29 de julho, de 2019 | 15:30
Ruth de Souza, 98 anos - seu pioneirismo e talento
A arte brasileira viu partir no domingo (28) um de seus maiores nomes: Ruth Pinto de Souza, 98 anos, nacionalmente conhecida como Ruth de Souza, atriz do cinema, teatro e da televisão, mas, conforme ela própria dizia, a maior paixão era a Sétima Arte, e isto desde que sua mãe, Alaíde Pinto de Souza, a levou para assistir ao filme Tarzan, o filho da selva, com Johnny Weissmuller, no papel principal.Filha primogênita de Sebastião Joaquim de Souza e Alaíde, era carioca de Engenho de Dentro, mas cedo foi com a família para o interior de Minas Gerais; ainda contava nove anos de idade quando, falecendo o pai, voltou para o Rio de Janeiro, morando em Copacabana, onde a mãe lavava roupas para sustentar a família. Embora as vicissitudes da vida, Ruth viria a se tornar a primeira dama negra nas artes, tanto foram o seu talento, pioneirismo e elegância no palco, na telona e o sucesso que fez em telenovelas.
Faleceu no Centro de Tratamento Intensivo do Hospital Copa D”Or, no mesmo Rio de Janeiro onde, em junho último, recebeu o Troféu Magnífico Sem Fronteiras”, na Categoria Arte, evento de lançamento da Coletânea A arte de ser mulher - Prosa Feminina”, organizada pela Editora Rede Sem Fronteiras, obra na qual a atriz assinou a orelha. E de fato foram magníficos os trabalhos desenvolvidos por essa atriz que, durante um ano, estudou teatro nos Estados Unidos, e que, ao retornar ao Brasil, estreou no cinema, em Terra violenta, adaptado de Terras do sem fim”, de Jorge Amado, sendo indicada pelo escritor para o papel. Prosseguiu firme a caminhada, alçando voos também noutros espaços da arte.
Divulgação/TV Globo
Ruth de Souza fez história e foi decisiva para o reconhecimento do artista negro no Brasil
Ruth de Souza fez história e foi decisiva para o reconhecimento do artista negro no BrasilQuem não se lembra de atuações brilhantes da Primeira Dama Negra brasileira nas artes, em sua atuação na novela Sinhá moça, fazendo par com o seu amigo de toda vida, o ator Grande Otelo, ambos no papel de escravos e parecendo enlouquecidos, encantando telespectadores? A partir de Sinhá moça, ela se tornou a primeira atriz brasileira a receber indicação em um festival de cinema internacional, o Leão de Ouro”, Festival de Veneza em 1954.
De suas numerosas participações como atriz, cumpre registrar algo curioso relacionado ao filme O assalto ao trem pagador, no qual a protagonista foi Luiza Maranhão, sendo Ruth a coadjuvante como amante do personagem Tião Medonho, o líder dos favelados autores do dito assalto ao citado trem pagador. Como registrado nas extras de um DVD em 2003, Ruth contou que optou por transformar a amante de Tião Medonho numa Segunda esposa”, emprestando-lhe doçura e dignidade. Outros títulos ainda nos lembram as atuações de Ruth de Souza, a exemplo de Réquiem para uma Negra; Quarto de despejo; O bem-amado, A cabana do pai Tomás, Carolina de Jesus.
Primeira atriz brasileira negra, a atuar no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, com sua força dramática, fantástica memória e talento inenarrável, Ruth de Souza tornou-se inspiração e referência para muitos outros atores, como Cacau Protásio, Lázaro Ramos e Camila Pitanga. A respeito, a atriz Taís Araújo destacou: Ruth de Souza me fez acreditar ser possível ser atriz neste país que pode ser tão cruel a nós negros (...)”.
Vividos 98 anos, Ruth de Souza é testemunho inconteste de mulher que marcou gerações e deixou exemplos de força e coragem, e, para alegria das artes, escolheu esse campo para registrar seu talento.
* Professora e jornalista, autora de obras em vários gêneros literários, dentre elas os romances Um conflito no amor, Aconteceu no cárcere, Tempo de saudade, No acerto dos bondes e Doce complicação. [email protected] / www.margaridadrumond,com
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