18 de janeiro, de 2020 | 15:00

Identidade pessoal e identidade familiar

Acedriana Vicente Vogel *

Cada família gesta a sua identidade, ainda que algumas vezes, de forma inconsciente. A identidade familiar se alimenta da vitalidade das diferentes identidades que a constitui, na medida em que inclui a todos. Por esse motivo, é, por excelência, orgânica, pois necessita do sentimento individual de pertencimento ao coletivo da instituição.

Ousamos relacionar o valor da família à sua capacidade de estabelecer o lugar de valor de cada um. Trata-se de reconhecer e assegurar os espaços para as singularidades, energia vital à gênese de uma família. Essa inserção depende, em grande medida, dos adultos referentes, aqueles que exercem o papel de autoridade de fato, o que nem sempre coincide com quem ocupa o papel de autoridade de direito, os ditos “responsáveis”.

Os adultos referentes têm a responsabilidade de observar o “conforto” de cada um dos seus membros na arquitetura dos relacionamentos geradores de identidades saudáveis (orgânicas), abertas aos movimentos de aprendizagem contínua. Cabe a eles concentrar a sua atenção nos sentimentos que nutrem essas relações intrafamiliares, nem sempre traduzíveis por meio de palavras. Sendo assim, assumir-se como parte integrante de uma família pressupõe assumir a identidade que é gestada por ela.

Nesse momento, não há como fugir da pergunta: o que a nossa identidade familiar comunica? Ou melhor, a comunicação é um exercício da identidade? Não é incomum a existência de uma distância entre o conceito que temos da nossa família e o conceito que as pessoas que habitam o nosso entorno expressam, sobretudo na nossa ausência, sobre ela. Diálogos, monólogos, gestos, entonações, silêncios, contam muito de cada um de nós e, por conseguinte, muito sobre o núcleo familiar do qual fazemos parte. Basta um tempo de convivência e nos revelamos. As nossas ações mostram ao mundo que nos rodeia quem somos e, muitas vezes, distorcem os nossos discursos. Portanto, não há como negar que a forma como somos reconhecidos revela a nossa identidade.

Ampliar a consciência sobre a importância da identidade familiar para a construção da identidade pessoal se faz fundamental diante da plasticidade na organização das famílias nos dias de hoje. Por mais diferente que venha a ser cada constituição familiar, é preciso que ela se assuma em seu formato, a fim de amparar aos seus integrantes. Há viço na família quando cada integrante, ao se perceber parte, consegue perceber o todo e, quando ao se reconhecer no outro, por meio das relações, entende-se oscilando entre protagonista e coadjuvante de algo maior, mais nobre.

Esse movimento confere sentido à interdependência, em torno da qual se concebe a essência sociocultural da natureza humana. É necessário pertencer para ser humano. A família, em primeira instância, é responsável pelo desenvolvimento da resistência às frustrações, ‘anticorpos’ que integram a identidade e permitem viver a singularidade da vida.

* Diretora pedagógica do Sistema Positivo de Ensino
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Comentários

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Tião Aranha

19 de janeiro, 2020 | 11:05

“"Basta um tempo de convivência que nos revelamos". Nem sempre, às vezes convivemos com uma pessoa a vida inteira e não conseguimos definir, por completo, a sua verdadeira personalidade. É por isso que existe o perdão e a misericórdia, um de cada vez. Se isso não fosse verdadeiro, nenhum educador nem iria pra escola, já que ele nem acredita na capacidade de mudança do ser humano. Mas a Educação de qualidade, infelizmente, tem um preço. O ser humano é um ser bastante limitado; aliás, tenho bastante dúvidas com essas pessoas que se dizem perfeccionistas. Pois se todos os seguimentos da sociedade estão em crise, é fato, logo a família tb está em crise. A melhor escola é a escola da vida: ela educa por definitivo e de verdade. Ambiguidade: o pau que nasce torto até a cinza é torta.”

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