23 de outubro, de 2019 | 07:30

Ministro do STF suspende lei que proibia ensino sobre gênero e orientação sexual em Ipatinga

Carlos Moura/STF
O ministro reconheceu a violação de diversos preceitos fundamentais, como os direitos à liberdade, à igualdade e a não discriminaçãoO ministro reconheceu a violação de diversos preceitos fundamentais, como os direitos à liberdade, à igualdade e a não discriminação

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, suspendeu cautelarmente dispositivos da Lei 3.491/2015, do município de Ipatinga, que excluem do ensino público municipal quaisquer referências à diversidade de gênero e orientação sexual. A medida cautelar foi deferida na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 467, ajuizada pela Procuradoria-Geral da República (PGR). A lei é de autoria do Executivo municipal, à época chefiado por Cecília Ferramenta (PT).

Ao suspender dois dispositivos da lei para sanar a possível ocorrência de prejuízos irreparáveis aos alunos, o ministro reconheceu a violação de diversos preceitos fundamentais, como os direitos à liberdade, à igualdade e a não discriminação, o objetivo fundamental de construção de uma sociedade livre, justa e solidária e a liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber.

Gilmar Mendes apontou também a violação da competência privativa da União para legislar sobre normas gerais da educação, como fez ao editar a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9.394/1996).

Discriminação

Segundo o ministro, a jurisprudência do STF é vasta no sentido da possibilidade de suspensão de leis com conteúdos e vícios formais de constitucionalidade semelhantes à de Ipatinga. Ele apontou ainda diversas normas e tratados internacionais dos quais o Brasil é signatário que proíbem qualquer tipo de discriminação, como a Declaração Universal dos Direitos Humanos, a Convenção Americana dos Direitos Humanos, o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos e os Princípios de Yogyakarta, firmados em 2006 na Indonésia em respeito aos direitos à orientação sexual e à identidade de gênero.

Na avaliação do ministro, a escola deve servir como instrumento do dever constitucional de enfrentamento da homofobia.

Para Gilmar Mendes, a ausência de debate sobre questões envolvendo sexo e gênero não equivale à suposta “neutralidade” sobre o assunto, mas serve para reforçar preconceitos existentes na sociedade.

Decisão celebrada

Os dois dispositivos da lei suspensos pelo ministro surgiram por meio de emendas apresentadas na Câmara de Ipatinga pelo ex-vereador Nilson Lucas (então PMDB). A vereadora Lene Teixeira (PT) comemorou a decisão de Gilmar Mendes e relembrou que foi a única parlamentar, entre os então 19, a votar contra as alterações. “De que adianta excluir a discussão de gênero da lei, se, na prática, temos diferentes formas de existir? Retirar o debate de gênero da escola só reforça a exclusão e invisibilização de determinados grupos porque a realidade é que as lésbicas, os gays, as pessoas trans vão continuar existindo”, afirmou.

A vereadora lembrou ainda que o debate da educação foi deixado de lado para dar lugar a visões distorcidas e ideológicas sobre o tema. “Criaram mentiras como a de que as escolas teriam um banheiro único para meninos e meninas e que as crianças seriam ensinadas a serem homossexuais. Inventaram ainda que seria ensinada a ideologia de gênero. Uma grande mentira, já que ideologia de gênero não existe e, por isso, não havia sequer sido citada no Plano de Educação”, afirmou.

Para Lene Teixeira, a decisão do STF é uma resposta às várias tentativas de censura na escola. “Em um momento de grave ameaça aos direitos de aprender e ensinar, com perseguição a professores e professoras e com leis inconstitucionais, como a da escola sem partido, é importante parabenizar o Supremo que não se omitiu diante desse assunto tão importante”.
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Comentários

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Cidadão Indignado

24 de outubro, 2019 | 08:24

“Desde pequenos, minha mãe e meu pai ensinou a mim e minha irmã sobre educação sexual, sobre onde outras pessoas não poderiam nos tocar à época, e em ter cuidado com pessoas estranhas. Fora isso, aprendi em ciências e biologia como funciona o resto, minhas professoras sempre nos alertaram para pessoas mal intencionadas e nos deram a direção para caso isso ocorresse. Sempre aprendi sobre diversidades étnicas e sobre respeito e compreensão sobre outras religiões, já que todas as turmas que estudamos tinham pessoas negras, brancas, ruivas, albinas, gordinhas, magrinhas, homossexuais e pessoas de religiões diferentes. Aprendemos a dar valor a culturas alheias, já que esse é um do bens que deixamos após a morte.
O que não pode é a escola querer ensinar à nossos filhos que eles nascem neutros, e depois de certa idade podem escolher o que querem ser, menino ou menina, demonstrar materiais audiovisuais de meninos beijando meninos e meninas beijando meninas, e incentivar isso em sala de aula.
Eles podem escolher o que vão ser sim, mas sem alguém que deveria estar ali para orientar estar incentivando tal ato.
Além disso, são os professores que elaboram seu material de ensino(conteúdo das aulas), o que eu vi ocorrer em Ipatinga é uma grande quantidade de professores irem pra rua junto aos pais de seus alunos e comunidade para protestar que não iriam ensinar isso em sala de aula, já que a matéria estava na grade e eles eram obrigados à ensinar.
E como fica a opinião pública, tratorada por Gilmar Mendes e a "Lene do PT"?
Acorda gente!”

Maria das Graças Batista Lima

23 de outubro, 2019 | 20:30

“Educação Sexual, é par instruir adolescentes sobre os riscos de uma gravidez precoce.È para os professores orientar as crianças os riscos que elas correm com padrastos mal intencionado, tios safados e vizinhos sem vergonhas que muitas vezes abusam de crianças inocentes, sou professora e até hoje só vi boas orientações nas escolas.”

Gildázio Garcia Vitor

23 de outubro, 2019 | 16:36

“As escolas e os professores não estamos dando conta de "ensinar" nem o básico, culpa nossa, que temos pouca competência, dos alunos, que não têm interesse por nada que não esteja nas redes insociáveis e nas séries, e da sociedade brasileira, que não valoriza a Educação pública. Portanto, as famílias conservadoras de Ipatinga e adjacências podem dormir tranquilas. Viva a "Escola sem partido" de esquerda, de direita e de extrema-direita.”

Cidadão Indignado

23 de outubro, 2019 | 11:38

“Pera, pera, pera, Para Tudo!
Me explica aqui um negócio, se de 19 vereadores apenas a "Lene do PT" votou à favor do projeto, por quê cargas d'água essa porcaria desse projeto passou?
Educação sexual quem dá é Pai e Mãe, Escola dá instrução!”

Guima

23 de outubro, 2019 | 10:20

“Agora as escolas públicas vão ensinar sobre diversidades. Somos uma sociedade conservadora. Este Gilmar é uma lástima.”

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