20 de outubro, de 2019 | 08:00

Cálculo da inflação incluirá novos hábitos de consumo

Entre os itens adicionados à relação estão gastos com barbeiro e transporte por aplicativo

Wôlmer Ezequiel
As mudanças nos componentes da inflação atualizam os hábitos de consumo, despesas e renda das famíliasAs mudanças nos componentes da inflação atualizam os hábitos de consumo, despesas e renda das famílias

Dados divulgados pela Agência de Notícias do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) apontam que os produtos e serviços usados para medir a inflação oficial do país serão atualizados para acompanhar as mudanças nos hábitos de consumo da população. A partir de janeiro de 2020, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) vai pesquisar a variação nos preços de 56 novos elementos. Alguns saem da relação e outros serão incluídos, como gastos com barbeiro e transporte por aplicativo, serviço que tem sido muito utilizado pelos brasileiros.

Itens como açúcar demerara, cartório, tratamento de animas (clínica), serviço de higiene para animais, serviços de streaming (tecnologia que envia informações multimídia, por meio da transferência de dados) e conserto de bicicleta entram na lista. Já o CD e DVD, ingresso para jogo, revelação e cópia, assinatura de jornal e artigos ortopédicos, por exemplo, deixam a relação. Para o economista e professor da Faculdade Única, Fábio Mussi, o ajuste reflete o que está se tornando o consumo brasileiro.

“O índice em geral não vai ter tanta interferência na vida da população, porque a inflação já está aí. Muitas vezes a gente não consegue observá-la, porque esses elementos, principalmente como streaming e os aplicativos de transporte, que tem tomado espaço no mercado. Vamos ter um acréscimo em termos de valor, o índice pode sim variar para cima, mas acredito que a vida da população continua da mesma forma”, avalia.

Bruna Lage/Arquivo
Para Fábio Mussi, o que irá ocorrer é um ajuste do índice para enquadrar dentro do real consumo da população Para Fábio Mussi, o que irá ocorrer é um ajuste do índice para enquadrar dentro do real consumo da população
Fábio Mussi acrescenta que a economia tem girado de forma não tão favorável às pessoas de baixa renda. “Temos visto cada vez mais a concentração de renda no Brasil. A população tem que tomar cuidado em relação aos recursos que vão entrar no fim do ano, principalmente em relação ao saque do fundo de garantia (FGTS) e também ao 13º salário. É importante procurar quitar as dívidas que porventura tenha, ou se não tiver, guardar esse dinheiro para algum imprevisto que possa ocorrer no próximo ano. Sobre 2020, ainda temos várias dúvidas do que poderá ocorrer. Estamos muito inseguros em relação à parte política e econômica, e uma interfere diretamente na outra. Mas acredito que não vamos ter uma melhora tão grande do quadro atual. O índice de inflação projetado é bem próximo ao que temos hoje. A variação do dólar está grande e essa inconstância política acaba influenciando diretamente a economia do próximo ano”, vislumbra.

Atualização

O geógrafo e pesquisador William Passos salienta que as mudanças periódicas dos hábitos de consumo dos brasileiros fazem com que o IBGE atualize, constantemente, a cesta de serviços utilizada como base para o cálculo da inflação oficial. Isso como forma de aproximar essa cesta, que consiste numa média matemática de produtos e serviços consumidos pelas famílias, da realidade dos brasileiros. “Importante destacar, porém, que as inflações oficiais são calculadas com base num conjunto de produtos e serviços, estabelecidos por convenção estatística internacional e também utilizados por outros institutos de estatística no exterior. É o que permite a comparação da inflação entre diferentes países. A inflação é a subida generalizada dos preços de uma economia, por contágio, e não o reajuste individualizado de apenas alguns preços. A inflação oficial é sempre uma média estatística, não correspondendo exatamente aos dados individuais dos consumidores e das famílias”.

Mudanças

As modificações nos componentes da inflação têm como base os resultados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2017-2018, que atualizou os hábitos de consumo, despesas e renda das famílias. Com 377 produtos e serviços, a nova estrutura de ponderação do IPCA traz seis subitens a menos que no modelo atual, baseado na POF 2008-2009, e em vigor desde janeiro de 2012. O IPCA reflete a cesta de consumo das famílias com rendimento mensal de um a 40 salários mínimos e abrange dez regiões metropolitanas do país, além dos municípios de Goiânia, Campo Grande, Rio Branco, São Luís, Aracaju e Brasília.

Uma alteração está no peso do grupo transportes do IPCA, que pela primeira vez será o principal componente da inflação, com 20,8% do indicador, apesar de reduzir sua representação, que era de 22%. O grupo superou alimentação e bebidas, que diminuiu a participação de 22% para cerca de 19%. Conforme divulgado pelo IBGE, houve redução no peso do transporte público, que passou de 4,50% para 3,16%. Adicionalmente, foram incorporados bilhetes de integração de transporte público (0,07%) e transporte por aplicativo (0,21%). Também nesse grupo, o peso de 11,66% do veículo próprio indica o comprometimento dos orçamentos das famílias com produtos e serviços como emplacamento, seguro e estacionamento.

Já o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que calcula a inflação das famílias com rendimento de um a cinco salários mínimos, seguiu com alimentação e bebida como o grupo de maior peso, porém reduzindo sua participação de 27,3% para cerca de 21,5%. Diferentemente do IPCA, transportes teve ganho de participação de cerca de 1,8 ponto percentual, chegando a 20%. (Repórter - Bruna Lage)


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