28 de janeiro, de 2020 | 16:45

Por que a inflação diminui o dinheiro?

William Passos *

Para a interpretação que orienta a maioria dos governos, a teoria quantitativa da moeda, quanto mais o dinheiro circula, mais ele perde valor, e quanto mais ele perde valor, maior é a inflação. É por isso que quando a inflação aumenta, os governos no Brasil costumam subir os juros (é para tornar a vida mais cara e as pessoas pararem de consumir), mas como o consumo, há tempos, está bastante deprimido, a inflação está controlada e os juros, baixos.

Para a ciência econômica, a moeda (ou dinheiro) tem três propriedades: reserva de valor, unidade de medida (de preços) e meio de troca. Surtos inflacionários atingem exatamente a reserva de valor. Entre janeiro de 1980 e junho de 1994, quando passou a circular o Real, o Brasil chegou a acumular mais de 11 trilhões por centro de inflação. Desta época até novembro de 2019, nossa inflação foi de 513,53%: R$ 100 em junho de 1994 valiam o mesmo que R$ 513,53 em novembro do ano passado.

Basicamente, a inflação se manifesta de três modos: por demanda, quando as pessoas passam a comprar mais; por custos, quando o aumento do custo de produção ou venda é repassado aos preços; ou por inércia, quando os preços atuais sobem com base na inflação passada. Também chamada indexação da economia, é esta última que ajuda a explicar porque houve hiperinflação no Brasil e porque, ainda hoje, todo ano alguns preços sobem (como o salário mínimo, aluguéis, mensalidades escolares e planos de saúde).

Como dito na coluna da terça-feira passada, “Por que existe inflação no Brasil?”, o reajuste anual do salário mínimo costuma ser inferior ao dos demais preços, fazendo com que, com o passar do tempo, os trabalhadores e a classe média empobreçam em ritmos diferenciados.

Uma das formas de evitar esse empobrecimento, na época da hiperinflação, era depositar dinheiro nas cadernetas de poupança. Agora em janeiro, entretanto, a poupança está rendendo 0,2588% ao mês ou 3,1056% ao ano, menos que o IPCA (a inflação oficial) do ano passado: 4,31%. Isso significa que R$ 1.000 depositados na poupança hoje renderão R$ 31,06 nos próximos 12 meses, acumulando R$ 1.031,06 em janeiro de 2021. Caso 2020 registre IPCA idêntico ao de 2019, R$ 1.000 hoje valerão o mesmo que R$ 956,90 em janeiro de 2021. Diferentemente da época da hiperinflação, depositar dinheiro na poupança atualmente significa perda, e não ganho de dinheiro, já que nessa simulação a poupança geraria uma perda de R$ 12,04 para a inflação atual. No Brasil de hoje em dia, comprar um bem está sendo mais vantajoso do que deixar o dinheiro aplicado nas cadernetas, para comprar esse mesmo bem no futuro.

A saída, para quem quer fugir da desvalorização inflacionária, é recorrer aos investimentos em renda fixa, como o Tesouro Direto (títulos públicos do Tesouro Nacional), CDB (Certificado de Depósito Bancário), LCI (Letra de Crédito Imobiliário), LCA (Letra de Crédito do Agronegócio) e RDB (Recibo de Depósito Bancário), que são protegidos pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC). Caso a instituição financeira quebre, o FGC garante o ressarcimento de até 250 mil reais dos valores aplicados pelo investidor. Entretanto, é necessário ficar atento às taxas de administração, a possível incidência de IRPF (Imposto de Renda de Pessoa Física) quando do resgate e às variações da remuneração, que acompanham a Selic e mudam conforme a dinâmica do mercado, deixando de ser tão vantajosas em determinadas conjunturas.

Na próxima coluna, vamos entender porque não existe emprego para todos e porque o desemprego é “natural” nas economias de mercado. Não perca!

* Geógrafo, doutorando pelo IPPUR/UFRJ e colaborador do Jornal Diário do Aço. Email: [email protected]
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