03 de janeiro, de 2020 | 16:00
Para enfrentar o medo e encontrar a liberdade
Maria Inês Vasconcelos *
O fazer tem uma força enorme, afinal de contas, a ação é o contrário da paralisação”Assim como muitas coisas se tornam hábito, a prática de enfrentar desafios de forma corajosa passou a ser uma constante na minha vida. Percebi que alguns comportamentos são automáticos, como respirar, dormir e comer. Outras exigem uma preparação e aprendizado. É como andar de bicicleta, tocar piano e dirigir.
O medo é algo que aprendemos a dominar. Quanto mais lidamos com ele, mais nos tornamos capazes de enfrenta-lo. A técnica do enfrentamento, utilizada em larga escala, é, sem dúvida, uma grande estratégia e tem até comprovação científica. O método é simples: quem tem medo de cobras, que fique diante delas. So, lets face the fear. Nisto se resume o artifício.
Mas trata-se de análise rasa. É claro que vamos concluir que a coisa não é tão simples assim. O medo continua e a cobra também continuará te perseguindo se outras técnicas não forem empregadas.
O enfrentamento do medo é um sistema mais complexo. Envolve determinação e internalização da atitude, pedra angular que quebra totalmente a sensação de falta de controle sobre a situação. Fulmina o delírio interno, aquela onda de pensamentos intermináveis em que ficamos sem saber para onde ir. São os famosos E se? ”. "E se eu fizer isso?" ou "E seu fizer aquilo?".
Estes pensamentos recorrentes e ruminativos só se eliminam com atitude. Com ação e movimento. A dica é essa: não dormiu porque estava com medo? Acorde e faça algo no sentido contrário ao medo. Saia do E se?” e mude para Eu fiz”.
O fazer tem uma força enorme, afinal de contas, a ação é o contrário da paralisação. Outro dia me perguntaram como é que se pode fazer coisas quando se está congelado, engessado no medo. A resposta é simples: faça mesmo com medo. Faça qualquer coisa até que consiga fazer as grandes e eliminar definitivamente a inibição causada pelo medo.
Esse método é infalível. Quanto mais você age, mais o medo encolhe. Há uma crescente” nesta posição. Por isso, aventure-se todo dia a enfrentar medos pequenos. Mova-se o máximo que puder e pratique.
A determinação é outro recurso que eu chamo de antídoto ao medo. É um sistema de crenças interiores e um modo de ordenação do pensamento onde o sujeito realmente decide que não quer viver enjaulado numa gaiola aberta chamada medo. Pode parecer uma solução emblemática, mas é fácil de pôr em prática, basta querer.
A decisão interna de não se manter em gaiolas mentais apertadas e restritas, aliada à ação, é o único caminho para realmente dar uma cajadada na cobra, ou até mesmo fazer com que ela volte para onde veio. Desta vez, com medo de você.
* Advogada trabalhista, palestrante, pesquisadora e escritora
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