunca dar margem a interpretações de associação ao tema, que é muito delicado a todas as mulheres.

Um levantamento do Instituto Locomotiva e Instituto Patrícia Galvão de 2019 constatou que 97% das mulheres já foram assediadas no transporte público. Em 2018, foi sancionada a lei de importunação sexual que tem como objetivo punir o assédio, principalmente no transporte público, agravando a pena e punição para condutas criminosas. É extremamente importante que esse tipo de comportamento seja denunciado, a lei aplicada e que sejam adotadas, em conjunto com a penalização, medidas preventivas e educativas, para que o Brasil não continue sendo recordista em violência contra mulheres.

* CEO da Younder
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