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03 de julho, de 2019 | 09:00

Belo Oriente é o município que mais gerou emprego no Vale do Aço em 2019

No período, Ipatinga teve 185 pessoas contratadas, registrando 60.541 empregos formais em janeiro e 60.726 em maio

Pedro Ventura Agência Brasília
Dados apresentam variação de emprego formal celetista na região Dados apresentam variação de emprego formal celetista na região

O geógrafo e doutorando em Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), William Souza Passos, forneceu ao Diário do Aço dados sobre a variação do emprego formal celetista (cuja relação de emprego é regida pela CLT, com benefícios e carteira profissional assinada) no Vale do Aço, neste ano. Conforme explicou, os dados de estoque de empregos formais do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) não são divulgados para o público em geral. Somente pesquisadores têm acesso.

Além das cidades que integram a Região Metropolitana do Vale do Aço (RMVA), estão incluídos dados a respeito de Belo Oriente, por ser a sede da Cenibra e inserida entre as cidades do Colar Metropolitano. Em estudo recente, de sua autoria, o geógrafo sugere a inclusão de Belo Oriente na RMVA, por sediar um dos braços do parque industrial da região. De janeiro a maio, entre os municípios de Ipatinga, Coronel Fabriciano, Santana do Paraíso, Belo Oriente e Timóteo, este último apresentou saldo inferior aos demais.

No período, Ipatinga teve 185 pessoas contratadas, registrando 60.541 empregos formais em janeiro e 60.726 em maio. Fabriciano também apresentou saldo positivo: foram 137 empregos (janeiro 13.180 – maio 13.317). Paraíso, que em janeiro contratou 3.799 trabalhadores, apresentou em maio 100 admitidos a mais que demitidos, totalizando 3.899 empregos. Já Belo Oriente, que para o geógrafo integraria informalmente a RMVA, foi a cidade que apresentou melhor resultado: geração, em janeiro, de 6.322 empregos com carteira assinada, número que passou para 6.625 em maio. Por outro lado, como quadro negativo, aparece Timóteo, que teve 227 demissões no período (o total de pessoas com carteira assinada no município caiu de 15.390 trabalhadores em janeiro para 15.163 em maio). As informações são do Observatório das Metropolizações, do geógrafo William Passos, extraídos do Caged/Ministério da Economia.

Oportunidades
De acordo com os dados, Belo Oriente é o município que mais tem produzido oportunidade de trabalho. William Passos destaca que a região vem gerando emprego num ritmo lento, mas ainda assim positivo. Em maio, o mercado de trabalho celetista no Vale do Aço somou mais de 93 mil pessoas (quase 100 mil pessoas com a inclusão de Belo Oriente). Ele aponta que a metropolização consiste na difusão de características metropolitanas sobre o espaço geográfico, independentemente desses espaços terem ou não natureza metropolitana. “Comecei a estudar a metropolização brasileira em 2017, com foco na região Sudeste, passando a acompanhar o comportamento socioeconômico das áreas selecionadas. No ano passado, identifiquei o Vale do Aço como a principal metropolização de interior no Sudeste fora do Estado de São Paulo. Por isso, passei a incluí-lo nas minhas observações”, recorda.

Para ele, há um excesso de atenção sobre Ipatinga e invisibilização de Belo Oriente, que apresenta um peso importante para a economia regional. “A região não percebe que o Vale do Aço não é só Ipatinga e que Belo Oriente é um fragmento importante da região, tão importante quanto os quatro municípios metropolitanos. Cada um cumpre um papel no espaço regional: Ipatinga tem a Usiminas, Timóteo a Aperam, Fabriciano o Unileste e Paraíso, o aeroporto. Belo Oriente tem a Cenibra. Claro que no meio de tudo isso tem Ipatinga contribuindo com faculdades, municípios com papel de dormitório, o próprio Shopping Vale do Aço, que é um equipamento regional importante de caráter metropolitano”, salienta William.

Timóteo
Questionado sobre o porquê do quadro negativo em relação a Timóteo, o pesquisador avalia que o município vive os efeitos de uma situação momentânea. “A indústria de transformação demitiu 95 pessoas a mais do que contratou, e o comércio demitiu 166 pessoas a mais. Os outros municípios da região passaram por situação semelhante há pouco tempo. Agora é a vez de Timóteo vivenciar esse ajuste. É o segundo maior mercado de trabalho regional. Gerou mais de 15 mil empregos em maio, atrás somente de Ipatinga”, contextualiza.

O pesquisador pondera que comparações são sempre muito difíceis, porque cada região é um caso bastante particular. “Prefiro, em vez de comparar, dizer que o Vale do Aço tem potencial para gerar muito mais empregos e de melhor qualidade, com melhor remuneração. No passado, a indústria da região pagava melhores salários. Pessoas de diferentes lugares do país eram atraídas. A perda de dinamismo gerada pela abertura da economia brasileira e a privatização da Usiminas nos anos 1990, infelizmente, impactou negativamente”, lamenta.

Considerando que o Vale do Aço é uma região de interior, com uma distância significativa em relação à metrópole mais próxima, que é Belo Horizonte, proporcionalmente ao tamanho da própria população (cerca de 500 mil habitantes), o Vale do Aço tem uma geração de emprego muito mais satisfatória que o de muitas regiões do Brasil.
“Hoje o mercado de trabalho celetista (considerando só aquele com carteira assinada) dos quatro municípios da região metropolitana é de pouco mais de 93 mil empregos formais. Os servidores públicos (municipais, estaduais e federais) não estão incluídos nessa conta. Mas, repito, a geração de emprego poderia ser mais satisfatória”, alerta.

Dados
Dados estatísticos oficiais normalmente não são divulgados em sua totalidade. William explica que há o conjunto de dados que é aberto à sociedade, aquele que é disponibilizado somente aos especialistas e aquele que é mantido em sigilo para preservar a identidade das pessoas e empresas. “No caso dos dados desta matéria, não estão disponíveis em totalidade por uma estratégia equivocada do governo federal, a meu ver. Em governos anteriores, essas informações estavam disponíveis a qualquer cidadão. Talvez uma explicação seja o fato de o governo atual não valorizar tanto as estatísticas oficiais e não pautar as próprias ações nesses dados. Instituições de credibilidade internacional, como a Fiocruz e até mesmo o IBGE, que realiza o maior censo demográfico do planeta, foram alvo de ataques de autoridades recentemente, sob a forma de declarações verbais. Há o predomínio de uma mentalidade que deveria estar superada”, frisa.

O estudioso acrescenta que é importante destacar que muito do comportamento do mercado de trabalho regional é consequência da crise que o país e o estado vivem. A economia está deprimida e a procura por trabalho (a taxa de desocupação do IBGE que vulgarmente é chamada de taxa de desemprego) retornou aos níveis dos anos 1990. Para os jovens até 24 anos a situação é ainda mais dramática. A pobreza também voltou a subir. Todo este cenário impacta na região. Ou seja, a culpa não é dos prefeitos, como as pessoas pensam.

“Mas é possível a adoção de medidas, pelas prefeituras, para amenizar esta situação e ajudar um pouco na geração de empregos. Uma delas pode ser programas voltados ao microcrédito, ao fortalecimento do empreendedorismo e ao apoio do microempreendedorismo informal, que são os ambulantes, por exemplo. Outra pode ser o fortalecimento de políticas e programas sociais que protejam a população mais vulnerável, possibilitando, ao mesmo tempo, o aumento do consumo no comércio local. Políticas voltadas à construção civil, que dificilmente são adotadas por governos locais no Brasil, também podem ser uma saída. Obra aquece o comércio da construção civil e gera emprego e renda, mesmo que informal. Essa renda, por sua vez, é convertida em consumo no supermercado, no hortifrúti e na padaria, criando demanda e dinamizando a economia local”, conclui o pesquisador.

(Bruna Lage)
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