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19 de outubro, de 2019 | 11:08

“El Templo”

Fernando Rocha

Esta coluna foi escrita em Buenos Aires, onde estou desde a última segunda-feira, pela primeira vez como turista, uma experiência nova e muito agradável, ainda mais por ser hóspede e ter como guia a minha filha Ana Luiza, que estuda cinema e aqui reside há um ano e meio.

É sempre muito agradável visitar a capital portenha, mas a trabalho nunca tive tempo suficiente para apreciar suas belezas e particularidades, usar um sistema de transporte público que funciona, como metrô e ônibus, circular por onde normalmente o turista comum não vai ou é levado.

Já conhecia o Estádio Monumental de Núñez, do River Plate, e o Avellaneda, do Racing, e desta vez pude vivenciar uma experiência surpreendente e emocionante, de pisar pela primeira vez no lendário La Bombonera, chamado pelos ‘xeneizes’ de “El templo del fútbol”.

Pagando um preço razoável, - R$ 50 em média por pessoa -, todo turista poderá fazer esta visita, que inclui um tour guiado pelo Museu do Boca Juniors, bem como todas as instalações do lendário estádio, como vestiários, gramado, arquibancadas, locais sagrados para os torcedores ‘xeneizes’.

Paixão exacerbada
Os argentinos, assim como nós, brasileiros, são apaixonados por futebol, mas admito que são bem mais intensos e sabem como externar melhor este sentimento, seja pelo clube do coração ou pela seleção de seu país.

No caso específico do Boca, que diz ter 193 mil sócios-torcedores ativos, sua torcida faz mesmo a diferença na Bombonera, cujas instalações são modestas para a fama que possui, mas se torna um grande desafio à nossa imaginação supor o grau de sua influência pela algazarra dos 55 mil torcedores que se comprimem nas arquibancadas vibrando e cantando o tempo inteiro.

Encontrei um clima de decisão no ar, já que na próxima terça-feira (22) o Boca Juniores tentará reviver ali mais uma dessas façanhas épicas, coisas que o levaram a conquistar seis Libertadores e dezenas de títulos nacionais e internacionais.

Como perdeu o jogo de ida para o seu maior rival, o River Plate, por 2 x 0, agora terá que fazer três gols ou mais de diferença, para chegar a mais uma final de Libertadores, contra o Flamengo ou Grêmio, que fazem o confronto brasileiro.

FIM DE PAPO
Por medida de segurança, a polícia só permite torcida única nos clássicos entre Boca Juniors x River Plate, que dividem a preferência de 70% dos cidadãos do país. Todos os ingressos foram esgotados pelos sócios-torcedores do Boca Juniors, mas como acontece em todo lugar do mundo, os cambistas agem livremente em torno do La Bombonera, que fica no bairro Caminito, com fácil acesso por ônibus ou metrô. Quem estiver disposto a pagar R$ 2 mil por uma entrada que custa em média R$ 50, conseguirá ver e sentir as emoções do maior clássico argentino, um dos mais importantes do futebol mundial.

Com a economia em péssima situação, o peso argentino está muito desvalorizado em relação ao Real (1 x 14) e ao Dólar (1 x 60). A inflação de setembro fechou em 5,9%, índice superior ao previsto para este ano no Brasil (4,25%). A taxa de desemprego é 10,61%, a maior desde 2006, o que significa 1.961.840 pessoas sem ocupação, aumentando consideravelmente a miséria, constatada pela quantidade de argentinos morando nas ruas. No próximo dia 27, simultaneamente com eleições gerais, será realizado o primeiro turno da eleição presidencial onde o favorito é o candidato da oposição, o peronista Alberto Fernandez.

Tem sentido a fama da torcida “xeneize” (Boca) quando o time joga em La Bombonera. Desde a chegada ao estádio, a equipe visitante é submetida a uma pressão fenomenal, passando pela escolha estratégica da localização do vestiário, atrás de um dos gols e vizinho ao setor de arquibancada sem cadeiras, onde se alojam 6 mil “barra bravas”, que desde três horas antes da partida cantam e pulam sem parar.

No interior do vestiário estão expostas fotografias de ex-craques de vários países que por lá jogaram, entre eles apenas quatro brasileiros: Pelé, Ronaldo Fenômeno, Roberto Carlos e Neymar. Nas paredes, algumas frases antológicas em letras bem grandes exaltando a força da Bombonera para o Boca, com o claro objetivo de intimidar os adversários.

De Zico, a frase “La verdadera caldera es La Bombonera” (Um verdadeiro caldeirão é La Bombonera); Hernán Crespo: “Cuando dicen que tiembla, es verdad” (Quando dizem que treme, é verdade”; Lionel Messi: “Jugar en La Bombonera fue una experiencia hermosa” (Jogar em La Bombonera foi uma experiência maravilhosa”; Pelé: “Jamás sentí que sucediera un terremoto asi” (Nunca senti um terremoto como esse). A frase que mais chamou minha atenção foi a do baixinho Romário, que teria dito: “La Bombonera es lo más cercano al infierno” (La Bombonera é o mais próximo do inferno”. (Fecha o pano!).
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