17 de outubro, de 2019 | 10:00
Pesquisa desenvolvida em Ipatinga será publicada em revista internacional
Mapa da Mina, fruto da parceria entre Ministério Público e Instituto Interagir, tem mapeado e monitorado nascentes
Divulgação
O projeto Mapa da Mina tem monitorado a vasão hidrológica em dez pontos, dentro da bacia hidrográfica do ribeirão Ipanema
O projeto Mapa da Mina tem monitorado a vasão hidrológica em dez pontos, dentro da bacia hidrográfica do ribeirão IpanemaO trabalho desenvolvido por profissionais na área ambiental, em Ipatinga, será publicado na revista acadêmica Modern Environmental Science And Engineering, dos Estados Unidos. O projeto Mapa da Mina tem monitorado a vasão hidrológica em dez pontos, dentro da bacia hidrográfica do ribeirão Ipanema. Tais dados foram apresentamos num Congresso Brasileiro de Ecologia, no mês passado, gerando reconhecimento e o convite para a divulgação internacional, como explicam as biólogas Rebeca Ferreira e Luciana Alvarenga, ao lado do geógrafo Alessandro de Sá.
O pesquisador destaca que o Mapa da Mina é fruto de uma parceria entre Ministério Público (MP) e Instituto Interagir. Ele relata que no Brasil, atualmente, desenvolver pesquisas é difícil e o projeto só é possível em razão do apoio do MP de Ipatinga e do promotor de Justiça Rafael Pureza. Isso dentro da plataforma Semente, de desenvolvimento de projetos socioambientais, vinculado ao órgão. No ano de 2017, quando começamos o trabalho de monitorar a vazão, o projeto passou a ter uma metodologia científica, reconhecida por um ambiente acadêmico, o que possibilitou contratar alunos do curso de Biologia para acompanhar tal aplicação. As biólogas Luciana e Rebeca fazem parte desse estudo, que faz medições a cada três meses, em dez pontos. São os principais córregos que contribuem para formar o ribeirão Ipanema”, explica.
O geógrafo avalia o reconhecimento para o Instituto Interagir e para o programa Mapa da Mina, como importante, pois mostra a transparência e a aplicação correta de uma metodologia. O trabalho foi sabatinado e conferido por doutores da área e teve essa contemplação. Muitos foram apresentados, milhares projetos, mas poucos escolhidos para receber esse convite de estar na revista Modern, que circula entre toda a comunidade acadêmica internacional. Nosso projeto tem resultado e ficamos felizes por ter sido aceito no Congresso e depois o convite para a publicação”, celebra.
Tal divulgação vem para somar força à proposta do trabalho. Porque um dos principais objetivos de medir e monitorar a vazão hidrológica é conhecer qual o volume de água superficial que o território de um município possui. Qual a quantidade de água que Ipatinga está produzindo? Essa quantidade é suficiente para abastecer a cidade? Ela é suficiente para um plano B, caso o Rio Piracicaba venha a ficar com algum problema, receber algum rompimento de barragem? Será que consegue abastecer a uma população de 265 mil habitantes e indústrias? É um estudo pioneiro dentro do município, com reconhecimento acadêmico e metodologia correta para aplicação dos trabalhos. Sabemos que alguns fatores influenciam na vazão de uma nascente, e os dois principais que o projeto vem estudando são o uso do solo nessas sub-bacias nas comunidades rurais, onde estão grande parta das principais nascentes do ribeirão Ipanema e as questões climáticas. Quando tem a chuva, o solo não está preparado para receber essa água, para fazer com que ela infiltre para abastecer o lençol freático, as nascentes e os cursos dágua. O projeto vem comprovando isso, por meio desses dados”, aponta Alessandro.
Balanço
Desde o início do estudo, no território de Ipatinga, que é de 165,5 quilômetros quadrados, Alessandro de Sá identificou, juntamente à equipe, que a situação da água subterrânea do município traz um alarme para todos. Observamos a verticalização e a densidade urbana. Praticamente 99% da população mora na área urbana. Muitas residências e empresas estão utilizando da água subterrânea para abastecimento e essa é uma forma de manter a cidade, mas não se tem o controle necessário para isso. Para abastecer Ipatinga há duas ou três décadas, utilizava-se a produção do ribeirão Ipanema. Depois, quando foram feitos postos profundos, margeando o Piracicaba no bairro Amaro Lanari, foi feito uma central de abastecimento para Ipatinga, Coronel Fabriciano e Timóteo. E aqui foi abandonado. Os estudos apontam que, caso Ipatinga precise de água do seu território para a cidade, entrará em colapso”, afirma.
O especialista salienta que se houver rompimento das barragens e contaminação do subsolo, onde é feita a captação dessas águas, Ipatinga para. É necessário estudo e intervenções na Área de Proteção Ambiental Ipanema (APA). Por isso o projeto Mapa da Mina é de continuidade, aonde estuda cada nascente em sua característica e propõe a melhor intervenção para recuperá-las. Além de proteger e recuperar nascentes, estudamos a quantidade de água que é produzida superficialmente, porque quanto mais dados, melhor para determinar intervenções positivas e que dê resultado mais rapidamente. Esse trabalho é contínuo e não tem uma previsão de fim”, acrescenta.
Alerta
Para Alessandro, o que mais chama a atenção é o uso inadequado do solo das comunidades rurais. A cada ano, o ribeirão Ipanema está menor, o que é possível constatar a olho nu. Alguns trechos têm menos de 15 cm de lâmina dagua. A gestão pública municipal tem que fazer intervenções sérias, assim como o MP e a sociedade deve cobrar. Hoje, a chuva que costuma cair ao longo de três ou quatro dias, dura apenas três horas. É nesse momento, quando temos um índice de chuva de 20 ou 30 milímetros, que o solo tem de estar preparado para receber e infiltrar. Segundo estudiosos, de 60% a 70% da chuva numa área de mata, infiltra-se por meio das raízes e abastece o lençol freático. Numa área onde foram feitos desmatamentos e queimadas, menos de 10% infiltram-se. Então, se o uso do solo das nossas comunidades rurais é predominantemente de pastagem, da água de chuva que está caindo ali, menos de 10% infiltram e o restante desce, provoca processos erosivos, assoreamento dos cursos dágua e essa água vai embora numa cheia que o ribeirão Ipanema tem, vai até o rio Doce e vai embora. Não fica no subsolo”, lamenta o geógrafo.
O ponto positivo destacado por Alessandro é que a pesquisa e as informações são disponibilizadas para a sociedade e agrupadas com outros dados, e irão subsidiar políticas públicas para a ocupação dessas áreas, de forma mais adequada. Porque água é desenvolvimento. Compreendemos a necessidade de desenvolvimento do meio rural, mas tem de ser de forma sustentável. O proprietário rural não quer ficar sem água, precisa dela para manter sua atividade. Então, são necessárias intervenções de gestão pública nesses territórios. Um dado positivo que o estudo está sendo feito e um alerta está sendo dado. Por isso é importante o reconhecimento do trabalho e essa publicação, que deve sair em breve na revista. É preciso chamar a atenção da sociedade e de uma força tarefa para recuperar áreas importantes e reabastecer essas nascentes”, conclui. (Repórter - Bruna Lage)
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Helmar
18 de outubro, 2019 | 20:26Tem que , urgentemente fazer uma limpeza no ribeirao ipanema, reirar lixos , e fazer blitz ecologica ao longo deste sofrido ribeirao.”
Vitor Baptista de Oliveira
17 de outubro, 2019 | 16:25É de suma importância o trabalho realizado pelos pesquisadores Alessandro de Sá, Luciana Alvarenga e Rebeca Ferreira. Tão importante quanto, é a publicação de tal pesquisa.
Parabéns a todos os envolvidos. Faço votos de muito sucesso!”
Cidrac Pereira de Moraes
17 de outubro, 2019 | 13:05Muito interesse, afinal trata-se de algo vital. Tomara que vá adiante tanto na pesquisa como na adoção de medidas preventivas.”