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09 de agosto, de 2019 | 16:30

A guerra comercial e o Brasil

Stejan Salej *

Estamos no meio de uma guerra comercial que se espalha pelo mundo e chegou nestes dias com toda a artilharia disparando seus tiros no Brasil. E um dos foguetes disparados atingiu as asas do acordo entre o Mercosul e a União Europeia, tão celebrado ainda dias atrás. Aliás, a pergunta é se o tiro foi fatal e o acordo morreu, ou se só atingiu o voo inicial do avião chamado acordo.

O fato é que os europeus, que neste momento enfrentam um calor infernal nas suas praias e na política, com o novo Primeiro Ministro britânico, a saída da Ângela Merkel do governo da Alemanha, a mudança da equipe da União Europeia e do Banco Central, não têm muito tato ao tratar com latino-americanos em geral e, em especial, com o Brasil. A insistência em que o acordo, ora em exame jurídico e ainda não assinado pelos presidentes dos países e pela Comissão da UE, só será validado se o Brasil cumprir o acordo climático de Paris, deu ao Brasil uma brecha para procurar outras alternativas, sob pressão. Chegou-se a um acordo possível, que está longe de ser excelente. O Brasil cedeu muito para fazer o acordo. E aí, chamar fora do acordo o Brasil para cumprir o que está cumprindo, ou mais do que o acordado, foi esticar a corda de forma inaceitável.

O episódio com o Chanceler da França, não recebido pelo Presidente Bolsonaro, que foi cortar ostensivamente cabelo dizendo que não tinha agenda, foi um sinal claro, mas não lido pelos europeus, de que o Brasil não vai se deixar amedrontar com ameaças francesas sobre a Amazônia e o meio ambiente. À medida que a pressão europeia crescia, especialmente a da Alemanha, com seu Partido Verde, que hoje tem muita força no Parlamento Europeu, a resposta brasileira também foi crescendo de tom. A agressiva ação europeia provocou a reação agressiva brasileira.

Mas aí os europeus avaliaram muito mal as opções que o Brasil tem. Na mesma semana da visita do Chanceler francês, veio ao Brasil o Secretário de Comércio dos Estados Unidos, Wilbur Ross. E os americanos, que veem no acordo entre o Mercosul e a UE uma real ameaça aos seus negócios na região, aproveitaram a janela de oportunidade para oferecer uma real possibilidade de fazer acordo entre o Mercosul e os Estados Unidos. Foram perfeitos: aceitaram Eduardo Bolsonaro como Embaixador nos EUA, cumpriram a promessa de abrir as portas da OTAN para o Brasil, disseram que o acordo com a UE prejudica o acordo com os Estados Unidos e mais algumas coisas que não sabemos.

Trump precisa de um acordo comercial novo e bom antes das eleições, e Bolsonaro, que não aguenta os ataques europeus, amigo do Trump e de sua política, deu essa chance. O acordo com os Estados Unidos, nosso maior concorrente no agronegócio, será menos estressante na área de meio ambiente e agrícola que o acordo com os europeus. E decerto não vai ter oposição da Argentina, onde, se Macri não for eleito, dificilmente o acordo com os europeus será aceito pelo novo governo. E se for reeleito, os EUA têm força para impor a sua vontade a uma Argentina enfraquecida.

O acordo com a UE entra no banho-maria, o governo brasileiro não tem nenhuma pressa de ratificar e o acordo com os EUA entra em fast track, linha rápida, para ser negociado. Se os europeus baixarem as exigências e entenderem que governo Bolsonaro é o que é, ainda pode haver acordo.

Senão, haverá acordo só com os EUA, talvez com o Japão, Coréia do Sul, Canadá e CEFTA. O que, diga-se de passagem, já é bastante para o Brasil.
Jogou se o jogo dos profissionais.

* Vice-Presidente do Conselho do Comercio Exterior da FIESP. Coordenador adjunto do Grupo de acompanhamento de conjuntura internacional da USP.

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