06 de setembro, de 2019 | 15:00

Dia da Pátria

Orani João Tempesta *

"No Dia da Pátria, para além das comemorações festivas, é um dever de todos refletir sobre os destinos que queremos a ela dar para a fazermos forte, soberana, respeitada no concerto das nações"

No dia 7 de setembro, de muitas formas e maneiras, procuramos comemorar o Dia da Independência, o Dia da Pátria! Vários tipos de celebração tornam clara a diversidade de enfoques e, ao mesmo tempo, os desejos de tempos melhores para todos.

O Dia da Pátria traz-nos à reflexão, de imediato, a memória dos acontecimentos ocorridos às margens do Ipiranga, em São Paulo, quando D. Pedro I, príncipe regente desde o retorno de seu pai, D. João VI, a Portugal, aconselhado pela Princesa D. Leopoldina e José Bonifácio, rasgou as cartas recebidas das Cortes de Lisboa, rompeu os laços que nos prendiam a Portugal e declarou a independência da nossa pátria. Logo depois, no dia 12, foi aclamado Rei do Brasil na Assembleia Paulista, seguindo-se a coroação na capital do Império, para onde retornou. Brasileiros consolidaram o grito do Ipiranga até a vitória total sobre o colonizador, expulso da Bahia.

Com o domínio do território, assentavam-se as bases da nova nação, que tinha por meta a soberania e a liberdade do seu povo, a construção de um novo país. Não podemos relegar o passado. As lutas e os fracassos fazem parte da história, o esforço contínuo das gerações para atingirmos o estágio atual.

Nada se faz por um grito. Ele apenas inicia um élan determinado, de levá-lo avante até a sua concretização. “Liberdade ou morte”, ainda ecoa em nossos ouvidos, repetido diuturnamente pelas quebradas das montanhas, nas planícies e planaltos desta terra fértil e generosa que tem a consciência de ser o celeiro do mundo.

Na Constituição atual, a Carta Magna de 1988, o povo brasileiro expressou seus ideais de formação da Pátria no mundo e na cultura, reafirmando os princípios fundamentais da soberania, da cidadania, da dignidade da pessoa humana, ao mesmo tempo em que se garante o valor do trabalho e da livre iniciativa, com o pluralismo político.

Este alicerce da nacionalidade expressa a ordem moral de respeito à vida, à verdade, à justiça e à liberdade. Sem que se acatem estes valores não há sociedade que possa subsistir. Toda a organização social subsequente tem de se pautar nestes objetivos, na construção de institutos, leis e regulamentos, em procedimentos que levem à satisfação do anseio pessoal e social pelo crescimento e pela paz.

A vida é o maior dom de Deus. Eis porque a ordem social tem por primordial dever assegurar a vida. Vemos e sentimos a desordem que traz a falta de uma política de segurança, embora nem todos estejamos conscientes dos assassinatos que se perpetram no interior dos lares, de clínicas e hospitais, onde se deveria salvar vidas. Desrespeita-se a vida pelo prazer momentâneo. É triste saber que há matadores rofissionais a serviço da ganância, da vingança e do ódio.

A justiça, que muito mais do que dar a cada um o que é seu, é também assegurar um mínimo de sobrevivência material e cultural a todo o grupo social para que ele possa crescer. A ordem econômica respeitar a verdade, numa política sadia de disposição dos bens materiais a serviço de todos. A liberdade pela qual possamos nos expressar e viver como entes dotados de razão e capacidade em comunhão com toda a comunidade, a quem reconhecemos o direito de divergir.

A verdade. Aquilo que é, sem subterfúgios que se esvaem para a mentira e destroem a crença num sistema, numa atitude. Só a verdade nos liberta. A consciência nacional destes valores e a luta para concretizá-los é o caminho que devemos trilhar para nos conduzir a uma pátria forte, digna dos que no passado trabalharam pelos mesmos ideais.

No Dia da Pátria, para além das comemorações festivas, é um dever de todos refletir sobre os destinos que queremos a ela dar para a fazermos forte, soberana, respeitada no concerto das nações. Pátria de um grande povo, generoso e acolhedor, como foi na sua história e que trabalha e luta, através da justiça, pela paz.

* Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro
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