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02 de novembro, de 2019 | 07:00

Amor e empreendedorismo à beira do campo

Unindo o útil ao agradável, Ivanilza acompanha jogos do filho e garante o sustento da família

Wôlmer Ezequiel
O jogador reproduz uma de suas comemorações na hora do gol: coraçãozinho com as mãos para a mãe O jogador reproduz uma de suas comemorações na hora do gol: coraçãozinho com as mãos para a mãe

Entre a venda de salgados e chup-chup, Ivanilza Gomes Ferreira corre para o alambrado para comemorar os gols do filho, Iago Felipe Gomes Faria, atacante da equipe Sub-14 do Veneziano, time que disputa o Campeonato Ipatinguense de Futebol Amador, promovido pela Liga de Desportos de Ipatinga (LDI), com apoio do governo municipal e da Nippon Steel. Ela, que não abre mão de participar da rotina esportiva do adolescente de 14 anos, uniu o útil ao agradável para assistir aos jogos e sustentar a família.

Ivanilza, que também tem um ponto de lanches na rua Ilhéus, no bairro Veneza II, tem no comércio a única fonte de renda para ela e seus dois filhos. “Eu vendo salsicha, coxinha e o pastel maravilha. Na beira do campo eu já estou há muitos anos. Foi a oportunidade que encontrei de assistir os jogos e ganhar meu dinheiro. Percebi que os meninos e as pessoas que frequentam as partidas gostavam dos meus salgados e passei a vir sempre. Graças a Deus é muito bem aceito”, relata.

Mãe e filho conversaram com o Diário do Aço à beira do campo do bairro Planalto, onde Veneziano e Beira Rio mandam seus jogos. Enquanto Iago fazia pose com a bola, Ivanilza babava, orgulhosa do caminho que os dois têm percorrido dentro e fora das quatro linhas. “Eu já trabalhei de camelô, já mexi com cabelo (cabeleireira) e hoje eu uni o útil ao agradável. Poder ganhar meu sustento e de quebra ver meu filho jogando, não tem preço”, afirma.
Para ela, trabalhar com vendas é mais difícil do que ser mãe de atleta. “Pelo Iago é só orgulho, independentemente se ganhar ou perder. Poder estar ali presente e comemorar junto ou, na derrota, dar um abraço e confortar. Às vezes eu até abandono a venda e corro pra fazer um coraçãozinho pra ele, à beira do alambrado, dou um beijinho e volto. Presto atenção nos dois, mas, na maioria das vezes, mais nos jogos”, entrega aos risos.

Privilégio

Com a rotina de trabalho cada vez mais árdua, a maior parte da população não tem tempo de presenciar as atividades dos filhos. Ivanilza está entre os que conseguem e deixa uma mensagem. “Se você não tem essa oportunidade, deveria tirar um tempinho. É gratificante para eles, ficam muito felizes de estarmos presentes ali gritando seu nome. Lógico que não chamando atenção, porque tem o Preto (Wéberson Vieira, treinador) para isso. Além disso, meu filho me ajuda muito. Antes de entrar em campo pergunta se preciso de algo e assim vamos seguimos a vida”, acrescenta a mãe.
Wôlmer Ezequiel
Mãe e filho estão sempre juntos, seja no futebol ou na venda de salgadosMãe e filho estão sempre juntos, seja no futebol ou na venda de salgados

Ao longo dos anos em que o menino joga futebol, o dia mais difícil para Ivanilza foi numa partida em Marataízes, no Espírito Santo. “Ele estava machucado, o professor perguntou quem queria cobrar o pênalti e ele levantou a mão. Foi lá e converteu. Eu não consegui nem olhar, porque pensei na responsabilidade. Ganhamos o jogo, mas fiquei aflita. Como mãe oriento o Iago sobre o futuro, não que seja um sonho distante (continuar jogando e ser profissional). Mas falo pra ele ter um plano b. É preciso focar nos estudos, em paralelo ao esporte. Se não der certo, terá uma profissão. Ele já disse que quer ser biólogo marinho. Mas o futuro a Deus pertence. Vamos esperar pra ver”, vislumbra.

Iago Felipe afirma ter orgulho de sua mãe

O futebol faz parte da vida de Iago Felipe. Os treinos acompanham a rotina do atleta, que veste a chuteira de segunda a quinta-feira, sem falta, além dos jogos aos fins de semana. “Gosto de ver minha mãe junto, esse apoio faz a diferença. É ela comemorando do lado de fora e nós jogando. Sinto orgulho dela e quando precisa de ajuda, estou ali. Consigo ouvi-la torcendo, junto com minha tia e minha priminha, que nem sabe falar meu nome direito, mas eu gosto demais”, conta.

Quando Ivanilza fala além da conta, Iago pede para a mãe se acalmar. Mas no fim dá tudo certo. “Meus colegas gostam que ela venha e perguntam quando falta. Ela faz parte do time. Todos gostamos muito dela aqui. Eu não sei o que irá acontecer no futuro. Mas por enquanto, o futebol é lazer. Se aparecer um teste eu tento, mas meu sonho é ser biólogo marinho, pois sempre gostei de pescar e de aventura”, aponta o menino.

O atacante afirma que sua equipe vai bem, obrigado. E que a partida mais difícil até agora foi contra o Beira Rio. “Nós perdemos essa. Mas já ganhamos muito. Faz parte né? Ganhar e perder, é o esporte”, pondera. Em um mundo repleto de desavenças entre pais e filhos, com notícias de tragédias e problemas familiares, Iago Felipe faz questão da companhia de Ivanilza e deixa um recado para todos. “Não tenha vergonha da sua mãe, se você estivesse numa situação pior, ela estaria com você. Tem que ter orgulho e caminhar junto. É isso”, conclui.


(Bruna Lage - Repórter)
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