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04 de janeiro, de 2020 | 12:02

Não muda

Fernando Rocha

Divulgação
Fernando RochaFernando Rocha
Neste primeiro domingo do ano vamos abordar um assunto chato, porém, inevitável, em se tratando de futebol brasileiro, onde entra ano sai ano e a coisa não muda, por incompetência ou falta de interesse dos nossos cartolas e da TV detentora dos direitos de transmissão das principais competições nacionais.

Trata-se do calendário anual de competições, este verdadeiro ‘samba do crioulo doido’, que começa sempre pelos desgastados e obsoletos campeonatos estaduais, o que acaba espremendo todo o restante das competições ao longo do ano, causando um enorme prejuízo técnico e financeiro aos clubes.

Com exceção do Campeonato Paulista, apesar da sua fórmula de disputa medonha e ultrapassada, uma das piores de todo país, o que se vê é um festival de peladas oficiais, sem qualidade técnica, estádios quase vazios, só para atender interesses das cabulosas federações, verdadeiros cabides de empregos, mas que dão sustentação política ao grupo que comanda a CBF e o futebol brasileiro.

Modo de disputa
Se, por um lado, o modelo de disputa adotado em São Paulo não é o ideal, com excesso de participantes (16 times), o Campeonato Mineiro é mais enxuto (12 equipes) e está um pouco melhor agora porque diminuiu uma data, acabando com as abomináveis “quartas de final”, uma invenção que vigorou nos últimos dois anos.

Ainda assim, o Campeonato Mineiro é um dos piores no quesito divisão das receitas oriundas da TV, uma vez que 80% do total recebível - superior a R$ 35 milhões - vão para o trio da capital formado por Atlético, Cruzeiro e América, cabendo a cada clube ‘bambala’ do interior a bagatela média de apenas R$ 800 mil, valor que não dá sequer para pagar uma folha salarial de um elenco que seja medianamente decente.

Com isso, a qualidade técnica dos times do interior, que já é sofrível, torna-se indigente, transformando em coisas patéticas os confrontos contra os três ‘grandes’, com a diferença técnica abissal que se estabelece entre os dois lados.

FIM DE PAPO
• No início do ano passado a Globo sinalizou o desejo de enxugar datas e mudar a fórmula de disputa dos estaduais, tornando a competição mais atraente e rentável. Ameaçou inclusive não renovar os contratos com algumas federações estaduais, entre elas as de Minas Gerais e Rio Grande do Sul, mas a reação da cartolagem incrustada há décadas no comando dessas entidades foi imediata, o que obrigou a CBF a sair do armário em defesa de seus protegidos.

• Com receio de ter seus interesses prejudicados pela CBF nas outras competições mais importantes, como o Brasileirão e Copa do Brasil, a Globo decidiu propor uma alternativa que, se adotada, iria piorar ainda mais a situação atual dos estaduais. Sugeriu a unificação das fórmulas dos estaduais do Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande Sul, tomando por base o certame carioca, o mais confuso e o pior de todos os monstrengos espalhados por aí de Norte a Sul do país.

• Aqui nos nossos grotões, a fórmula global sugerida só não foi aprovada porque os clubes do interior, em um raro estalo de lucidez, uniram-se aos chamados três “grandes” da capital, decidindo por maioria, na reunião do conselho arbitral da Federação, manter a fórmula atual e abolir as tais “quartas de final”, em troca de um torneio para decidir um hipotético “campeão do interior”.

• A Globo paga R$ 35,15 milhões pelo direito de transmissão dos jogos do Campeonato Mineiro em TV aberta e fechada. Desse total, Atlético e Cruzeiro dividem R$ 12,7 milhões; R$ 3 milhões é o que recebe o América; e R$ 900 mil é o valor destinado ao Boa Esporte, Caldense, Tombense, Patrocinense, Tupynambás, URT, Uberlândia, Villa Nova e Coimbra.

A diferença entre a maior cota destinada a Atlético e Cruzeiro e a menor aos clubes do interior é simplesmente de 14,4 vezes. Do modo como funciona, o futebol brasileiro é uma perfeita imitação da nossa vida cotidiana, onde a divisão desigual de oportunidades e renda deixa os ricos cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais miseráveis. (Fecha o pano!)
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Comentários

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Marcelao Alves

06 de janeiro, 2020 | 14:33

“Falou tudo Fernando. E no Brasileirão do jeito que vai daqui a pouco tempo será como na Espanha. Apenas três times disputarão o título.”

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