12 de setembro, de 2019 | 16:00
O meio se move?
Jorge Normando Rodrigues *
O complexo demanda reducionismos e simplificações para ser compreendido. O Terço conservador de nossa sociedade, que media entre a reacionária extrema direita e o terço progressista, é o fiel da balança das grandes movimentações políticas. E nas últimas semanas alguns sinais podem estar a anunciar um abalo sísmico.Exemplo disso é a inédita aliança, noticiada a 7 de setembro, entre a indústria agropecuária, ONGs e indígenas, para exigir que Bolsonaro abandone a retórica antiambientalista e cumpra a lei na Amazônia. "Minima Moralia", diria Adorno, aquele que escrevia as letras dos Beatles.
E PUR SI MUOVE!
O furacão Doria tem pressa. Parece ter ouvido o conselho de FHC quanto à necessidade de diferenciação: "o inimigo é Bolsonaro!"
Doria esteve atento aos gritos de "Fascista!" recebidos por Witzel no sábado, dia 6, em dois eventos distintos, e ao episódio da censura medieval que uniu Crivella e o homofóbico presidente do TJRJ, Cláudio de Mello Tavares.
Doria, e seu parceiro Maia, sabem que suas chances não passam pela disputa do Terço reacionário, fidelizado às trevas. Por isso Maia significativamente não surgiu no palanque bolsonarista do 7 de setembro. Aliás, o presidente do STF, apesar de militarmente tutelado, também por lá não apareceu.
O LIBERAL HONESTO
Não, não é um oxímoro como "inteligência militar". Existe. Apenas é raro, e absolutamente destituído da capacidade de autocrítica. No domingo, 8 de setembro, Celso de Mello, o decano do Supremo, ataca:
A censura de Crivella se deu "sob o signo do retrocesso - cuja inspiração resulta das trevas que dominam o poder do estado, um novo e sombrio tempo se anuncia: o tempo da intolerância, da repressão ao pensamento, da interdição ostensiva ao pluralismo de ideias, e do repúdio ao princípio democrático"
"mentes retrógradas e cultoras do obscurantismo, e apologistas de uma sociedade distópica, erigem-se, por ilegítima autoproclamação, à inaceitável condição de sumos sacerdotes da ética e dos padrões morais e culturais que pretendem impor, com o apoio de seus acólitos, aos cidadãos da república".
Etimologicamente "acólito" é o "companheiro de viagem". É verdade que Celso de Melo não conduz o trem da barbárie que acertadamente ataca. Mas sua omissão foi decisiva para a viagem, e dele não desembarcou.
* Advogado. Graduado em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro
O bom senso na vida profissional
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