20 de agosto, de 2019 | 15:00

O comedor de pimentas

Rodrigo Alves de Carvalho *

Talvez você não conheça o Genivaldo, mas ele foi uma pessoa bastante famosa. Foi. sem dúvida, uma celebridade no sofisticado e quente mundo das pimentas. Desde muito jovem, Genivaldo se acostumou a comer pimentas lá na roça. “Tinha um pé de comari ao lado de minha casinha e desde pequenino eu ficava comendo sem fazer careta”, contou ele.

Após seu padrasto observar que o menino comia pimenta sem sair desesperado querendo tomar água, resolveu levá-lo ao Boteco do Durvalino para que comesse as famosas pimentas ao óleo. “Comi todas as pimentas do seu Durvalino e o pessoal ficou espantado porque eu falava que não estavam ardendo nada”, comentou.

Patrocinado por um taxista da cidade, Genivaldo participou de sua primeira competição de comer pimenta na capital mineira e não decepcionou, vencendo o torneio e tornando-se campeão estadual. “Comi pimenta malagueta, dedo-de-moça e tabasco, e nem saiu uma gotinha de lágrima dos meus olhos, enquanto que houve gente que acabou sendo internada, de tanto que sofria com a ardência”, falou Genivaldo.

O próximo passo para o apreciador de pimentas era o Campeonato Nacional que aconteceria no Rio de Janeiro. “Nunca vi tanta água num lugar só e nem tanta moça bonita”, suspirou o tímido e acanhado rapaz. Sua estadia na Cidade Maravilhosa não foi somente para ver o mar e garotas. Genivaldo fez bonito no campeonato e se tornou campeão brasileiro em comer pimentas.

Já com certa fama, Genivaldo queria galgar fama ainda mais longe e sua meta era a Inglaterra, no famosíssimo Campeonato Mundial dos Comedores de Pimentas. “Quando cheguei à Inglaterra passei muito frio, porque não levei blusa”, confidenciou Genivaldo.

O Campeonato Mundial reunia competidores vindos do mundo todo, mexicanos, indianos, americanos e muitas outras nacionalidades, entre eles o bravo e compenetrado Genivaldo. Foi uma disputa acirrada, com todos comendo as pimentas mais ardidas dos quatro continentes. Na final teriam que comer a pimenta das pimentas, a qual só de olhar já fazia as lágrimas correrem, a temível pimenta Carolina Reaper. E para surpresa de todos, Genivaldo comeu a pimenta mais ardida do mundo tal como quem come um doce.

Campeão do mundo e famoso, Genivaldo poderia mais e com certeza chegaria mais longe, mas numa fatalidade do destino, sua carreira foi interrompida drasticamente e ele nunca mais competiu. “Tive que parar de comer pimenta porque passei a sofrer de hemorroidas”, finalizou o triste Genivaldo.

* Jornalista, escritor e poeta nascido em Jacutinga (MG), com prêmios literários em vários estados e participação em importantes coletâneas de poesia, contos e crônicas. Em 2018 lançou seu primeiro livro, “Contos Colhidos” pela editora Clube de Autores.
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