21 de setembro, de 2019 | 16:00
Governo precisa planejar melhor
Carlos Mingione *
Nos últimos anos, os brasileiros têm assistido a uma avalanche de notícias negativas vindas de todas as esferas governamentais. Já é de conhecimento de todos o grande número de obras paradas ou concluídas sem atender às necessidades inicialmente projetadas, além do desperdício de dinheiro público com pagamento por empreendimentos com custos acima dos previstos nos contratos os chamados aditivos -, e suspeita ou confirmação de corrupção. Levantamento do TCU (Tribunal de Contas da União) chega a apontar mais de 14 mil empreendimentos paralisados em contratos assinados apenas na esfera federal.A Operação Lava Jato é um dos exemplos que acompanhamos nos últimos anos, mostrando os meandros nefastos das contratações de obras e serviços públicos. Nela, figuram contratos suspeitos ou comprovadamente viciados, resultando em casos confirmados de corrupção, revelando o descontrole governamental na gestão desses empreendimentos. Alguns, inclusive, de pouco ou nenhum impacto para a melhoria da qualidade de vida da nossa população.
Os problemas expostos nos dias atuais mostram que a administração pública brasileira perdeu, há muito tempo, a prática de realizar um planejamento sistemático de suas políticas e ações para expansão e operação da infraestrutura nacional. Enfrentamos um momento de decisões adotadas de afogadilho, por dirigentes interessados apenas em marcar o mandato, correndo o risco de não entregar o prometido e postergando, muitas vezes, a entrega para o próximo governante, ou deixando contas que comprometem as administrações futuras.
O planejamento precisa ser adotado como uma ferramenta de política de Estado, independente do governo de plantão. Um bom planejamento necessita de planos periódicos, com embasamento técnico consistente, e que sejam instrumentos vivos, continuamente revisados e atualizados, que representem as demandas e anseios da sociedade e indiquem os meios para atendê-las.
O Brasil é extremamente complexo e com realidades e carências distintas. As necessidades de São Paulo geralmente são muito diferentes das demandas do Amazonas. O planejamento é um instrumento para entender essa complexidade brasileira. Nele, devem ser apontadas as prioridades regionais e os respectivos empreendimentos que possam atender às diversas demandas. Não pode ser apenas uma ideia que parte de um governante para responder ao seu eleitorado. O planejamento deve passar de um mandato para outro, como uma ferramenta governamental indispensável.
Por isso, o país precisa retomar o planejamento de curto, médio e longo prazo. Se continuarmos a dar passos hesitantes, como tem ocorrido, vamos aumentar ainda mais o déficit e as reivindicações da população brasileira.
* Engenheiro e presidente do Sinaenco (Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva)
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