08 de fevereiro, de 2020 | 11:00

Letras no DNA

Nivaldo Resende *

Tenho um enorme orgulho de ser um leitor, desde a mais tenra idade. Tive a sorte de crescer na linda, vetusta e bucólica São João Del Rei. Desde o primário, tive a felicidade de ter professoras que me incutiram o gosto por escrever corretamente, falar a língua portuguesa corretamente. E soube que a maneira mais adequada para aprender a fazer isso era ler, ler muito, da folhinha Mariana ao Jornal do Poste, do folheto Biotônico e Sadol às bulas de remédio.

Entre essas professoras, lembro de dona Concepcionila Dias (dona Santinha, mãe de Domingo Sávio e Maria Gláucia, que foram funcionários da Usiminas), de dona Nadir, de dona Daurinha, dona Clarice Franco e várias outras. Lembro do professor Oyama, do professor Enio, do professor Procópio, do major João Cabelo Bidart, entre outros que influíram na formação do meu arcabouço e cabedal intelectual.

Assim, era natural que minha bunda ajudasse a desbastar as cadeiras da biblioteca pública Baptista Caetano de Almeida, onde fui quase um rato. Li de tudo, de Machado de Assis a Oranice Franco, Wander Piroli (O menino e o pinto do menino), Roberto Drummond (A morte de D.J. em Paris, Hilda Furacão, Quando fui morto em Cuba) e Nélson Rodrigues (Os sete gatinhos).

Li Dostoievski e T.S. Elliot, li Guy de Maupassant e Rabindranath Tagore, li Mark Twain e Edgar Alan Poe. Li, e ainda leio. Lembro que certa vez meu irmão mais velho, Alencar, trabalhava no Rio de Janeiro e me perguntou o que eu queria de presente de Natal, e eu disse que queria o livro Eros e Civilização, de Herbert Marcuse, levando minha mãe a indignar-se, porque para ela eu deveria pedir uma peça de roupa ou um calçado.

Todas estas circunstâncias acima relatadas, somadas com o especial prazer que a música, o cinema e as artes plásticas me proporcionavam, provavelmente fizeram com que eu tenha me tornado um jornalista e escritor.
Sobre o que é bom ou ruim, o que tem qualidade ou não, não dá para saber sem ter lido. A interpretação de um livro é coisa única, individual, e não adianta crítica ou receita. Já li muita coisa ruim, sem qualidade, sem cuidado, mal revisado, mal escrito, mal diagramado, mal ilustrado. A literatura é como os seres humanos, há os que prestem, há os que não.
Dizem dos filhos: Porque tê-los, porque não tê-los, e se não os temos, como saberemos? Digo dos livros: Porque lê-los, porque não lê-los, e se não os lemos, como saberemos?

Leio porque gosto, está no meu DNA, se não leio entrevo, meus neurônios atrofiam. Sou um eterno aprendiz, e por isso mesmo, um lutador contra não só aqueles que se recusam a aprender e já se acham prontos, mas principalmente, luto contra aqueles que se acham no direito de tirar o direito a que as pessoas aprendam, a começar pela leitura.

* Jornalista e escritor
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Comentários

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Tião Aranha

12 de fevereiro, 2020 | 20:25

“Não é tarefa fácil construir o habito de leitura num indivíduo, dados os preconceitos sociais existentes num país em desenvolvimento como o nosso. Que não tem a Educação como primeira necessidade. Não dá pra ser bom escritor sem se aproximar no leitor. Nossos antepassados venceram porque buscaram o conhecimento através da leitura do mundo. Hoje, está cada vez mais difícil buscar a identidade pessoal no parâmetro da escala social; pois a maioria dos indivíduos, não tem identidade nem como pessoa. Precisa debater mais nas escolas aqueles princípios de cidadania outrora apreendidos nas disciplinas de Moral e Cívica, OSPB e Religião. Tudo começa pela boa Educação. Quem sabe é o sentimento de pátria dos políticos é que precisa ser modificado? (É uma pergunta que fica no ar).”

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